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Justin Bieber canta o amor e a fé em Deus e completa passagem para a idade adulta em 'Justice'

Aos 27 anos, ex-ídolo adolescente lança 'Justice', o seu disco da redenção, com poucas inovações em seu som mas muito coração aberto
O cantor Justin Bieber Foto: RORY / Divulgação
O cantor Justin Bieber Foto: RORY / Divulgação

RIO - “Aceite-me como sou, juro fazer o melhor que puder.” “Todo mundo precisa de alguém, alguém para lembrar que você não está só.” “A eternidade não é tempo suficiente para te amar do jeito que eu quero.” Este é o Justin Bieber que volta à cena com o álbum “Justice”, lançado na madrugada desta sexta-feira: um homem apaixonado, disposto a deixar para trás um passado conturbado e a sofrer pelo perdão dos seus pecados. Um homem transformado pela fé e, também, um ídolo pop.

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Capa do álbum "Justice", do cantor Justin Bieber Foto: Reprodução
Capa do álbum "Justice", do cantor Justin Bieber Foto: Reprodução

Quem esperava por algo muito diferente de “Changes”, seu álbum do ano passado, repleto de r&b romântico para a mulher, Hailey , verá que o ímpeto da paixão não arrefeceu. Ao contrário: o amor cresceu na direção do divino — o que se pode deduzir a partir da pose do artista na capa do álbum, do “T” em formato de cruz do logotipo de título (que deu margem a uma ação por plágio da dupla francesa de dance music Justice, cujo logo é bem parecido) e, especialmente, de algumas canções.

Antecipada em um EP natalino, “Holy” tem piano e coral gospel, a participação de um MC cristão ( Chance The Rapper ) e a história de um amor que faz o homem se sentir sagrado: “ouço muito sobre pecadores / não pense que serei um santo / mas posso descer para o rio”.

Imagens religiosas aparecem em outras faixas como a new wave “Hold on” (“preciso que você espere / o paraíso não é um lugar tão longe”) e no baladão r&b “As I am”, que conta com a participação de Khalid (“você acreditou em mim quando ninguém mais acreditava / foi um milagre você não ter ido embora”).

A noção de justiça do disco de Justin Bieber passa, sim, pela política — há um interlúdio com trecho de um sermão de Martin Luther King sobre a morte do espírito de quem, por medo, não se levanta por uma grande causa. Mas, na maior parte das vezes, o cantor trata é da redenção pessoal por intermédio do amor.

Há bons momentos, como na doída balada “Lonely” (com Benny Blanco ), em que Bieber lamenta o preço que teve que pagar por ser famoso tão jovem, e em “Off My Face”, com sua guitarrinha à la “Blackbird”, em que o cantor compara suas velhas chapações àquela que o amor por sua mulher proporciona.

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No entanto, há momentos de pura autocomiseração (como em “Deserve you”, que surfa a onda oitentista do Weeknd, e “Unstable”) e mesmo de obsessão, em “Ghost”, na qual Bieber ameaça ligar-se ao fantasma do objeto do seu amor.

Um refresco é quando ele traz algumas boas vibrações no r&b retrô “Peaches” (com uma inofensiva menção à maconha que ele traz da Califórnia), em “Love you different” (aparente ode à maternidade, com o MC jamaicano de gospel-trap BEAM) e em “Loved by you”, r&b que divide com o nigeriano, ganhador do Grammy de global music,

Burna Boy .

Se o público estranhou o álbum anterior (“Changes” não chegou a ser um fracasso comercial, mas não emplacou nenhum hit no número um das paradas), “Justice” tem melhores chances: é um disco que fecha o ciclo de transformações do ex-ídolo adolescente, agora um artista adulto que, aos 27 anos de idade, demonstra não ter medo de abrir o coração sobre suas fraquezas, crenças e lutas. Não é pop de ponta, com novos sons, mas conta com um ativo muito valorizado: autenticidade.

Cotação: Bom