Música
PUBLICIDADE

Por Nelson Gobbi — Rio de janeiro


 Sob regência do Maestro Isaac Karabtchevsky, Projeto Aquarius atrai milhares à Praia de Copacabana, em 2006  — Foto: Fabio Rossi  - 27/08/2006
Sob regência do Maestro Isaac Karabtchevsky, Projeto Aquarius atrai milhares à Praia de Copacabana, em 2006 — Foto: Fabio Rossi - 27/08/2006

Em 1972, quando a Orquestra Sinfônica Brasileira se preparava para o , ainda pairava a dúvida sobre a demanda do público para uma grande apresentação de música clássica ao ar livre. A resposta veio em 30 de abril daquele ano, quando Isaac Karabtchevsky regeu a OSB diante de um público de cem mil pessoas no Aterro do Flamengo, com um repertório com obras de Carlos Gomes, Tchaikovsky, Villa-Lobos e Lorenzo Fernandes.

A partir de então, a iniciativa virou sinônimo de música de qualidade e grandes audiências, em espaços como a Quinta da Boa Vista, a Praia de Copacabana e o Maracanãzinho. Idealizado pelo jornalista Roberto Marinho (1904-2003), por Péricles de Barros (1935-2005), então gerente de Promoções do GLOBO, e pelo próprio Karabtchevsky, o projeto voltado à formação de público e inclusão cultural rompeu o estigma de que música de concerto não encontraria público fora de casas como Theatro Municipal e Sala Cecília Meireles. Celebrando seu cinquentenário, o Aquarius voltará a levar grandes concertos a multidões em espaços públicos, a partir do dia 6 de agosto, na Praça Mauá, no Rio .

— No primeiro concerto, estávamos preocupados: será que o público viria atraído por Carlos Gomes, Villa-Lobos e outros compositores? A grande surpresa foi o afluxo de cem mil pessoas — ressalta Karabtchevsky. — O Rio jamais tinha presenciado espetáculos de música de concerto em recantos da cidade a não ser aqueles em que Villa-Lobos dirigia cantos orfeônicos, com capacidade limitada.

Após a estreia, o projeto conquistou outras metas ambiciosas, como a apresentação de “Eros-Thanatos”, balé do coreógrafo francês Maurice Béjart, no Maracanãzinho, em 1981. Ou a montagem da ópera “Aída”, de Verdi, que, com duas horas de duração e cantada em italiano, foi vista por 200 mil pessoas na Quinta, em 1986. Ou ainda o Balé Bolshoi com “Don Quixote” em 1989, diante de 180 mil espectadores, também na Quinta.

— O Aquarius é um dos maiores orgulhos da história do GLOBO. Há 50 anos, com criatividade e inovação, ele mostra que é possível levar erudição para grandes plateias — destaca Alan Gripp, diretor de redação do GLOBO. — O projeto já teve rock, samba, funk e fusões criadas especialmente para o público. Milhares de pessoas tiveram seu primeiro contato com a música clássica pelo Aquarius.

Foi nas fusões entre gêneros que o Projeto Aquarius mostrou uma de suas características mais inovadoras. Em 1975, Rick Wakeman, tecladista da banda inglesa de rock progressivo Yes, apresentou-se com a OSB no Maracanãzinho. Em setembro de 1984, meses antes da primeira edição do Rock in Rio, Barão Vermelho e Blitz participaram de um concerto para 50 mil pessoas na Praça da Apoteose (inaugurada em março daquele ano), antecipando um casamento entre rock e clássico que se repetiria em shows pelas décadas seguintes. Em 1983, o repertório com sucessos dos Beatles foi regido por ninguém menos do que George Martin, produtor e arranjador do quarteto de Liverpool, na Quinta da Boa Vista. E em 2015, na 43ª edição do Aquarius, que celebrou os 90 anos do GLOBO, o público presente na Cinelândia vibrou com as participações da bateria da Mangueira e do Dream Team do Passinho. Para o maestro Isaac Karabtchevsky, a “liga” entre música de concerto e demais gêneros está na qualidade:

— A música vem da mesma fonte universal, onde surgem suas diversas vertentes, seja o clássico, a MPB, o jazz, o rock. O Aquarius comprova há décadas que o grande público reconhece o que tem qualidade. No caso da música de concerto, mesmo quem não tem o contato frequente tem a sensibilidade de reconhecer o valor daquele repertório.

Clássicos na infância

Outro maestro importante na história do Aquarius, Roberto Minczuk reforça que, por mais que o público acredite não ter relação com o repertório clássico, a familiaridade já começa desde a infância.

— O primeiro contato com a música sinfônica geralmente é por meio dos desenhos animados, dos videogames. Ao assistir a grandes sucessos do cinema, estamos ouvindo alguns dos maiores compositores da nossa época, como John Williams e Danny Elfman. Nos concertos do projeto, as pessoas veem o instrumental por trás daquelas músicas que já conheciam sem nem se dar conta — comenta o maestro titular da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo.— Muita gente até hoje fala comigo sobre alguma apresentação que viu no projeto, alguns contam que decidiram se profissionalizar na música depois de um concerto. São sementes que vamos plantando.

As próximas sementes germinarão ao som da OSB, na apresentação prevista para 6 de agosto, na Praça Mauá. O nome do maestro convidado e o repertório ainda serão definidos, mas a proposta é que o concerto de retorno seja inspirado nas cinco décadas de história do Projeto Aquarius, uma realização do GLOBO com apresentação do Instituto Cultural Vale.

— É um momento muito especial para esta volta, com a OSB reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Rio (em janeiro de 2022), celebrando esta parceria de 50 anos com o GLOBO — enaltece Ana Flávia Cabral Souza Leite, diretora executiva da OSB. — Também é fundamental participar deste momento de retomada da cidade, depois da pandemia. A cultura faz parte do DNA do Rio, é importante para a autoestima ter grandes projetos como este.

Para Luiz Eduardo Osorio, vice-presidente executivo de Relações Institucionais e Comunicação da Vale e presidente do Conselho do Instituto Cultural Vale, iniciativas como o Aquarius ampliam as perspectivas de futuro do público:

— É com orgulho que o Instituto Cultural Vale se junta ao Projeto Aquarius em seus 50 anos, reafirmando que a música de concerto é de todos e para todos os públicos. Neste momento de retomada, ações como esta, em espaços abertos e com acesso aos mais diversos públicos, são essenciais para fortalecer o papel transformador da cultura em nossas vidas e ampliar possibilidades, muito além do tradicionalmente esperado, trazidas por ela.

Mais recente Próxima
Mais do Globo

Diretor de comunicações da presidência turca, Fahrettin Altun, afirmou que a plataforma 'impede pessoas de postarem mensagens de condolências pelo martírio do chefe do Hamas'

Turquia tira Instagram do ar após rede social censurar posts de condolências a líder do Hamas

Partida das oitavas de final termina em 2 a 0

Vôlei de praia: George e André perdem para alemães e estão eliminados da Olimpíada de Paris

Ela será motorista de coletivo e se inspirou numa mulher que trabalha numa viação de São Paulo

Juliana Alves passa o dia numa empresa de ônibus para o seu papel em 'Volta por cima'

Iniciativa faz parte de contrato firmado entre a Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos e a empresa Huma e já beneficiou outros pontos da cidade

Entrada do Túnel Santa Bárbara ganha grafite de artista urbano; veja locais no Rio que também receberão pinturas

Novidades criadas para facilitar o atendimento dividem opiniões de frequentadores

Do cheque à criptomoeda: novas tecnologias convivem com antigas formas de pagamento nos bares e restaurantes do Rio

Kim Woojin teve atuação quase perfeita e acertou 11 de 12 tiros; brasileiro nunca ganhou do coreano

Marcus D'Almeida é eliminado nas oitavas de final das Olimpíadas de Paris-2024: 'Perdi para a Simone Biles do tiro com arco'

Oferta de 25 milhões de euros não tem mais validade

Proposta do Fulham ao Fluminense expira e André aguarda novas investidas