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Cultura Música

EP "Juliette":Campeã do BBB une raízes e modernidade em estreia musical

Com Anitta como mentora e time robusto de compositores e produtores, paraibana canta sua história em seis canções inéditas
Juliette estreia com EP Foto: Divulgação/Fernando Tomaz
Juliette estreia com EP Foto: Divulgação/Fernando Tomaz

Campeã do último “Big Brother Brasil”, Juliette jura que, “por incrível que pareça, não buscava fama” — “mas sou muito grata e feliz por isso”. Dinheiro, sim, era um objetivo, que foi alcançado (“graças a Deus, já estou satisfeita”), não só pelo R$ 1,5 milhão do reality show, mas também pelas campanhas publicitárias que estrelou desde que saiu do Projac, em maio. Agora, a ex-advogada e maquiadora de Campina Grande (PB) quer a felicidade, representada por um sonho que antes parecia impossível: a carreira musical.

Chegou na noite desta quinta-feira às plataformas de streaming o EP “Juliette”, com seis faixas que totalizam menos de 18 minutos, mas que prometem fazer um barulho e tanto. Afinal, estamos falando de um fenômeno ímpar das redes sociais, que conquistou em oito meses mais de 32,5 milhões de seguidores só no Instagram. E que optou, ao se lançar como cantora, por um repertório de canções inéditas interpretadas apenas por ela, fugindo da segurança de covers ou dobradinhas com outras estrelas.

— As pessoas me conhecem do programa, sabem do que gosto, o que escuto. Então quis fazer algo que realmente parecesse comigo, entregar algo genuíno como eu optei ser. Já perdi tanta coisa, preciso ter uma experiência própria, algo meu — explica ela.

EP 'Juliette': Anitta não canta, mas tem participação direta na estreia musical da amiga

Juliette não escreveu nenhuma das seis faixas do EP, mas o processo criativo, conta ela, foi inspirado na história da paraibana de 31 anos que conquistou o Brasil por, entre outras coisas, exaltar suas vivências e raízes culturais. Por isso, as canções traduzem em paisagens sonoras e lúdicas a imagem que os fãs criaram de sua figura. O forró raiz, com sanfona e triângulo, é o fio condutor do trabalho, mais presente em faixas como “Bença” e “Doce”; o xote dá o tom poético de “Benzin”, enquanto “Sei lá” evoca a conexão do Nordeste com o reggae; e “Diferença mara” e “Vixe que gostoso” são popnejos com sanfona e teclado, prontos para baladas sertanejas pós-pandemia.

— A gente teve até uma discussão quando fomos registrar o gênero musical do EP, se era forró, MPB... Para mim, é MPB, porque a música popular abarca todas as regiões. Tem coisa mais popular que o forró? — questiona Juliette, que se apresenta nas canções com voz doce e de ligeiras variações dependendo do que a melodia propõe. — Eu não me rotulo em apenas um gênero e nem acho que minha música precisa ser assim. O que eu estou tentando fazer é misturar regionalidade com modernidade.

Além de amigos, Juliette teve um time e tanto de compositores e produtores que a auxiliaram nessa estreia de luxo. Na ficha técnica, surgem hitmakers como Shylton Fernandes (de “Eu quero tchu, eu quero tcha”, de João Lucas & Marcelo, e “Recairei”, d’Os Barões da Pisadinha), Diego Barão (”Morena”, de Luan Santana), a dupla Umberto Tavares e Jefferson Júnior (de sucessos de Ludmilla, Alcione, Anitta e Michel Teló), e o produtor Rafinha RSQ, que assina as faixas “Sei lá” e “Diferença mara” e é um dos grandes nomes do pop nacional, por trás, por exemplo, de “Loka” (de Anitta e Simone & Simaria) e “Santinha” (de Léo Santana).

A influência desse modo de produção essencialmente popular que permeou o EP “Juliette” pode ser vista, por exemplo, no uso de expressões e frases de efeitos populares ou repetidas em redes sociais. Juliette canta “Já estou até com a roupa de ir” em “Vixe que gostoso”; “sabe quando o santo bate?” e “nunca foi sorte, sempre foi Deus” em “Diferença mara”; “quem perguntar por mim, diga que tô por aí” e “na vida, a gente colhe o que planta” em “Bença”, e por aí vai.

Músicas próprias

Mas Juliette, que sonha num futuro próximo em escrever suas próprias músicas, garante que teve participação direta em praticamente todo o processo criativo do EP:

— Me sinto muito próxima das músicas, apesar de não ser compositora delas. Na preparação, eu intervim em instrumentos, pedi uma sanfona aqui, um triângulo ali, uma expressão, para mudar palavras. Pedi para cantar com a voz mais calma ou mais aberta em alguns trechos. Fiz ficar mais parecido comigo. Eu fui modificando o que não parecia tanto e chegamos num resultado onde eu estava confortável e me apropriei das músicas.

E teve, claro, a participação direta de Anitta, que é creditada com seu nome de batismo — Larissa de Macedo Machado — como uma das diretoras artísticas e musicais do EP, através do seu selo, Rodamoinho Records, que lança o disco em parceria com a Universal Music. Acolhida na casa de Anitta tão logo saiu do “BBB”, Juliette gravou parte das vozes no estúdio da amiga e contou com seu auxílio de luxo como mentora e também compositora — ela assina “Doce” com Umberto Tavares e Jefferson Júnior.

— Se eu passasse seis, oito horas no estúdio, ela estava me ajudando, letra por letra, dando dica em tudo. Cheguei a chorar dizendo a ela que eu não conseguia, e Anitta ficava no telefone falando “tenha calma, comigo é assim também”. Quando ela estava gravando fora do país, me ligava para mostrar o processo dela, que também sofria e repetia mil vezes, mesmo depois de tantos anos de carreira — conta Juliette. — Sou muito grata por tudo. Somos mulheres frutos de muita pancada da vida. Eu nas minhas proporções, e ela, na dela. Mas a gente sabe onde quer chegar e corre atrás disso.

Como EP de estreia de uma artista já cercada de tamanho holofote e aparatos de produção, “Juliette” entrega o que prometia, e deve agradar os fãs e dar pouco espaço para os haters. As seis canções variam entre a diversão de um bar entre amigos e a contemplação da vista para o mar numa rede. E, se depender dos cactos, como seus fãs se denominam, pode bater marcas impressionantes no streaming. Os fã-clubes mais ativos chegaram a fazer tutoriais de como funciona o engajamento em plataformas como Spotify e Deezer e o que fazer para as músicas de Juliette aparecerem no topo das paradas.

— Acho importante essa iniciativa, pois meu público é muito diverso. Tem pessoas que não sabem o que é streaming, nem eu sabia o que era até pouco tempo. É um gesto de carinho que eles têm por mim. Essas pessoas resolveram cuidar de mim, querem ajudar a minha carreira e isso me deixa emocionada, de verdade — agradece a “menina que canta”, como se define.