Música
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Por Sônia Braga; Especial Para O GLOBO — Rio de Janeiro

A pedido do GLOBO, atriz escreve sobre o ícone baiano que completa 80 anos neste 7 de agosto; leia também os textos de Jorge Drexler, Mario Lucio Vaz, David Byrne, Fito Paez, Devendra Banhart, Gilberto Gil, Igiaba Scego e Carminho. Abaixo, o texto de Sônia.

"Algumas pessoas passam pela sua vida e deixam lembranças. Outras chegam para ficar para sempre. Sem querer, ou querendo demais, você acorda e dorme com doces memórias. Uma viagem, um trem das cores, o gosto da maçã. Uma voz que docemente te faz entender que você vem de Maringá, e que você é uma cabocla.

80 anos e Caetano está mais jovem, mais inteligente, mais lindo. Uma estrela que ilumina com doçura nossos caminhos. Nos abre os olhos e braços. Neste momento, que delícia poder estar comemorando. Esse encontro é uma esperança. O Brasil terá muito para comemorar e já começa agora. A proposta de um encontro que não vai ter fim.

Não me lembro bem quando o vi pela primeira vez. Na Avenida São Luiz, em Sampa, talvez?

Me recordo muito da gente na praia, nos anos 70, meio nus, com biquínis e sungas de crochê para que a carne ficasse mais à vista, bem abusados.

Lembro de festas, conversas. Aqui e ali. No Baixo Leblon, muito. Os encontros até de madrugada, vendo filmes na televisão. Rindo muito, inventando palavras.

Nos anos 90 decidi fazer um filme no Brasil. Nunca é fácil voltar, mas ter sido recebida por Cacá Diegues para fazer Tieta e contar aquela história de Jorge Amado foi importante. E nesta volta Caetano também estava presente. Tieta ganhou alma, e nas palavras dele, a solidão. Lembro de “Motor da luz” e o vestido azul do Ocimar Versolato balançando com a brisa baiana... Quando vi cena e música casadas... “aperto em meu coração!”

Sempre visionário, Caetano me mostrou “A luz de Tieta”, que hoje ganha ares de hino, como a voz de uma pessoa que deseja a liberdade acima de tudo. A música é um grito, e um alerta: Nessa terra a dor é grande... / Que brilha mais do que milhões de sóis / E que a escuridão conhece também/ É a lua, é o sol, é a luz de Tieta

Que experiência vê-lo no palco. Nos shows, sempre com um sorriso aberto (o sorriso Caetano), olhando direto para reforçar a letra de “Tigresa” e derreter meu coração. (E então, como “Tigresa” não era minha?).

Cynthia, minha personagem na novela “Espelho mágico”, ganhou a música como tema. Ela ganhou e eu a roubei. Assumi “Tigresa”, virou minha. Hoje, apesar de eu explicar e insistir que Caetano não fez “Tigresa” para mim, as pessoas não acreditam e eu, no fundo, no fundo não quero que acreditem. Quero ser essa tigresa, só eu e mais ninguém.

Com tantas músicas feitas para mulheres e personagens, quando ele canta uma canção sentimos algo lá dentro, porque é sempre uma mulher que amamos e que nos traduz.

Sou a cabocla Maringá, descrita por Joubert de Carvalho, uma mulher que Caetano viu e com quem viajou no trem das cores. E entendeu quando eu apontava da janela e dizia:

E aquela (casa) num tom de azul quase inexistente, / azul que não há / Azul que é pura memória de algum lugar

Só Caetano entendeu que é esta casinha que quero. Ele sabe. Sou uma brasileira.

Como não amar alguém que vem reconhecendo em cada um de nós a verdade do que realmente somos, escrevendo a verdade do seu povo, mulheres e homens, tigresas e leões, tentando com poesia uma porta de saída, uma luz no fim do túnel? Com amor, consciência, tesão e responsabilidade.

Foi ele que gritou um dia: “Vocês não estão entendendo nada! Essa é a juventude que diz que quer tomar o poder?"

Virou-se e fez “Oração ao tempo”. E hoje, cada vez mais menino, com sorriso cada vez mais largo, estamos aqui para ouvi-lo e amá-lo.

Parabéns, Caetano, eu te amo.

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