Música
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Por Jorge Drexler; Especial Para O GLOBO — Rio de Janeiro

A pedido do GLOBO, cantor e compositor uruguaio escreve sobre o ícone baiano que completa 80 anos neste 7 de agosto; leia também os textos de David Byrne, Mario Lucio Vaz, Sônia Braga, Fito Paez, Devendra Banhart, Gilberto Gil, Igiaba Scego e Carminho. Abaixo, o texto de Drexler.

"A primeira vez que vi Caetano Veloso foi no ano de 1985, durante o carnaval de Salvador da Bahia. Em traje de banho, e em meio a uma compacta massa de corpos banhados pela chuva, o suor e a cerveja, descia eu pela Rua Carlos Gomes atrás de um trio elétrico e a caminho da Praça Castro Alves quando, ao olhar pra cima, vi uma imagem do Caetano printada em uma faixa de rua que atravessava de um lado ao outro da avenida.

Como um semideus, ele sorria pra nós desde as alturas enquanto a sua cidade, transbordante de beleza inteligente, música, cor e desejo, o homenageava na sua maior festa popular.

Acho que foi a primeira vez que entendi, profundamente, o que a música podia significar em uma sociedade, assim como o papel que poderia chegar a ter na minha própria vida.

Compreendi também que existia um outro mundo além daquele opressivo e cinza dos tempos da ditadura no Uruguai, onde eu tinha crescido. Um mundo onde eu tinha algo a fazer: canções.

Jorge Drexler e Caetano Veloso em show em defesa do meio ambiente, realizado no Rio de Janeiro — Foto: Reprodução/Instagram
Jorge Drexler e Caetano Veloso em show em defesa do meio ambiente, realizado no Rio de Janeiro — Foto: Reprodução/Instagram

No Brasil de hoje, que aos poucos está se despertando de seu próprio pesadelo, também opressivo e cinzento, é difícil ver em perspectiva algo tão grande quanto a figura de Caetano. Mas eu – que embora me sinta em casa no Brasil, o enxergo de fora - posso me permitir ver o país como ele é: um gigante cultural que tem a canção popular como centro identitário.

Esse fenômeno incomum foi gerado por uma geração incomum de “cancionistas”.

Realmente incomum.

A concentração de talento na música brasileira do último meio século é algo insólito, talvez apenas comparável a fenômenos como o Século de Ouro espanhol ou o Tin Pan Alley de Nova York.

O Brasil protagonizou (e ainda protagoniza) uma espécie de Era de Ouro Tropical.

Talvez só ao longo de décadas vamos perceber o privilégio que foi termos sido contemporâneos de uma série de fenômenos da magnitude da Bossa Nova, do Tropicalismo e da MPB.

E Caetano Veloso é parte central da espinha dorsal desse milagre musical.

A sua excelência insólita, como compositor e intérprete, o coloca como um dos seus dínamos essenciais. Caetano, que tem conseguido se manter sempre atento, sempre aberto a cada época e evitando o abraço pétreo da consagração, aquela cabeça de Medusa que transforma em estátua de si mesmo o artista que assume sua própria glória.

Só o fui conhecer pessoalmente em novembro de 1993, quando ele foi tocar pela primeira vez no Uruguai, com “Circuladô ao vivo” (talvez o melhor show que já vi na minha vida!). O impacto que me provocou foi tanto que sua presença cênica reverbera em mim ainda hoje, cada vez que piso em um palco.

Caetano é belíssimo, por dentro e por fora, com essa aura de semideus que vi naquela faixa no carnaval de 1985.

Mais do que nunca, ele agora está aí: charmoso, inovador, inspirador e com aquela elegância natural realçada pelos seus tropicais 80 anos.

Quando eu for jovem quero ser que nem Caetano Veloso.

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