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Linn da Quebrada une forças com Liniker para lançar seu álbum de estreia no Rio

Cantora se apresenta neste sábado, no Galpão Gamboa, junto à festa Batekoo
O primeiro disco de Linn chama-se 'Pajubá', uma referência a um tipo de dialeto com expressões oriundas do candomblé, e também utilizado no meio LGBT para garantir proteção Foto: Divulgação
O primeiro disco de Linn chama-se 'Pajubá', uma referência a um tipo de dialeto com expressões oriundas do candomblé, e também utilizado no meio LGBT para garantir proteção Foto: Divulgação

RIO — Palco que já recebeu Pabllo Vittar, Jaloo, Banda Uó e Não Recomendados — todos, em comum, artistas representantes das pautas LGBT —, o Galpão Gamboa foi o local escolhido pela cantora e compositora Linn da Quebrada para apresentar, neste sábado, o seu álbum de estreia, "Pajubá". Gravado entre julho e agosto deste ano, e lançado no começo deste mês, o disco da "bixa travesti", como ela se autodenomina, nasceu em formato audiovisual, tal qual o "Lemonade" da diva americana Beyoncé, mas, como lembrou Linn, com uma diferença:

— O "Lemonade" é uma superprodução. Já o meu, foi feito na precariedade — justifica a artista, que arrecadou, com a ajuda de seus fãs e amigos, pouco mais de R$ 49 mil para produzir todo o disco, enquanto a cantora natural do Texas gastou mais de US$ 1 milhão para finalizar seu álbum visual.

— Não via outra forma de ter feito o álbum — diz Linn. — As pessoas pediram por ele, elas investiram nesse trabalho. Essa autonomia é uma das melhores coisas do nosso tempo. Ganhamos nossa independência do macho, esse que cuida do que ouvimos e consumimos.

O "macho", o "homem" e o "indivíduo masculino" são, aliás, sujeitos mencionados em "Pajubá", bem como ao longo de sua entrevista ao GLOBO. Mas, diferentemente do que vigora na maioria das canções que tocam nas rádios — logo vem à cabeça da repórter o refrão da faixa "Vidinha de balada", da dupla sertaneja Henrique e Juliano —, a figura masculina não está em lugar privilegiado.

— Vivemos em um sistema em que o centro é macho, branco e rico. Na maioria das letras, eles são amados pelas mulheres, e, quando não, mandam nelas. Com a minha música, proponho justamente o contrário — explica ela. — Falo sobre os corpos transviados, pretos, sobre celebrar o feminino e a mulheridade. Por isso minhas letras surpreendem. Porque falo sobre vidas que, para a maioria, não têm qualquer importância.

Para somar a potência das 14 faixas de "Pajubá", a cantora, natural do interior paulista e ex-testemunha de Jeová, convidou a drag queen Gloria Groove ("Necomancia"), a cantora Liniker ("Bomba pra caralho" e "Serei A") — que, inclusive, toca com ela no show do Rio — e a funkeira Mulher Pepita ("Dedo Nocué"). Na produção, o time segue a mesma frequência. Além de Jup do Bairro, cantora que acompanha Linn desde o começo, o disco teve direção musical de BadSista e colaboração de Nelson D, Carlos NuneZ, Vincenzo e Diego Sants.

Sobre a sonoridade do álbum, Linn recorre ao que faz com sua própria identidade — ela não se limita a apenas a um gênero, e é categórica: "'Pajubá' é um disco de afro-funk-vogue". Ou seja:

— Afro, porque ele fala da negritude, do lugar de onde venho, da periferia e de corpos marginalizados. Funk, porque diz respeito à percussão, ao batuque dos tambores, que remete aos ritmos africanos. Já a dança vogue é a capoeira das "bixas" — detalhou a artista.

— Gosto de dizer que "Pajubá" (dialeto que tem expressões oriundas do candomblé, muito utilizado no meio LGBT como forma de proteção) é sobre pensar, dançar e lutar. Mal posso esperar para celebrar ele com vocês no Rio.

SERVIÇO

Linn da Quebrada part. Liniker + Batekoo

Onde : Galpão Gamboa — Rua da Gamboa, 279. Quando : Hoje, às 22h30min. Quanto : R$ 35 (com 1kg de alimento). Classificação : 18 anos.