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Juliette, depois do aneurisma: 'O que vou fazer daqui a seis meses? Não sei', diz cantora, que inicia turnê e prefere não ter planos a longo prazo

Fenômeno midiático que surgiu há um ano no 'BBB', paraibana afirma que ainda duvida de si mesma e não faz planos a longo prazo desde que descobriu um aneurisma cerebral
Juliette faz primeiro show como cantora solo: “Quero dar pitaco até nas fumacinhas no cenário” Foto: Divulgação/Igor Melo
Juliette faz primeiro show como cantora solo: “Quero dar pitaco até nas fumacinhas no cenário” Foto: Divulgação/Igor Melo

Juliette não sabia bem onde estava pisando. Em 24 de março de 2021, a então advogada e maquiadora dividia a casa com outras 13 pessoas, no “Big Brother Brasil 21”, e via colegas próximos a ela no confinamento, como Sarah, Gil do Vigor e Viih Tube, se afastarem por considerarem-na uma “incógnita”. A palavra “medo” esfriava, por vezes, a tagarelice da paraibana, que já despontava, à época, como franca favorita no reality show e seria indicada ao paredão dias depois.

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Hoje, com os pés fincados no mundo real — um mundo que engloba uma mansão na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, dezenas de campanhas publicitárias, uma conta bancária gorda e mais de 33 milhões de seguidores no Instagram —, Juliette ainda convive com o medo. Empresários, amigos e cantores que se tornaram próximos dela — como Caetano Veloso, Ivete Sangalo e Gilberto Gil , além de Anitta, uma espécie de madrinha artística — insistem para que ela não dê corda aos temores. Mas é difícil cumprir o conselho, a própria reconhece. Às vésperas de iniciar a turnê “Caminho” (em show no Qualistage , no Rio, no próximo sábado, quando subirá ao palco sozinha pela primeira vez), a mulher de 32 anos ainda duvida de si. Juliette, esse substantivo próprio alçado a fenômeno nacional, será mesmo uma incógnita?

— As pessoas me falam: “Você precisa se empoderar e aceitar o lugar que é seu”. É isso o que repito na minha mente quando estou nervosa. Mas a verdade é que sinto muito medo e frio na barriga — diz ela. — O que vivo é algo extraordinário e muito maior do que eu poderia imaginar. Estou num processo de aceitação.

O susto do aneurisma

Juliette: ex-BBB inicia turnê de shows pelo país: estreia acontece no Rio e depois segue para João Pessoa (2 de abril), Vitória (30 de abril), São Paulo (6 de maio) e Recife (a confirmar) Foto: Igor Melo / Divulgação
Juliette: ex-BBB inicia turnê de shows pelo país: estreia acontece no Rio e depois segue para João Pessoa (2 de abril), Vitória (30 de abril), São Paulo (6 de maio) e Recife (a confirmar) Foto: Igor Melo / Divulgação

Juliette é teimosa. “Sou chata, e ninguém me aguenta”, afirma a ex-BBB, influenciadora digital e cantora, em conversa com o GLOBO. A personalidade forte e expansiva, como os colegas costumam adjetivá-la, foi a maneira que a moça encontrou para driblar as inseguranças. Quer tomar conta de tudo ao seu alcance. Juliette jura, porém, que não faz planos a longo prazo, algo reforçado desde que descobriu um aneurisma cerebral , em agosto, como revelou no programa “Conversa com Bial” — o problema de saúde, agora já tratado, é um trauma familiar, pois deixou a mãe da cantora internada (em 2019) e provocou a morte da irmã Juliene, aos 17 anos.

— As coisas podem estar boas neste momento, mas sempre invento algo para que me sinta mais dona de tudo e esse meu poder seja mais forte, no sentido de me achar mais preparada. Tem muitas pessoas que me ajudam e em quem eu confio. Mas quero dar pitaco em tudo, até sobre as fumacinhas no cenário do show — conta. — Agora, planos? O que vou fazer daqui a seis meses? Não sei.

É esse o tal “caminho”, que Juliette persegue. “Caminho se conhece andando”, diz o verso de “Deus me proteja” , canção de Chico César e Dominguinhos que ela vivia cantarolando no “BBB”, e que agora serve de máxima para a sua estreia profissional.

— Juliette é “eita” por cima de “eita”. Tudo nela é brilhante porque é intuitivo. Há um esforço tremendo de superação, o que mostra que ela não está acomodada — elogia Chico César. — Juliette está tentando dominar o ofício por um sentimento de responsabilidade com ela e o público. Espero que ela se veja em processo.

No palco, apesar do nervosismo, Juliette pretende se divertir. Ao lado do próprio Chico César, que fará uma participação especial, interpretará a canção que considera um mantra pessoal e desfilará versões pop para clássicos e novidades da MPB — de Caetano, Gil, Anitta, Alceu Valença, Dominguinhos, Jair Rodrigues, Duda Beat e Marina Sena —, além de interpretar composições próprias, do EP autoral lançado em 2021.

A falta que a farra faz

A cantora e ex-BBB Juliette Foto: Igor Melo / Divulgação
A cantora e ex-BBB Juliette Foto: Igor Melo / Divulgação

Elba Ramalho estará na plateia ao lado de outras figuras conhecidas. Conterrânea de Juliette, a artista considera que a colega está mais madura hoje. Desde que a convidou para uma participação especial numa live, em junho, ela sente que a ex-BBB ganhou mais foco e disciplina.

— É moído — reconhece Juliette. — Morro de saudade de ir para o meio das farras, de viver no meio do mundo. Afff, Maria! Isso é o que mais sinto falta. Mas ainda não dá, não.

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Juliette, de fato, tem suado. E ela não quer saber, tampouco falar, de namorados (“Só desejo alimentar meu público com coisas úteis e boas”). Para “cantar de peito aberto”, como explica, e deixar de ser “quietinha, vulnerável e pra dentro”, dedica-se a técnicas de fonoaudiologia e aulas de preparação vocal com gente como Janaína Pimenta de Oliveira (que trabalha, há décadas, com Ivete Sangalo) e Diego Timbó (que cuida das vozes de Pabllo Vittar e Luísa Sonza).

Elba Ramalho exalta os caminhos de Juliette como cantora.

— A experiência a gente não pode querer que ela tenha — pondera Elba, que já recebeu a colega, a quem só chama de Ju, num sarau em sua casa. — É a estrada que vai dar segurança pra Ju. Mas ela já tem a música dentro dela. Não é uma coisa armada, sabe?

Elba Ramalho sobre Juliette: 'deixa rastro de carinho onde passa'. Foto: Reprodução
Elba Ramalho sobre Juliette: 'deixa rastro de carinho onde passa'. Foto: Reprodução

Por muito tempo, Juliette encarou o “BBB” como um produto televisivo superficial. Pouco antes de tentar uma vaga no programa, mediante inscrição, a paraibana desfez o pensamento e entendeu que o reality show mais popular do país deveria ser lido como um “verdadeiro laboratório social”, como ela diz. Hoje, porém, a cantora sabe que ainda paira certo estigma quando é citada como “ex-BBB”. Ela não liga.

— Por mais que tentem me colocar nesse estereótipo, não me vejo nesse sentido — reforça. — Já tinha vivido uma desconstrução dessa visão de “Big Brother” internamente. Na minha cabeça, esse preconceito já não tem tanto valor.

De colegas do universo da música, Juliette nunca ouviu ofensas ou frases que a menosprezassem diretamente. Mas sente que alguns olhos se reviram diante do lugar que passou a ocupar nesse meio.

— Nunca vivi na pele, mas vejo nas entrelinhas essa resistência que talvez seja da classe artística, como se dissessem: “Caramba, a gente estuda tanto e uma pessoa vira cantora de uma hora pra outra por conta de seguidores”. Existe isso, mas eu respeito. Se estudo muito e vem alguém que nunca estudou e faz, primeiramente vou ter resistência mesmo. Mas, se a pessoa me prova que ela é tão boa quanto eu, aí vou ter que tirar o chapéu — frisa. — Sou muito respeitosa com o meu lugar e o lugar dos outros. Sou uma pessoa que canta, e estou virando cantora. Mas não sou uma profissional.

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Convites para trabalhos como atriz, na TV e no cinema, chegam aos montes. Amigos, diretores e parentes torcem o nariz diante das negativas de Juliette. “O povo me aperreia com isso”, ela reclama, voltando a afirmar que deseja fazer “uma coisa de cada vez”.

Conká e Juliette protagonizaram as primeiras discussões do BBB Foto: Reprodução
Conká e Juliette protagonizaram as primeiras discussões do BBB Foto: Reprodução

O trabalho nos palcos, Juliette acrescenta, é encarado como uma “missão e um propósito” que ela só enxergou como algo sério devido aos incentivos dos fãs após o “BBB”. Antes disso, a menina que sonhava ser delegada via o canto como um simples hobby.

— Imaginava, no máximo, que iria cantar como caloura no programa do Raul Gil e depois seria desclassificada — ri Juliette, que se orgulha das realizações que leva para a família. — Há coisas básicas e urgentes, como estabilidade, saúde e educação, que estou conquistando aos poucos. Não sou a favor de transformar a vida da minha família em luxo e glamour. Esse não era o meu propósito. O que mais quero é dar sentido a tudo, para que as pessoas me conheçam pela música e não apenas pelo reality show ou pela internet.

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Juliette é a campeã do "BBB21" Foto: Reprodução
Juliette é a campeã do "BBB21" Foto: Reprodução

Ela não nega, porém, suas origens. Juliette vê com naturalidade as constantes referências ao seu nome no "Big Brother Brasil 22" . Às voltas com os ensaios da turnê inédita , a cantora diz que faz o possível para acompanhar o programa com regularidade. E entende o fato de ser citada por espectadores em certas comparações com participantes da atual edição, como Arthur , que já foi apontado pelo público como a "nova Juliette".

— Se forem coisas boas, tô achando ótimo. Então pode comparar (risos)! Mas acho que as pessoas são bem diferentes, e cada uma vai ter um caminho próprio ali — ela conta ao GLOBO, acrescentando que "acharia bonito" ver Lina campeã. — Há pessoas que eu acho que, se ganhassem, fariam história. Gosto da Lina. Acho que seria um lugar bonito de se ver. Primeiro, pela pessoa: ela é muito inteligente, é uma pessoa muito boa, não teve uma atitude feia que a gente pudesse reprovar ou discordar, na minha opinião. E acho que é uma pessoa forte pra vencer.

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Dos 20 colegas com quem dividiu a casa do "BBB 21", hoje ela só mantém contato com seis pessoas. Para Juliette, o reality show não foi simplesmente um "jogo", como alguns costumam classificar.

— As pessoas falam: "Aquilo é jogo, e quando sai dali acaba tudo". Nunca encarei como isso. Eu não jogava. Simplesmente encarei aquilo como uma experiência da minha vida. O que de fato foi! Não conseguiria jogar ou me transportar para um universo paralelo achando que aquilo era um jogo. O jogo era a última coisa. Tanto que eu venci sem ganhar uma prova praticamente — ela afirma. — Hoje só falo mesmo com Gil, Carla Diaz, Pocah, Camilla, João e Rodolffo. Só! Com os outros, é apenas "oi, oi" (risos). E fica nisso.