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Morre o cantor Agnaldo Timóteo, aos 84 anos, de complicações da Covid-19

Grande nome da música romântica nacional, ele estava internado em hospital da Barra
Em apresentação no Teatro Baden Powell, em 2001, Agnaldo Timóteo resume em uma imagem seu estilo romântico e brega Foto: Ana Branco / Agência O Globo
Em apresentação no Teatro Baden Powell, em 2001, Agnaldo Timóteo resume em uma imagem seu estilo romântico e brega Foto: Ana Branco / Agência O Globo

RIO — Após ser internado no Hospital Casa São Bernardo, na Barra, no dia 17 de março, o cantor e compositor Agnaldo Timóteo morreu na manhã deste sábado, por volta das 10h45, em decorrência de complicações relacionadas à Covid-19, aos 84 anos.

"Temos a convicção de que Timóteo deu o seu melhor para vencer essa batalha e a venceu! Agnaldo Timóteo viverá eternamente em nossos corações", anunciou a família, em nota.

Timóteo tomou a vacina contra o novo coronavírus, mas os médicos acreditam que ele foi infectado no intervalo de tempo entre a primeira e a segunda dose. A família confirmou à GloboNews que ele foi internado três dias depois de tomar a segunda dose. Timóteo chegou a deixar a UTI na sexta-feira (19), mas não resistiu à infecção. Famosos lamentaram a sua partida .

Joaquim Ferreira dos Santos: A grande voz na galeria do amor nacional

Em 2019, o cantor passou 59 dias internado, após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) no mês de maio.

Agnaldo sempre gostou de cantar. Na década de 50, o programa "Domingo é dia de folga", de Governador Valadares, anunciava o "Curió de Caratinga" antes da entrada da voz poderosa, apesar de ainda adolescente, do jovem Agnaldo Timóteo. O artista, que na época trabalhava como torneiro mecânico, buscava ali o início de uma trajetória profissional — ou melhor, de um sonho que começara ainda na infância, em sua Caratinga natal, quando ele gostava de imitar vozes como as de Cauby Peixoto e Anísio Silva.

Engraxate, entregador de malas, vendedor de manga

A caminhada até ali havia sido difícil. Ainda em Caratinga, Agnaldo trabalhava desde os 9 anos entregando malas na estação, engraxando sapatos, vendendo mangas ou pastéis feitos pela mãe para ajudar a família. Participou de seus primeiros concursos como cantor nos circos que chegavam à cidade. Aos 16, se mudou para Governador Valadares e começou a cantar nas rádios locais. Mais tarde, foi para Belo Horizonte em busca de mais oportunidades — na capital mineira ficou conhecido como o "Cauby mineiro" e foi muitas vezes uma espécie de "substituto" local do cantor.

Foi em Belo Horizonte que foi ouvido por seu ídolo Anísio Silva, que o apresentou a seu empresário Kléber Lisboa. Namorado de Ângela Maria, Kléber apresentou Agnaldo à cantora, que o aconselhou a ir para o Rio, onde sua carreira teria mais chances de acontecer. Ele seguiu a sugestão e em 1960 desembarcou na nova cidade, onde pôde conhecer um jovem Roberto Carlos também recém-chegado e buscando espaço como cantor.

Sem conseguir emplacar na carreira, Agnaldo pediu uma ajuda para Ângela, que o empregou como seu motorista. Ela também o indicou para o selo Caravelle, que em 1961 lançou seu primeiro disco, um 78 rotações que tinha num lado “Sábado no morro” e no outro “Cruel Solidão”. As gravações não tiveram repercussão. Em 1963, ele gravou "Tortura de amor", de Waldick Soriano, já dentro do estilo romântico que o consagraria no futuro, mas novamente as vendagens foram pífias — 180 cópias vendidas de mão em mão pelo próprio Agnaldo.

'Surge um astro'

Em 1965, Agnaldo chamou a atenção interpretando "The house of the rising sun", dos Animals, no programa "Rio hit parade", de Jair de Taumaturgo. A partir dali, conseguiu lançar seu primeiro álbum, "Surge um astro" — o primeiro dos mais de 50 que enfileiraria ao longo da carreira. Em 1968, gravou "Meu grito", de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, num disco que vendeu 600 mil cópias, colocando-o num novo patamar e reafirmando seu lugar como cantor romântico.

"A galeria do amor", lançada em 1975, foi outro marco em sua carreira. Sua primeira composição própria — referência à Galeria Alaska, então ponto de entro gay do Rio — alcançou um enorme sucesso e abriu um novo caminho na carreira de Agnaldo. Canções como "Perdido na noite", de 1977, também exploravam a temática urbana noturna.

Político e camelô dos próprios discos

O lado marqueteiro do cantor: na época das vacas magras, Agnaldo Timóteo foi para as ruas vender CDs em barraquinhas. Na foto, no calçadão de Bangu Foto: Nelson Veiga / Agência O Globo
O lado marqueteiro do cantor: na época das vacas magras, Agnaldo Timóteo foi para as ruas vender CDs em barraquinhas. Na foto, no calçadão de Bangu Foto: Nelson Veiga / Agência O Globo

Em 1982, Agnaldo usou sua popularidade como cantor — e seu carisma alimentado por posições polêmicas — para entrar na vida política. Elegeu-se deputado federal pelo PDT naquele ano. Seu primeiro discurso foi aberto com a expressão "alô, mamãe", que se tornou uma espécie de bordão seu — chegou a lançar alguns sucessos em homenagem à figura materna, como "Mamãe" e "Mãezinha querida".

Mais tarde, em 1986, chegou a concorrer a governador do Rio. Depois de se eleger vereador em 1996 e não se reeleger em 2000, passou a concorrer em São Paulo, onde foi eleito como vereador em 2004.

Nos anos 2000, Agnaldo chamou a atenção da imprensa ao ir para a rua vender seu disco, como um camelô. Ele dizia vender uma média de 400 CDs a cada vez que armava sua barraquinha.

"Eu, pecador", documentário de Nelson Hoineff lançado em 2017, conta a história do cantor e expõe suas opiniões controversas, das quais ele sempre se orgulhou:

“Não me queira como um farsante, demagogo ou mentiroso, que faz qualquer coisa para que as pessoas me achem simpático. Eu não quero ser simpático, eu quero ser Agnaldo Timóteo!”

Agnaldo Timóteo
Cantor