Música
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Por Silvio Essinger


Marisa Monte em apresentação da turnê do disco 'Portas' — Foto: Divulgação/Leo Aversa
Marisa Monte em apresentação da turnê do disco 'Portas' — Foto: Divulgação/Leo Aversa

Dois mil e vinte e dois é o ano em que Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento e o amigo Paulinho da Viola completam 80 anos. Aos 54, quase 55 (que se completam dia 1º de julho), Marisa Monte está na estrada com o show do disco “Portas” — bem-disposta, em ótima forma e praticamente com as mesmas feições de duas décadas atrás (“o tempo corre para todos, mas eu acho que tenho bons hábitos e boa genética”). Ela vislumbra, porém, a hora em que também fará 80.

— Espero que esteja com a cabeça boa, com os neurônios funcionando. Não sei se ainda vou estar na ativa, mas acho bom ficar velha, porque meu espírito é velho — admite ela, que enfim chega ao Rio, a sua cidade, para shows na Jeunesse Arena nos dias 19, 20, 21 e 22; com direito a bis nos dias 8 e 15 de outubro, no Jockey. — Já nasci velha. Gosto de música antiga, de história, de coisa clássica, vintage... Nunca usei calça jeans ou gostei de Coca-Cola, nunca gostei desses ícones da juventude. Faço tricô e crochê, vou ficar uma velha ótima, minha alma é velha! Meu corpo ainda não chegou na minha idade de espírito, mas vai chegar, se Deus quiser! Gostaria de promover esse encontro aos 80 anos.

Fazer shows no Rio é uma das grandes alegrias de Marisa (“é sonho dourado, cantar e dormir na minha própria cama, não pegar avião... fora que vão os amigos todos e a família!”). Artista que nunca tinha ficado dois anos sem fazer shows, a cantora tem ido à beira das lágrimas na nova turnê.

— Tem uma sensação de alívio que eu compartilho com o público. Foi o primeiro show da volta para muita gente... É um reencontro, a volta a uma sensação de normalidade. Tenho repertório que já não é mais meu, tenho acesso à memória afetiva das pessoas e isso permite que eu promova essa celebração num momento tão duro.

Além das canções de “Portas” (como “Calma”, “Pra melhorar”, a faixa-título, e “Vento sardo”, gravada com o uruguaio Jorge Drexler), o novo show se beneficiou do enorme repertório que Marisa reuniu em seus álbuns ao longo de mais de 30 anos de carreira fonográfica.

— Fui juntando as músicas que eu não canto há muito tempo, as que eu estou com saudade de cantar, coisas novas, coisas antigas — enumera a cantora, que recuperou para o show, do seu primeiro LP, “MM”, de 1989, uma música que há muito tempo não cantava: a “Lenda das sereias”. — É um samba do Império Serrano, em retribuição à homenagem à Portela que o Pretinho da Serrinha fez comigo em “Elegante amanhecer”.

Por sinal, Pretinho está na banda de Marisa (na percussão e no cavaquinho), junto com outros parceiros dela em canções: caso de Dadi (baixo, violões e piano) e Chico Brown (filho de Carlinhos Brown, nos violões e piano). Além deles, sobem ao palco Davi Moraes (guitarra), Pupillo (bateria), Antonio Neves (arranjos de metais e trombone), Eduardo Santana (trompete) e Oswaldo Lessa (saxofone e flauta).

— Todos são músicos com cabeça de produtor, eles ouvem o todo, não só os seus instrumentos — elogia Marisa, que chega ao Rio após percorrer o Nordeste (shows em Fortaleza, Natal, João Pessoa, Recife, Maceió e Salvador) de ônibus com a equipe. — É melhor pegar um ônibus de cinco horas do que um avião de uma hora. Você tem que chegar duas horas antes ao aeroporto, tem o transfer... Já no ônibus, você vai da porta de um hotel para a do outro e ainda vai conversando, rindo, tocando violão. Há umas semanas a gente fez uns quatro mil quilômetros de ônibus nos Estados Unidos, e todo mundo gostou. Temos várias músicas começadas nessas viagens.

Diferença de Anitta

Hoje, em tempos de música digital, Marisa se vê bem mais como uma artista de show do que qualquer outra coisa.

— Não tenho 60 milhões de seguidores digitais, minha relação é mais na vida real, no palco. Tenho uma boa base de fãs, que não são tão voláteis, que conhecem a minha música e que estão ali por causa dela — diz ela, que há décadas mantém presença constante em palcos de médio porte dos Estados Unidos, da Europa e de alguns países da América Latina, e que não espera crescer para os grandes espaços e festivais internacionais, como Anitta. — A Anitta tem uma carreira bem diferente da minha, ela é uma artista digital que tem essa ambição pessoal. Ela tem muita garra, muita dedicação. Não tem jeito certo, tem o jeito de cada um.

A tal “carreira no exterior” é algo que Marisa vê com reservas.

— Não canto em inglês, nunca traduzi meu repertório para o espanhol, nunca quis uma carreira voltada para o mercado externo ou morar fora. E todos os brasileiros que construíram uma carreira sólida fora, de Carmen Miranda, João Gilberto e Tom Jobim a Bebel Gilberto e Sérgio Mendes, tiveram que morar fora — exemplifica. —Nunca fiz essa opção. Minha carreira sempre teve um espaço grande na minha vida, mas ela não é maior do que a minha vida. Meu objetivo é ser feliz, a vida é uma só.

Em 2022, sem alarde, completam-se 20 anos desde que ela, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes lançaram, com a música “Já sei namorar”, o bem-sucedido projeto Tribalistas.

— Para mim os Tribalistas têm 30 anos, porque eu comecei a compor com o Arnaldo em 1991 e com o Carlinhos em 92. Os Tribalistas são consequência não de uma amizade, mas de uma parceria que existia. De repente, a gente começou a compor juntos. E aí eu fui à Bahia gravar em um disco do Arnaldo que o Brown estava produzindo, e a gente criou esse repertório que virou o álbum (lançado em 2002). A gente não tinha muita pretensão, mas sabia que as músicas eram comunicativas, porque quando tocávamos para os amigos eles amavam — conta ela, para quem não haverá tempo para celebrar a efeméride.

Para este ano, ela tem outra preocupação, as eleições.

— Espero que as pessoas prestem atenção ao Congresso, para além da discussão de quem vai ser o próximo presidente. É importante ter melhores representantes ali — argumenta. — Espero também um país mais colaborativo, não tem como construir qualquer coisa brigando.

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