Música
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Por Maria Fortuna — Rio de Janeiro


Zé Ibarra: canta, compõe, toca piano e violão — Foto: Divulgação/ Sércio Freitas
Zé Ibarra: canta, compõe, toca piano e violão — Foto: Divulgação/ Sércio Freitas

Gal Costa gostou tanto da voz aguda dele que resolveu abrir mão dos tons mais altos e se encarregar dos graves na gravação do dueto de "Meu bem meu mal", registrado no disco "Nenhuma dor" (2021).

— Ele gravou uma voz guia da minha parte. Achamos tão bonito que resolvemos inverter, então, eu gravei o grave — conta cantora.

Milton Nascimento virou fã a ponto de convidá-lo a participar da turnê "Clube da esquina" (2019).

— A capacidade dele para tocar e cantar é uma coisa absurda. Vai fazer muita coisa linda na música.

Ney Matogrosso, que dividiu o microfone com o jovem em "Ela e eu" (Caetano Veloso) durante a gravação de um programa de TV, também não tem dúvida:

— Terá uma longa carreira. Toca, canta e compõe muito bem. É muito talentoso mesmo.

Aos 25 anos, o cantor, compositor e pianista Zé Ibarra, conhecido por integrar a banda Dônica e o grupo Bala Desejo (que faz show nessa sexta, 29, no Museu de Arte do Rio), é apontado por gigantes da música brasileira como uma aposta para o futuro e para o presente da MPB.

Pressão diante dos elogios? Não para Ibarra, que encara essas falas como estímulos para seguir adiante ("se meus ídolos me apontam como alguém interessante é uma confirmação de que estou no caminho certo"). E ele segue.

Lançou recentemente "Vai atrás da vida que ela te espera", versão da composição de Guilherme Lamounier dos anos 1970, "A escola", inédita atribuída a Adoniran Barbosa, e "Bédi Beat", em dueto com Duda Beat.

Banda Dônica — Foto: Divulgação
Banda Dônica — Foto: Divulgação

E quer mais. Tem nove composições próprias para seu primeiro solo, que talvez seja lançado ainda este ano. Uma delas, chama-se "Essa confusão". Antes do álbum, porém, deve sair "Hoje e ontem", novo disco da Dônica, grupo que formou ao lado de Tom Veloso (caçula de Caetano Veloso e Paula Lavigne) e outros amigos da Escola Parque.

Foi nessa banda que Ibarra começou a chamar atenção, não apenas pela voz e composições, mas pelo visual andrógino, que inclui vestidos estilosos. Agora, ele anda numa fase jeans baggy com top justo, que deixa a barriga de fora. Às vezes, joga por cima um casaquinho de vó comprado num brechó ("não tenho a menor ideia onde isso vai parar", brinca).

O look transgressor começou ainda criança, quando desfilava por aí dentro de uma roupa de chinesa, um daqueles conjuntos de seda brilhante. A mãe "não entendia nada", diverte-se. Depois, foi barrado na escola por vestir um macacão sem camisa por baixo, deixando as costas livres. Pronto, aí, poder se vestir com liberdade virou uma questão de honra.

— Uma coisa que quero é a extravagância do pop na MPB. Porque ficou um negócio meio de violão... Sou um instrumentista, cantor de MPB, mas posso ser meio Bowie, um baita de um pavão, sabe? Gostaria de mudar algo nesse imaginário imagético do que é um artista na MPB — diz ele, citando a estética Gil e Caetano dos anos 1970 como inspiração.

'Para a nova geração, sexo é angústia'

O disco que acaba de lançar com o Bala Desejo — grupo que formou com Dora Morelenbaum, Julia Mestre e Lucas Nunes, durante participações nas lives de Teresa Cristina na pandemia — também traz ares setentões e um clima carnavalesco. O álbum reúne canções pensadas para comemorar a volta às ruas pós-Covid, o que eles consideram uma espécie de "recarnaval'. Nas letras, crônicas da vida moderna, regada a alegria, desejo e prazer. Falar de sexo para a juventude foi um caso pensado.

— A gente quis se provocar. Cada vez transa-se menos, e pior. Por conta da pornografia, do Tinder, do Instagram... Para a geração nova, o sexo é uma angústia. As pessoas não se relacionam mais e, quando vão fazer sexo, broxam ou não sentem nada — analisa. — Sinto que as gerações mais jovens não têm referência do que é ter o sexo como uma entidade importante na nossa vida. Pornografia ferra com a cabeça. A Billie Eilish não disse que a pornografia acabou com a vida dela? Então...

Zé Ibarra: músico começou a compor aos 14 anos  — Foto: Divulgação
Zé Ibarra: músico começou a compor aos 14 anos — Foto: Divulgação

Voltando à música, Zé Ibarra começou a compor aos 14 anos. Filho de uma chilena produtora de eventos e um fotógrafo baiano, ele cresceu num ambiente em que se ouvia muitos discos e lembra da "sensação colossal" que certos sons lhe provocavam. Aos 2 anos, pedia à avó que o levasse para ouvir "a música do rio" no sítio da família, em Itamonte. Aos 4 anos, quis de aniversário o disco "Elis & Tom". Depois perturbou a mãe para ganhar a coleção "Os maiores sucessos do mundo", um conjunto de CDs que incluía Chic, Earth, Wind & Fire, Marvin Gaye, Diana Ross, Michael Jackson, Barry White...

— Aquilo inundou a minha cabeça. Ao mesmo tempo, em casa, era o meu pai tocando João Gilberto e minha avó colocando rádio MEC com música clássica no carro —  conta ele, que também cita Caetano, Nina Simone, Take Six e Abba como referências.

O caminho ainda está se abrindo na frente do artista, que começou a estudar bateria aos 6 anos, mas logo passou para o piano. Os sonhos, no entanto, já povoam sua cabeça de ideias lá na frente. Entre elas, o desejo de lançar um álbum audiovisual para estrear no cinema. Há também desejos mais "ambiciosos e até pretensiosos", assume. 

— Quero fazer discos importantes, que possam indicar caminhos, modificar alguma coisa. Tenho vontade de deixar uma marca, não pela ótica da vaidade, mas porque posso contribuir — afirma. — Me vejo como um artista que pode fazer algo pelo país.  No lugar da beleza, do discurso, da transcendência pela arte, de botar a galera para dançar e chorar. Porque vejo a música no lugar da ajuda. Caetano, por exemplo, ajuda a gente a viver. Ele é um médico, assim como qualquer artista. 

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