RIO — No cenário pop atual, em que temos de um lado a juventude de Billie Eilish , 17 anos, que arrebata ao sintetizar sentimentos e musicalidade da geração pós-2000 e, do outro, uma Beyoncé , 37, que escancara no filme/disco ao vivo “Homecoming” o suor necessário para se manter relavante e inovadora após duas décadas de carreira, é difícil se apoiar apenas na regularidade.
É por isso que “Hurts 2B human”, o oitavo álbum da americana P!nk — uma das headliners inéditas do próximo Rock in Rio —, soa como mais um disco da cantora e compositora de 39 anos que surgiu de cabelo rosa e toda tatuada fazendo um pop-rock cheio de energia lá no início do século. Esteticamente, ele pouco propõe — tanto para o universo pop quanto para seu repertório.
Os 47 minutos de audição necessários para conhecer a obra já tinham seu universo expresso na extensa ficha técnica. Nomes variados como o alquimista da música alternativa Beck, a inovadora Sia, a promessa indie Julia Michaels e o hitmaker formulaico Ryan Tedder aparecem como parceiros de composições das 13 faixas, das quais Alecia Moore (o nome real de P!nk) não assina apenas uma. A pluralidade de gêneros também surge entre os produtores, com os roqueiros dos Struts e o trio de EDM Cash Cash fazendo companhia a bambas de estúdio como Greg Kurstin e Max Martin.
P!nk atira para vários lados em um disco que mais parece uma coleção de singles de breves acertos. Ela soa como um indie folk à la Mumford & Sons em “Walk me home”; um pop-rock de refrão óbvio tipo Imagine Dragons em “Hustle”; mais um de tantos duo country pop recentes com o astro Chris Stapleton em “Love me anyway”; e o batido dueto dest a geração streaming com uma voz jovial r&b (a do cantor Khalid, no caso) na faixa-título.
Ainda assim, como um álbum de pop-rock de produção caprichada, é possível se divertir em alguns momentos, principalmente quando P!nk usa sua versatilidade vocal como protagonista. As baladas “Circle game” e “The last song of your life”, que encerram o disco, esses trunfos de intérprete e também os da compositora que gosta de cantar sobre suas batalhas no melhor estilo “contra tudo e contra todos”. De peito aberto, P!nk reflete sobre sua caminhada e faz uma crônica sobre como as demandas da maternidade desencadeiam nostalgia da infância.
Em “Happy”, outro grande acerto, a americana consegue dialogar bem com uma geração repleta de dilemas, ao mostrar força diante da vulnerabilidade em versos como “Desde que eu tinha 17/ Eu sempre odiei meu corpo/ E parece que meu corpo me odiava/ Alguém pode achar uma pílula que me faça não ter medo de mim?/ Talvez eu só tenha medo de ser feliz”.
São faíscas de originalidade, com assinatura P!nk, em meio a um disco pop protocolar. Para uma artista que surgiu demonstrando tanto vigor em querer fazer diferente, gritando suas verdades contra o espelho, P!nk poderia apresentar mais do que um reflexo embaçado.
Cotação: regular.