Música
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Por Mari Teixeira — Rio de Janeiro


O cantor Jão — Foto: Leo Martins
O cantor Jão — Foto: Leo Martins

Nos palcos, Jão costuma usar calça de couro e camisa de seda, figurino que combina com sua performance imponente e apoiada na sofrência pop. No quarto de hotel no Rio onde recebeu O GLOBO, estava de camisa e calça social. Uma corrente dourada no pescoço ajudava a criar o elo entre a persona Jão e o simpático e contido João Vitor. Ele havia acabado de chegar de São Paulo. Na noite anterior, tinha aberto o show para a banda americana Maroon 5 no estádio Allianz Park. Ao chegar à capital carioca, correu para um almoço “importante”, cedeu uma hora para a equipe do jornal e foi direto para um “jantar de networking”.

A agenda cheia é fruto do sucesso da turnê de seu terceiro álbum, “Pirata”, que começou em março. São 23 shows no total, até agosto, incluindo nove datas extras, criadas para atender aos fãs que não conseguiam ingresso. Dos 13 shows restantes, nove já não têm mais bilhetes disponíveis.

Este é o ano de Jão, que começou em 2016 postando vídeos cantando no YouTube. Duas semanas antes de se apresentar no Allianz Park, ele esteve no Autódromo de Interlagos, também na capital paulista, e colocou o público do Lollapalooza para cantar todas as suas músicas. Em maio, vai estar no festival Mita, no Rio. Em setembro, canta no Palco Sunset, do Rock in Rio.

Cantor e também compositor de seus hits, o paulista tem quatro milhões de ouvintes mensais no Spotify, plataforma onde “Pirata” já atingiu mais de cem milhões de plays. Carro-chefe do disco, “Idiota” já foi ouvida 50 milhões de vezes, além de bombar no Tik Tok.

Esta semana, cantou na final do “BBB 22”. Detalhe: no começo de abril, Jão e Boninho almoçaram no Rio, e logo depois o Big Boss postou nas redes sociais uma foto com o cantor e a legenda: “Craque da nova música pop brasileira.” O próprio apresentador, Tadeu Schmidt, depois de anunciar a participação de Jão no palco do reality show da TV Globo, disse que ele é o cantor preferido de sua filha Laura. Sim, o grande público do cantor é, de fato, juvenil, o que não o impede de receber elogios de nomes como Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, e de fazer parcerias com gente como Nando Reis e Ivete Sangalo.

‘Achava que não era bom’

O sucesso ainda parece surpreender o músico de 27 anos.

— Não consigo compreender o que querem de mim (risos). Sou muito pessimista. No Lolla, pensei: “Não vai ter ninguém pra me ver.” Na hora do show, fiquei chocado — conta Jão, um introvertido que no palco “vira outra coisa”. — Depois eu me assisto e fico pensando: “Nossa, que esquisito, não parece eu.”

João Vitor nasceu em Américo Brasiliense, a 280km da capital paulista. Viveu no município de 40 mil habitantes até os 17 anos com seus pais, donos de um pequeno negócio na área de manutenção, e sua irmã, Isabela. Apaixonado por música, ele escrevia e produzia canções sozinho, em casa.

— Amava a minha cidade. Mas o interior é um lugar que te aprisiona — diz ele, que foi cursar Publicidade na USP.

Seu primeiro endereço na metrópole era uma república na qual dividia 60m² com mais quatro meninos.

— Eu achava o máximo — lembra o cantor, que hoje divide um apartamento no bairro de Pinheiros com seus três gatos, Chicória, Santiago e Vicente.

Ele diz que, na época, “tinha apagado a música” de sua vida.

— Continuei compondo, mas pensei: “Vou chegar lá e vou estudar, entrar numa agência (de publicidade) e tudo vai fazer sentido.” Eu realmente achava que não era bom.

Os planos mudaram quando, numa reunião social, os amigos encontraram uma gravação em seu celular. Eles botaram para tocar numa caixa de som e, a partir daí, incentivaram o rapaz. Barzinhos, festas e karaokês começaram a fazer parte da rotina — que incluía também um emprego.

— Entrei numa agência, e no terceiro dia meu supervisor me chamou e disse: “Cara, você chegou atrasado nos três dias.” E eu falei: “Mas eu não sabia que tinha horário” (risos). Eu realmente não sabia, achava que agência de publicidade era ter que cumprir minhas horas, mas chegar na hora que eu quisesse. Aí eu saí e decidi, de vez, que ia cantar.

Todos os três álbuns lançados por Jão ultrapassaram cem milhões de plays somente no Spotify.

— “Pirata” nasceu num momento em que eu estava muito confortável comigo. Diferentemente do álbum anterior (“Anti-herói”, de 2019), trabalho que fiz num momento caótico. Eu estava muito esquisito. Vinha de uma cobrança de tocar na rádio, aparecer em programas de TV, e isso foi me confundindo sobre quem eu deveria ser como artista. Dei uma pirada, lancei uma música podre demais — diz, referindo-se a “Louquinho” (“Você me deixa louquinho/ chorando baixinho/ louquinho de amor/ louquinho”).

A loucura daquele momento, explica Jão, também se devia a problemas amorosos.

— As duas coisas se uniram e eu pirei, qualquer coisa me fazia gritar e ficar à flor da pele — conta ele, que chegou a chorar e a pedir desculpas ao ex-namorado Pedro durante um show da turnê de “Anti-herói”: na hora da música “Nota de voz 8”, em vez de cantar “me desculpa mesmo”, trocou por “me desculpa, Pedro”.

O cantor Jão — Foto: Leo Martins
O cantor Jão — Foto: Leo Martins

A verdade nas letras que Jão tanto busca aparece na forma do que vem sendo chamado de sofrência pop. Em 2018, um dos seus maiores sucessos foi “Vou morrer sozinho”. Em 2022, é “Idiota” que domina a carreira em ascensão. “Eu vou te beijar como um idiota beija/ Vou me preparar para o dia em que você já não me queira [...] Eu vou te amar como um idiota ama”, canta.

— Todos os meus amores foram dessa forma. Eu não sei fazer de outro jeito. Acho que minha carga de idiota já deu, tomara que um dia saia de mim — deseja o artista, que se assume bissexual. — No primeiro álbum, tem uma coisa muito de se colocar num lugar de inferioridade. Mas venho evoluindo nisso. Me sinto mais foda.

A pandemia o ajudou a ter tempo para pensar e se autoconhecer, ele diz. No tempo livre entre os compromissos que 2022 trouxe, ele gosta de ficar sozinho com os gatos, jogando videogame.

Enquanto crescia, Jão não teve acesso a shows ou a um repertório musical variado — “a cultura não chegava”, afirma. Ouvia bastante os discos que a mãe tinha em casa e, assim, se encantou por Marisa Monte e Cazuza. Este ano, o artista foi pela primeira vez a um show de Marisa. Não a conheceu pessoalmente, mas mandou uma mensagem para ela via Instagram:

— Eu mandei: “Marisa você é uma fada” e um emoji de coração. Ela respondeu: “Obrigada, Jão” — diverte-se.

Com Cazuza, o amor foi além da música. O rapaz se encantou pela personalidade do artista, que morreu em 1990, disse ter decorado até falas de algumas entrevistas e incorporou no setlist de seus shows músicas como “O tempo não para” e, em turnês anteriores, “Codinome beija-for”. Em uma das apresentações da turnê “Pirata”, no Vivo Rio, Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, esteve presente e conheceu Jão.

— Eu fiquei embasbacada com o poder dele de domínio do público. Vi que ele canta Cazuza muito bem e dou a maior força para ele gravar um disco só de músicas do Cazuza. Me ofereço até para ajudar na produção — diz Lucinha.

Além dela, Nando Reis também disse ter se surpreendido pela capacidade vocal e de interpretação de Jão. Em março, os dois lançaram uma nova versão da música “Sim”, de Nando:

— A forma como ele cantou foi magnífica, além de ser um cara extremamente bacana. Eu me tornei um fã.

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