Cultura Música

Mimo adia para maio de 2019 suas edições no Rio e em São Paulo

Edição de Olinda é mantida, no ano em que festival completa 15 anos, e será realizada entre 23 e 25 de novembro
Lu Araújo, Idealizadora do Mimo aponta que instabilidade política e econômica têm tido reflexos entre patrocinadores
Foto: André Henriques / Divulgação
Lu Araújo, Idealizadora do Mimo aponta que instabilidade política e econômica têm tido reflexos entre patrocinadores Foto: André Henriques / Divulgação

RIO - Prevista para novembro, as edições do Mimo no Rio e em São Paulo foram adiadas para maio de 2019 - ainda sem data definida. Um patrocinador abandonou o projeto, o que implicou na sua reestruturação. A celebração de 15 anos do festival ficará restrita à Olinda (cidade onde o Mimo nasceu), entre os dias 23 e 25 de novembro, com uma programação que inclui os portugueses do Dead Combo, o hip hop palestino do 47Soul, além dos brasileiros Tom Zé, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Lia de Itamaracá, Eddie e Emicida. As edições de Paraty e de Amarante (Portugal), foram realizadas como previsto, em setembro e julho, respectivamente.

Idealizadora e diretora-geral do Mimo, a produtora Lu Araújo explica que o adiamento reflete algo muito maior do que o próprio festival, ou seja, é fruto da instabilidade políitica e econômica que o Brasil atravessa — e seu impacto especificamente no setor cultural.

—  As coisas que aconteceram com o Ministério da Cultura (que foi extinto por Michel Temer e depois recriado por pressão da sociedade) e a CPI da Lei Rouanet, no ano passado, desestabilizaram os patrocinadores. O Bradesco, por exemplo (patrocinador do festival), foi praticamente invadido pelas investigações da CPI. Ou seja, as empresas que investem em cultura passaram a ter que lidar com esse tipo de situação, com essa instabilidade.

“Muitos produtores estão calados, não querem expor que seus projetos podem estar com dificuldades.”

Lu Araújo
Diretora-geral do Mimo

Lu ressalta um outro aspecto da crise:

— Tivemos as intervenções nas estatais como o BNDES, que passaram por mudanças nas pessoas, nos setores e nas políticas relativas ao apoio à cultura. Ou seja, todo um trabalho que vinha sendo feito nesse sentido foi por água abaixo — aponta a produtora, notando que em breve outras produções sentirão o impacto que o Mimo acusa agora. — Muitos produtores estão calados, não querem expor que seus projetos podem estar com dificuldades. A gente tentou até o último momento manter o previsto. Mas em vez de realizar edições carioca e pauilsta menores do que planejávamos por conta da redução do patrocínio, preferimos concentrar nossos esforços em Olinda e, em maio, fazermos bem no Rio e em São Paulo.

A edição de 2019 em Amarante — onde o Mimo se tornou um enorme evento regional, que atrai turistas para o norte de Portugal, área antes pouco valorizada em termos turísticos — está garantida e será ampliada. No Brasil, apesar dos problemas, Lu se mostra otimista e diz que os motivos para comemorar são muitos. Lembra que a primeira edição do festival teve apenas cinco concertos em Olinda ("Tudo bem que um deles foi de Nelson Freire com uma orquestra sinfônica", observa) e que depois se expandiu e recebeu artistas como Arnaldo Baptista, Emir Kusturica, Gonzalo Rubalcaba, Gotan Project, McCoy Tyner, Philip Glass e Elza Soares.

“A lei (Rouanet) tem um controle enorme, há fiscalização, e mesmo com as distorções, é a forma mais democrática de financiar cultura.  E desonera o Estado dessa função. Tudo que o Brasil não precisa agora é o fim da Lei Rouanet.”

Lu Araújo
Diretora-geral do Mimo

Mesmo com as incertezas — Jair Bolsonaro, candidato líder nas pesquisas pela sucessão presidencial, já manifestou desejo de extinguir o Ministério da Cultura e seus apoiadores atacam com frequência a Lei Rouanet (fundamental para a realização do Mimo) —, Lu prefere não fazer projeções ruins para o cenário cultural brasileiro:

— A gente não consegue dimensionar o que vem, até porque não sabemnos quem será o presidente. De qualquer forma, em momentos como esses a cultura se fortalece. O que pode acontecer, num governo mais autoritário, é tentarem regular alguns tipos de eventos. Mas acho difícil acabarem com a Lei Rouanet. Para isso tem que provar que o dinheiro dali é mal utilizado. A lei tem um controle enorme, há fiscalização, e mesmo com as distorções, é a forma mais democrática de financiar cultura.  E desonera o Estado dessa função. Tudo que o Brasil não precisa agora é o fim da Lei Rouanet.

Em 2008, o Mimo passou por uma crise semelhante. Lu conta que foi até o MinC e ouviu do então ministro Gilberto Gil e de seu secretário-executivo Juca Ferreira que o festival — ameaçado de não acontecer naquele ano — teria que ser realizado:

“A cultura responde atualmente por 2,64% do PIB brasileiro. Isso tem que ser respeitado, não se pode achar que produtores de cultura são malandros ou vagabundos.”

Lu Araújo
Diretora-geral do Mimo

— Eles disseram: "De maneira nenhuma, seu projeto é estruturante no Nordeste". E completaram que o Mimo era um exemplo de utilização da Lei Rouanet, porque atrai público, aquece a economia... Não acho que a lei vá acabar, mas nós do mercado e o próprio MinC precisamos fazer um trabalho de informação sobre como ela funciona. Há muita ignorância sobre o assunto. A cultura responde atualmente por 2,64% do PIB brasileiro. Isso tem que ser respeitado, não se pode achar que produtores de cultura são malandros ou vagabundos.

O próprio empresariado pernambucano é afetado por esse desconhecimento, aponta Lu, revelando que nunca teve investimento deles via Lei Rouanet:

— Há o medo de serem publicamente expostos, de serem investigados.

Apesar dos problemas, Lu é otimista:

— Às vezes a gente perde para ganhar. Vejo esse momento como uma fase, tenho fé e confiança que vai passar. O Mimo tem no público o seu maior ativo. Nunca tivemos um show cancelado por falta de público, e isso com uma programação desafiadora, com atrações que muitas vezes nem os jornalistas conhecem. Estou anunciando só agora a programação de Olinda mas a cidade já está lotada para o festival.