Música
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Por Carminho; Especial Para O GLOBO — Rio de Janeiro

A pedido do GLOBO, cantora portuguesa escreve sobre o ícone baiano que completa 80 anos neste 7 de agosto; leia também os textos de Fito Paez, Jorge Drexler, Mario Lucio Vaz, David Byrne, Sônia Braga, Devendra Banhart, Igiaba Scego e Gilberto Gil. Abaixo, o texto de Carminho.

"Para Amar o Brasil.

Tento recordar a primeira ideia de Caetano Veloso em mim. Estou então na praça da pequena cidade de Santana do Agreste ao som de “Meia lua Inteira”. No tempo em que as canções e as vozes não se descolavam dos personagens da novela que me chegava, como nada igual, ao serão de casa de meus pais. Foi aí o grande choque ao realizar que, afinal, existia toda uma nação de artistas, compositores, intérpretes e poetas que construíam a História da música e do Brasil e que em nada se resumiam ao enredo que começava e, tristemente acabava, um ano depois… Pois bem; esta descoberta não se esgotaria jamais e eu abrira as portas para uma viagem infinita num fascinante novo mundo. Larguei as novelas mas jamais esquecerei o que fizeram por mim: apresentaram-me Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Dorival Caymmi, Elizete Cardoso, Chico Buarque, Nara Leão, Milton Nascimento, Maria Bethânia, Caetano Veloso e todos…

Principalmente em Caetano, recordo a estranheza em me relacionar com certas canções. Com as temáticas, mas também com as composições. Fazia-se já sentir essa denúncia da nossa relação como duas nações que se compreendem mas não se reconhecem. O que me era estranho era isso mesmo, sermos estranhos ao som da mesma língua. Mas o Brasil é nação que sempre entrou escancaradamente pelos sentidos dos portugueses e arrisco dizer ser, até hoje, Portugal quem mais se abeirou desse reencontro e busca.

Caetano Veloso e Carminho no 24ª edição do Prêmio da Música Brasileira  — Foto: Marcos Ramos
Caetano Veloso e Carminho no 24ª edição do Prêmio da Música Brasileira — Foto: Marcos Ramos

Amar é conhecer e quanto mais conhecia mais me apaixonava por essa voz. A mais melodiosa e ágil de todas as vozes. Atraía-me a busca pelos múltiplos sentidos, as mensagens encriptadas, as referências que davam lugar a novas descobertas. Foi Caetano quem me ensinou muito da música que sei hoje, mas também muita da coragem que tenho. Que me introduziu à controvérsia e à luta do Brasil que eu amo. Só por tentar seguir desajeitadamente as suas pistas, e assim aprendendo esta nossa língua.

Foram algumas idas e vindas, antes e depois de ter gravado o meu primeiro disco, até que conheço Caetano Veloso no prêmio da música brasileira, noite em que um Sabiá me fez pousar em solo mestiço como se chegasse finalmente a minha casa. E esse encontro, bem como todos os que se seguiram, revelaram-se genuínos gestos de generosidade e capacidade de dialogo que só assiste a quem é verdadeiramente elevado. Caetano Veloso é para mim um exemplo de coragem e incisão. Abençoado com o dom da gentileza e da beleza, transborda e propaga essa mensagem de amor, luta e transformação do nosso mundo, através do delicado gesto da arte.

Recordo as nossas longas discussões sobre o que ele pensava ser as minhas escolhas erradas do repertório jobiniano. Como esse confronto me fez crescer e fortalecer os meus argumentos. Espantei-me com a amizade e grandeza em se dignar discutir com a aspirante a argonauta. São ainda bem recentes as réplicas dessa degustação da bilinguidade da nossa língua portuguesa e do pensar que caminho tomar no respeito por cada uma destas nossas culturas e, sobretudo, pelo livre pensamento.

Caetano é um capítulo importante da Historia do Brasil e sempre que o ouvimos estamos a conhecer uma pequena ou grande nuance deste país e assim a amá-lo cada vez mais."

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