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João Nogueira tem cinco músicas inéditas gravadas em CD do sobrinho

Didu Nogueira também inclui canções menos conhecidas do tio sambista no álbum lançado em parceria com o violonista Jorge Simas
Joâo Nogueira em 1990 Foto: Carlos Wrede
Joâo Nogueira em 1990 Foto: Carlos Wrede

Quatro dias antes de morrer, com a voz muito fraca, João Nogueira (1941-2000) deixou registrada “Ela”, sua única parceria com Nelson Cavaquinho (e também com Paulo Valdez). A fita serviria de base para Nelson Sargento, Soraya Ravenle e o conjunto Galo Preto incluírem o samba no disco “O dono das calçadas”, de 2001.

Aquela fita sumiu, mas a música ficou protegida em outra, nas mãos do bandolinista Afonso Machado, e agora pode ser ouvida, enfim. É uma das cinco inéditas do CD “Nascidos no subúrbio”, do cantor Didu Nogueira, sobrinho de João, e do violonista Jorge Simas, diretor musical do sambista por 12 anos.

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Os 80 anos que João teria completado em 12 de novembro passado foram um empurrão para o álbum virar realidade. Didu (apelido de Carlos Eduardo) e Simas foram atrás de novidades. Além de “Ela”, chegaram a “Bob Silva” (que Simas completou), “Violão sem cordas” (parceria com Carlinhos Vergueiro), “Produto de se exportar” (com Edil Pacheco) e “Palmares nação negra” (com Paulo César Pinheiro, o parceiro mais frequente de João).

— A do Paulinho Pinheiro foi perfeita, porque faltava um samba-enredo no repertório. Com esse, eles perderam na disputa da Tradição em 2000 — conta Didu.

Nas outras dez faixas, deu-se prioridade ao lado B da obra de João. A exceção é “Do jeito que o rei mandou” (feita com Zé Katimba). Há, por exemplo, as desconhecidas “Descarrego” (com Cláudio Jorge) e “O despertar do mago” (com Simas) e algumas conhecidas pelos que sabem mais da obra do artista: “Beto Navalha” (só do sambista), “Albatrozes” (idem) e “Meu canto sem paz” (com a irmã Gisa Nogueira).

— Não teria cabimento regravar “Espelho”, “Poder da criação”, “Nó na madeira” e outras consagradas. Fui puxando pela memória — diz Didu, que foi produtor do tio em alguns períodos.

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“O rei da felicidade”, criada com Nonato Buzar, é a faixa de que Diogo Nogueira, filho de João, participa.

— Se não fosse o sucesso que o Diogo faz, a obra do João estaria hoje no limbo — acredita Didu.

Na introdução de “O rei da felicidade”, ouve-se o próprio João cantando um trecho.

— O Simas sonhou com o João dizendo: “Também quero participar do disco”.

O título “Nascidos no subúrbio”, além de ser uma variação do verso inicial de “Espelho”, é uma declaração de princípios. Didu, assim como João, é do Méier, e Simas nasceu em Parada de Lucas.

— A primeira marca do suburbano é a solidariedade. Deixo a chave de casa com a vizinha — ilustra o cantor.

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O fato de ser um CD já é raridade num tempo em que quase tudo vai direto para o streaming. Didu alega que era fundamental ter um encarte com nomes dos músicos e compositores, além das letras. É possível adquirir os discos entrando em contato com Didu e Simas pelas redes sociais.

O que está nas plataformas é o álbum “40 anos do Clube do Samba”, homenagem, com vários intérpretes, ao célebre projeto de João de defesa do gênero.