Música
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Por Luiz Fernando Vianna


Elza Soares: Último show no palco do Municipal de São Paulo  Divulgação — Foto:
Elza Soares: Último show no palco do Municipal de São Paulo Divulgação — Foto:

Eram 20h40 de 18 de janeiro passado quando Elza Soares começou a interpretar “Mulher do fim do mundo”, no palco do Teatro Municipal de São Paulo, para encerrar as gravações de “Elza ao vivo no Municipal”. A música de Romulo Fróes e Alice Coutinho termina com a artista dizendo que vai cantar até o fim. Menos de 48 horas depois, na tarde de 20 de janeiro, Elza morreu em seu apartamento no Rio, aos 91 anos.

O último projeto realizado por Elza será lançado em CD, DVD e nas plataformas digitais em 13 de maio, por Deck e Natura Musical. Mas já está, nas plataformas e no YouTube, a versão de “Meu guri”, de Chico Buarque. Ela canta no Salão Nobre do teatro, acompanhada apenas pelo pianista Fábio Leandro. Foi nesse salão, há cem anos, que aconteceu a Semana de Arte Moderna.

— Elza não pôde cantar no Municipal, na maior parte da carreira, por causa de racismo. O teatro não era visto como um lugar para pretos. Então, ela cantar no Salão Nobre acompanhada de um pianista negro é modernismo até o último fio de cabelo — afirma Pedro Loureiro, empresário e diretor artístico da cantora.

O roteiro foi dividido em três partes. A primeira é a de “Meu guri”. A câmera sobe as escadarias do teatro até flagrar Elza e Fábio no salão. A segunda tem a cantora formando um círculo no palco com sua banda. É como se ela cantasse para os músicos, segundo Loureiro. Na parte final, ela interpreta seis canções para 50 espectadores. Foi a quantidade permitida, por causa das limitações pela pandemia. Foram escolhidas, então, 50 pessoas que se declaram como negras e que nunca haviam entrado no Municipal.

Loureiro, autor do projeto, ressalta que o repertório foi todo montado pela própria Elza. Da primeira lista dela constavam 22 músicas. Ele diz tê-la convencido a reduzir para 16, para poupá-la.

— Ela disse que ia contar a vida dela com esse repertório. Vai de “Se acaso você chegasse”, que é o primeiro sucesso, mas num arranjo muito diferente, caribenho, a “Mulher do fim do mundo” — explica o empresário.

Segundo ele, Elza estava diferente nos dias das gravações (17 e 18 de janeiro). Na maneira de falar, de fazer gestos, algo que só os mais íntimos seriam capazes de perceber.

— Pode ser que, instintivamente, soubesse que estava se aproximando a ida dela — arrisca Loureiro.

Quando ele sugeriu “Mulher do fim do mundo” para encerrar o DVD, em vez de “Salve a Mocidade”, ela teria aprovado com uma condição: cantaria apenas uma vez, com toda a emoção, sem fazer versões alternativas – algo comum em projetos como esse.

“Elza ao vivo no Municipal” é resultado da pandemia. O que estava previsto antes era um registro, no Morro da Urca, do show “Planeta fome”, com o qual ela vinha se apresentando no Brasil e no exterior. Algo assim se tornou inviável, e nasceu a ideia de um trabalho íntimo, no qual ela interpretasse sucessos de forma nova.

O clipe de “Meu guri” está sendo exibido no Salão Nobre na exposição “Contramemória”, que contrapõe trabalhos contemporâneos — em grande parte feitos por artistas negros e indígenas — aos modernistas.

Elza ainda deixou pronto outro projeto: “No tempo da intolerância”, álbum com repertório totalmente inédito que será lançado em agosto.

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