Mesmo que a tela do computador separasse o GLOBO de Paulo Miklos, a animação e ansiedade pelo lançamento de seu quarto álbum solo — o segundo desde que saiu da banda Titãs em 2016 — estavam nitidamente estampadas no rosto do artista de 63 anos. “Estamos na correria”, ele disse referindo-se aos compromissos de lançamento do trabalho “Do amor não vai sobrar ninguém”, disponível a partir desta sexta-feira (27) nas plataformas digitais.
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Ao longo de 12 faixas autorais, Miklos canta pelo e para o amor. Seja o amor romântico, familiar ou de uma amizade. Se por um lado o isolamento social impediu Paulo de subir aos palcos e cantar, por outro o ajudou a encontrar inspiração para escrever novas canções.
— Esse momento de isolamento me fez pensar no que eu sei fazer. Eu ia levantar e fazer o que, além de limpar tudo com aquele spray? (risos). Aí eu compus “Um sopro” e foi como uma chave de um portal. De repente eu estava falando sobre as canções e não sobre essa opressão toda e esse sufoco que passamos, estava falando de um ponto futuro — reflete o artista que, além de aproveitar o tempo de pandemia para escrever, desenvolveu o hábito de jogar baralho em casa.
Hobby esse que se misturou com o trabalho e virou letra de música. “Se o amor ainda existir”, faixa que encerra o novo álbum, fala da sorte das cartas e do jogo que cada um tem em mãos, brincando com termos e metáforas. “Não sou de blefar quando canto/ São as cartas que parecem ter outros planos”, diz uma parte da letra.
Assim como em seu último álbum “A gente mora no agora”, de 2017, o novo trabalho de Miklos o coloca na posição de uma sonoridade pop, com letras reflexivas mas que evocam positividade. Desde que começou como guitarrista e, por vezes, vocalista do Titãs, nos anos 1980, chama atenção por sua versatilidade musical:
—O Paulo sempre me pareceu o mais musical de todos os Titãs. De todos eles, Miklos é o cara que poderia assumir esse personagem do cantor romântico, do cantor pop com mais singeleza e naturalidade, em parte por causa do timbre da voz, em parte por causa das músicas que ele defendeu no próprio Titãs — opina o jornalista e apresentador do podcast “Discoteca Básica” Ricardo Alexandre.
E nada melhor que buscar elementos cotidianos para se fazer popular e gerar identificação. Foi assim que Miklos construiu “Do amor não vai sobrar ninguém”. Observando um grafite que traz o rosto do rapper Sabotage (assassinado em 2003) no conjunto habitacional Viela da Paz em São Paulo, ele resolveu fazer uma homenagem ao amigo que conheceu nos sets de filmagem de “O invasor”, em 2001 — filme em que Miklos estreou como ator. O nome da música fala por si: “Sabotage está aqui”.
—Aquela pintura sempre me chamou muita atenção. Ele está desenhado como um protetor daquele lugar. É muito lindo ter conhecido o Sabotage de perto e fiz essa homenagem afirmando que ele continua aqui, nos muros, nas homenagens e nos versos dele que são eternos e influenciam gerações — conta Miklos.
50% ator
Depois de “O invasor” Miklos se firmou como ator. Entre filmes e séries participou de 14 produções, que lhe renderam prêmios como o Kikito de melhor ator e o Festival Barciff de Barcelona por “O Homem Cordial”, que tem estreia marcada nos cinemas para esse ano. Além desse, Miklos protagoniza “Jesus Kid”, de Aly Muritiba, e está no elenco de “Clube dos anjos”, “Casamento a distância”, “Estômago 2” e “Manhãs de setembro", tudo com lançamento previsto para 2022.
— Eu sou 50% cada. Hoje tenho um pé na atuação e um pé na música. Não me imaginava fazendo personagens, atuando, aconteceu depois de um convite do Beto Brant e me realiza demais. Em 21 anos, tive uma experiência intensa, passando pelo cinema, TV e teatro — avalia Paulo.
Roteirizado e dirigido por Aly Muritiba, “Jesus Kid”, marcado para estrear em junho, conta a história de Eugênio (Paulo Miklos), um escritor de livros de faroeste que está passando por uma crise.
— Trabalhar com o Paulo é uma grande diversão e um prazer profissional. Foi a primeira vez que trabalhamos juntos, mas eu já sabia que ele era um grande ator, só não imaginava que fosse um ser-humano tão generoso. Quando escrevi o filme e comecei a pensar no elenco, logo pensamos nele, marquei um café e o convidei — elogia Muritiba.