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Metropolitan renasce como Qualistage e abre a cortina para o futuro da agenda de shows no Rio

Sob o comando do fundador Bernardo Amaral, casa no shopping Via Parque volta mais tecnológica e com extensa programação nacional e internacional
Bernardo Amaral, à frente do palco do Qualistage, casa que abre no Rio no sábado, e do qual é sócio e diretor geral Foto: Leo Martins / Agência O Globo
Bernardo Amaral, à frente do palco do Qualistage, casa que abre no Rio no sábado, e do qual é sócio e diretor geral Foto: Leo Martins / Agência O Globo

Abatido no ano de 2020, em plena pandemia de Covid-19 , num voo que iniciara em 1994, o Metropolitan deixou a cidade do Rio de Janeiro órfã de uma de suas mais importantes casas de espetáculos. Este sábado, pouco mais de um ano após o seu fechamento, com novo patrocinador (a plataforma de escolha de planos de saúde Qualicorp) e um novo nome (Qualistage), o espaço no subsolo do shopping Via Parque reabre, às 21h30, com o concerto “João Carlos Martins e Maria Bethânia in Concert — de Beethoven a Bethânia” (que se repete no domingo, às 20h).

É o recomeço pós-Ômicron de um calendário de shows de verão, no momento em que os cariocas começam a deixar suas máscaras: daqui a uma semana, os Paralamas do Sucesso abrem, com Leo Jaime, a edição 2022 do projeto Tim Music Noites Cariocas, no Morro da Urca.

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O Qualistage surge como sociedade do produtor Bernardo Amaral, de 52 anos (que montou o Metropolitan com o pai, o Rei da Noite Ricardo Amaral, e ficou nele até a venda do espaço, em 2000), com os empresários Alexandre Accioly e Dody Sirena (que cuida da carreira do cantor Roberto Carlos). Segundo ele, o que está sendo preservado da antiga casa no Qualistage (um complexo com capacidade para acomodar 9.500 pessoas em pé ou 3.500 sentadas) “é a alma”.

— Quando o Metropolitan foi criado, ele era uma casa de cariocas para os cariocas e seus visitantes. Tinha muito de tentar fazer do lugar aquela casa com a cara do Rio, com um certo charme, que recebia as pessoas para que elas assistissem aos espetáculos e tivessem encontros agradáveis. Isso se mantém — garante Bernardo. — De novidade, o Qualistage carrega mais na tecnologia, muitos anos se passaram e, mais do que uma casa de shows, a gente procura chamar de uma casa de espetáculos. O show é o core business , mas nós temos vários espetáculos de diversas naturezas, teatro, musicais, eGames e eSports.

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Totalmente reformado, o espaço agora conta com uma rede de fibra ótica, para facilitar a transmissão dos espetáculos, a realização de campeonatos de esportes virtuais e mesmo a condução de palestras com participação de convidados à distância. E, até junho, o Qualistage passa a ter um estúdio de vídeo, onde serão gravados programas para TV e YouTube, peças publicitárias e bastidores para vídeos dos artistas.

Mas a programação continua a ser o forte: Maria Rita (dia 18), Jorge e Mateus (19), Gloria Groove e Preta Gil (25), a estreia da turnê “Caminho” da ex-BBB Juliette (26) e Lulu Santos (9/4) são as primeiras atrações da casa, que tem shows marcados até novembro, com forte presença internacional: estão confirmados The Manhattans (8/4), Greta Van Fleet (3/5), McFly (26/5), A-Ha (21/8), Hanson (21/10) e o ex-Oasis Liam Gallagher (16 /11).

O grupo americano Hanson Foto: Jonathan Wiener / Divulgação
O grupo americano Hanson Foto: Jonathan Wiener / Divulgação

Grupo que se apresentou na casa (então chamada Km de Vantagens Hall) em 2017, os irmãos Hanson voltam ao Rio com um novo disco (“Red green blue”, que sai em 22 de maio, para comemorar os 30 anos do grupo) e prometem cantar sucessos desde o primeiro álbum, “Middle of nowhere”, de 1997.

— Tínhamos uma turnê toda alinhada para o disco anterior, que obviamente não aconteceu. Foi um período bem difícil, nosso ganha-pão está nos shows. Mas tivemos muito apoio dos fãs e pudemos fazer aqui em Oklahoma ( estado natal da banda ) alguns shows que nossos amigos em Los Angeles não tiveram permissão de fazer — diz o guitarrista e cantor Isaac Hanson, informado pela reportagem da novidade do Qualistage. — Não me surpreende isso, de tocar em um lugar que de certa forma se conhece, mas que está totalmente renovado. Sou muito solidário com as pessoas que lutaram durante esses tempos e tiveram que fechar seus negócios, e também com os que conseguiram reabrir. Fico feliz de voltar a esse lugar.

O maestro João Carlos Martins e a cantora Maria Bethânia Foto: Colagem de fotos de divulgação
O maestro João Carlos Martins e a cantora Maria Bethânia Foto: Colagem de fotos de divulgação

A inauguração da casa estava marcada para janeiro, mas foi adiada pelo avanço da Ômicron. Na remarcação, Bernardo fez questão de manter a abertura com “De Beethoven a Bethânia”, espetáculo com a Orquestra Bachiana que a cantora e o maestro fizeram apenas uma vez, em 2019, no Espaço das Américas (em São Paulo), reunindo peças do compositor alemão e sucessos da cantora.

— Do mesmo jeito que Bach é a síntese de tudo que aconteceu antes e a profecia de tudo que aconteceu na música ocidental, Beethoven conseguiu transferir para as obras a sua dramaticidade interna. E poucos artistas colocam a dramaticidade no palco como Bethânia — elogia João Carlos Martins. — Para mim, um concerto só tem valor se o público sai dele com uma lágrima nos olhos e um sorriso nos lábios.

O grupo Paralamas do Sucesso Foto: Markos Fortes / Divulgação
O grupo Paralamas do Sucesso Foto: Markos Fortes / Divulgação

Além do Qualistage, o empresário Alexandre Accioly também está envolvido com a reedição do Noites Cariocas, projeto criado por Nelson Motta em 1980 no Morro da Urca (de grande importância para a explosão do rock brasileiro naquela década) e reeditado por lá entre 2004 e 2011. Sócio de Accioly no empreendimento, o produtor cultural Luiz Calainho, de 55 anos, conta ter apostado, em maio do ano passado, que por volta da segunda semana de março de 2022 a pandemia estaria num estágio tal que permitisse a retomada do Noites. Dito e feito: o festival (agora rebatizado de Tim Music Noites Cariocas) começa dia 18 com Paralamas e Leo Jaime e segue com Diogo Nogueira (19), Capital Inicial e Paulo Ricardo (dia 25), Iza (26), BaianaSystem (1/4), Ney Matogrosso (2), Anavitória (8) e a triunfal volta de Baby & Pepeu (9).

— A gente precisa jogar para cima o nosso queridíssimo Rio de Janeiro, que é um lugar da arte, da música e do entretenimento, dos festivais e das casas de espetáculo — empolga-se Calainho, que promete voltar à cidade com outra de suas casas, o clube Blue Note, até novembro, em local a ser definido.

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Com planos de que o Qualistage seja uma casa “para pelo menos uma década, embora acredite que ela vai continuar por muito mais do que isso”, Bernardo Amaral se une a Calainho no otimismo em relação à retomada da agenda de shows no Rio.

— Esse nosso mercado passou por muitas dificuldades, ficamos dois anos praticamente proibidos de exercer a nossa profissão, mesmo que tenha sido por um motivo justo. Muita gente perdeu emprego ou teve o salário reduzido — diz. — O “ao vivo” nunca vai deixar de existir, não vamos perder esse contato que não é só com os artistas, mas com as outras pessoas. Além do mais, esse mercado precisa girar, ninguém vive só de live.