Cultura Música

Em 1991, Nirvana, R.E.M., U2, Metallica e RHCP mudaram o rock

De Pearl Jam a Michael Jackson, seleção de 10 discos apresenta obras que completam 30 anos e, na época, representaram o sucesso de uns e a reinvenção de outros
Colagem com detalhes das capas de discos de Red Hot Chili Peppers, Nirvana e Michael Jackson Foto: Arte sobre reproduções
Colagem com detalhes das capas de discos de Red Hot Chili Peppers, Nirvana e Michael Jackson Foto: Arte sobre reproduções

RIO - Nirvana , R.E.M. , U2 , Metallica, Guns N’Roses, Red Hot Chili Peppers , Michael Jackson, 2Pac... O ano de 1991 foi aquele em que cultuados artistas do underground enfim chegaram ao sucesso; em que outros, já grandes, reinventaram-se; e aquele em que algumas sensações apareceram do nada e que a indústria musical mundial, como um todo, acabou se fartando. Chega-se a 2021, e não faltam discos marcantes, muitos deles elevados pelo tempo à condição de clássicos, completando 30 anos.

— Apresentei videoclipes de todos esses discos na MTV — gaba-se o VJ e escritor Luiz Thunderbird , que à época era o titular do “Ponto Zero”, programa de lançamentos do canal.

Psicologia pop: O que as músicas dos cantores do 'BBB21' podem revelar sobre suas personalidades

Ele conta que nunca ligou para o Metallica, que Guns N’Roses também não fazia do seu cardápio e, entre o Pearl Jam e o Nirvana, era “muito mais o Nirvana”.

— O “Nevermind” é um disco que mudou os rumos da música no mundo. Eu o ouvi antes de ele ser lançado, para apresentar o clipe de “Smells like teen spirit”, e fiquei muito impressionado. Todos os dias, durante pelo menos um mês, eu acordava e ouvia o disco inteiro.

Eterno retorno: Anos 1980 ganham novo revival (sim, mais um) e mostram sua força em séries, filmes e músicas

DJ das principais pistas de rock do Rio em 1991, Edson Cerqueira, o Edinho, recorda-se bem como o gênero se projetou naquele ano (com o pop e o hip hop correndo por fora, mas não muito longe).

— Acho que 1991 foi um ano tão marcante quanto, digamos, 1977, pelo fato de o rock estar muito inserido dentro do mainstream. Você tem discos essenciais, que muitas vezes não foram os primeiros lançamentos das bandas, mas que apresentaram esses grupos ao grande público — lembra. — Só não tinha a garotada da garagem, mas aí, palmas para o rock de Seattle, que trouxe essas bandas. E nada melhor que o Nirvana para exemplificar esse ano na música. Eles misturaram o punk e o hardcore com uma pegada melódica de Beatles.

Thunderbird também acalenta a memória de “Blood sugar sex magik”:

— É o melhor disco dos Red Hot Chili Peppers. Eu os encontrei um ano depois em Los Angeles, no Video Music Award, da MTV, e disse isso a eles. Mas eles só queriam saber de maconha brasileira...

Concertos para a juventude: Entenda por que 'Für Elise', de Beethoven, não merece o seu olhar de desprezo

Já Edinho celebra “Achtung baby”, o disco da transformação do U2 (“todo mundo estava achando que eles tinham virado uma banda de arena, aí eles viraram as costas para o sucesso e resolveram experimentar”). E cita tantos outros — como “Leisure”, a estreia do Blur, estrela do Britpop — que ficaram de fora da lista de discos marcantes selecionados por O GLOBO.

— Não digo que aquele tenha sido o último grande ano do rock, mas certamente foi o último suspiro da indústria do rock — acredita o DJ.

“Out of time”, R.E.M. (12/3)

Capa do álbum "Out of time", do grupo R.E.M. Foto: Reprodução
Capa do álbum "Out of time", do grupo R.E.M. Foto: Reprodução

Uma canção de imensa força (“Losing my religion”, dissecada ano passado em emocionante episódio da série “Por trás daquele som, da Netflix) fez o mundo prestar atenção ao R.E.M.. Em seu sétimo álbum, o expoente do rock alternativo americano deu o salto na direção das massas – sem abdicar de seu enigmático romantismo (nas letras do vocalista Michael Stipe), mas com uma importante mudança sonora: o folk e o country, acústicos, ganharam mais espaço entre o rock de garagem, num disco que ainda deixou o alegre hit “Shinny happy people”.

“Metallica”, Metallica (12/8)

Capa do álbum "Metallica", do grupo Metallica Foto: Reprodução
Capa do álbum "Metallica", do grupo Metallica Foto: Reprodução

Com a ajuda de Bob Rock, produtor que trabalhara em discos de grande sucesso do hard rock, uma das bandas mais agressivas e pesadas de sua geração se transformou. Em seu quinto álbum, os americanos desaceleraram suas levadas, burilaram as melodias e ganharam som de rádio. Alguns fãs, horrorizados, desertaram do exército metallico. E outros milhões chegaram, seduzidos por faixas como “Enter sandman”, “The unforgiven”, “Nothing else matters” e “Sad but true” – esta, a melhor tradução pop para a velha brutalidade do Metallica.

“Blood sugar sex magik”, Red Hot Chili Peppers (24/9)

Capa do álbum "Blood sugar sex magik", do grupo Red Hot Chili Peppers Foto: Reprodução
Capa do álbum "Blood sugar sex magik", do grupo Red Hot Chili Peppers Foto: Reprodução

Espevitado grupo californiano de funk-rock que assim como o R.E.M. e o Metallica há anos perigava abalroar o grande público, o RHCP fez tudo certo em seu quinto álbum. Sob a direção do produtor Rick Rubin, ele se livrou dos excessos de artificialismo e adrenalina dos discos anteriores e pôde se concentrar no aprimoramento de um balanço orgânico e na composição de canções. Assim, se tinha uma “Give it away” para abrir o caminho pela potência rítmica, o disco ainda contava com a radiofonia da terna “Under the bridge”.

“Nevermind”, Nirvana (24/9)

Capa do álbum "Nevermind", do grupo Nirvana Foto: Reprodução
Capa do álbum "Nevermind", do grupo Nirvana Foto: Reprodução

Mais uma vez um produtor (no caso, Butch Vig) muda os rumos de uma banda ao formatá-la no estúdio. Mas nada foi parecido com o que aconteceu ao Nirvana – então uma curiosidade do barulhento rock da cidade de Seattle – em seu segundo álbum. Incrivelmente violenta e pop, com partes calmas e outras gritadas, a faixa “Smells like teen spirit” arrombou os ouvidos do mundo para um novo som (o grunge) e revelou um cantor e compositor (Kurt Cobain) capaz de traduzir os conflitantes sentimentos de uma desprezada população jovem.

“Use your illusion I e II”, Guns N’Roses (17/9)

Capa do álbum "Use your illusion I", do grupo Guns N'Roses Foto: Reprodução
Capa do álbum "Use your illusion I", do grupo Guns N'Roses Foto: Reprodução

Banda saudada por salvar o rock de uma overdose de laquê, no auge das bandas do metal farofa, com o disco “Appetite for destruction” (1987), os Guns voltaram com ambições desmedidas (em boa parte, do vocalista Axl Rose): lançaram no mesmo dia dois volumes de um mesmo álbum, que juntos lotaram dois CDs (ou quatro LPs). Nas 30 faixas, a pegada punk do começo da carreira convive com o blues, o hard rock, a balada (“Don’t cry” foi hit) e até uma mini-ópera com indisfarçável odor de Queen (o também hit “November rain”).

Capa do álbum "Use your illusion II", do grupo Guns N'Roses Foto: Reprodução
Capa do álbum "Use your illusion II", do grupo Guns N'Roses Foto: Reprodução

“Achtung baby”, U2 (18/11)

Capa do álbum "Achtung baby", do grupo U2 Foto: Reprodução
Capa do álbum "Achtung baby", do grupo U2 Foto: Reprodução

O ano das mutações não poupou nem mesmo esse grande nome do rock dos anos 1980. Incomodado com as críticas ao filme/disco “Rattle and hum” (1988), que apontavam para uma banda a caminho da santidade, os irlandeses foram buscar no estúdio Hansa (em Berlim, onde David Bowie e Iggy Pop gravaram míticos discos) a inspiração para, como disse o produtor Brian Eno, “apagar tudo que soasse muito U2”. Deu num álbum cheio de cores e sombras, até meio malévolo, com as asperezas e ritmos do pop eletrônico em “The fly” e “Mysterious ways”.

“Ten”, Pearl Jam (27/8)

Capa do álbum "Ten", do grupo Pearl Jam Foto: Reprodução
Capa do álbum "Ten", do grupo Pearl Jam Foto: Reprodução

Nascido quando integrantes do Mother Love Bone (banda de Seattle destroçada pela overdose fatal do vocalista) conheceram um surfista-cantor californiano, o Pearl Jam estreou em álbum indo bem além do grunge. Os altos níveis de vitalidade e até um certo desespero que caracterizam o estilo estão lá, em alto e bom som, mas com um pé na grandiosidade do rock dos 1970. Mas o grande trunfo do grupo (que segue até hoje como um gigantes das arenas de show do mundo) se anunciava no canto de Eddie Vedder e no poder de canções como “Jeremy” e “Alive.

“Dangerous”, Michael Jackson (26/11)

Capa do álbum "Dangerous", do cantor Michael Jackson Foto: Reprodução
Capa do álbum "Dangerous", do cantor Michael Jackson Foto: Reprodução

Mesmo que nunca tenha conseguido superar o avassalador sucesso de “Thriller” (de 1982, o álbum mais vendido de todos os tempos), o Rei do Pop seguiria jogando pesado para triunfar. Sem a produção do seu midas Quincy Jones, Michael foi buscar em nomes como o do produtor Terry Lewis uma atualização para a sua música. E assim, fez seu último grande disco, renovando sua conexão com o rock no manifesto “Black or white”, mergulhando no moderno r&b em “Remember the time” e criando mais um clássico das light FMs: “Heal the world”.

“Screamadelica”, Primal Scream (23/9)

Capa do álbum "Screamadelica", do grupo Primal Scream Foto: Reprodução
Capa do álbum "Screamadelica", do grupo Primal Scream Foto: Reprodução

Em oposição aos americanos (que se fechavam cada vez mais no rock) e em curiosa (mas não surpreendente) consonância com o U2, o grupo escocês entrou em estúdio com a intenção de fazer o grande disco psicodélico do seu tempo. Movido a drogas, claro, mas com as guitarras deslocadas para um papel secundário: em seu lugar, entraram samples, efeitos digitais e batidas, fornecidos por alguns dos melhores DJs da house music. O rock nunca mais foi o mesmo depois de “Screamadelica”: as lições desse disco seguem válidas até hoje.

“2Pacalypse now”, 2Pac (12/11)

Capa do álbum "2Pacalypse now", do rapper 2Pac Foto: Reprodução
Capa do álbum "2Pacalypse now", do rapper 2Pac Foto: Reprodução

Meses antes dos distúrbios de Los Angeles – maior incidente racial de todos os tempos nos Estados Unidos –, o rapper, filho de panteras negras Tupac Shakur lançou o seu álbum de estreia. Aos 20 anos de idade, ele fez um retrato em tintas fortes e batidas secas da tragédia que era ser pobre e negro no país, entre o racismo e a brutalidade policial. Sexo, drogas e crime despontam na paisagem desse clássico do rap que ganhou o selo “Parental advisory”, alertando para o conteúdo pesado das letras. Em 1996, 2Pac sairia da vida, a tiros, para virar lenda.