Música
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Por Silvio Essinger


Bruce Dickinson: vocalista observa que, para influencers, 'tudo é eu, eu, eu, eu, eu’', enquanto, 'no mundo  do metal, tudo  é nós, o público' — Foto: Divulgação/John McMurtrie
Bruce Dickinson: vocalista observa que, para influencers, 'tudo é eu, eu, eu, eu, eu’', enquanto, 'no mundo do metal, tudo é nós, o público' — Foto: Divulgação/John McMurtrie

E mais uma vez — a quinta vez, haja vista que também se apresentaram nas edições de 1985, 2001, 2013 e 2019 — lá vem o grupo inglês Iron Maiden como grande atração de uma noite do Rock in Rio. Uma instituição do heavy metal, com 47 anos de história, o sexteto se apresenta hoje, a partir das 21h30, no Palco Mundo, como espécie de relíquia sagrada de um dia quase que totalmente voltado para o ruidoso e devastador estilo. Vocalista do Maiden (de 1981 a 1993 e de 1999 até hoje), Bruce Dickinson, de 64 anos, desmente a sisudez associada ao metal, com seu humor tipicamente inglês, ao tentar explicar a razão de a banda se manter no estrelato por tantos anos.

— Nós não somos bonitos, nunca fomos. Nós somos cães velhos, somos seis garotos ingleses feios com mais de 60 anos fazendo grande música — define Bruce (aliás, o mais jovem integrante do Iron Maiden) por Zoom. — O mundo hoje é tão estranho, com as mídias sociais e os influencers... Mas eu não acho que eles tenham tanta influência quanto eles acham que têm. Para eles, tudo é “eu, eu, eu, eu, eu”. E, no mundo do metal, tudo é nós, o público. O que fazemos é todo focado no que o público quer, não tem narcisismo. As pessoas pagam para ver algo real.

E desta vez o Iron Maiden chega ao Brasil (a banda já se apresentou em Curitiba e Ribeirão Preto, e no domingo encara um estádio do Morumbi, em São Paulo) com a força do álbum “Senjutsu”, lançado no ano passado — um sucesso tanto de crítica quanto de vendas . Três músicas desse novo álbum (a faixa-título, “Stratego” e “The writing on the wall”) estarão na abertura do espetáculo que a banda faz no país — o da turnê retrospectiva “The Legacy of the Beast”, interrompida pela pandemia.

— Temos essas três primeiras canções e um cenário que são completamente novos, com toda a pegada japonesa do novo álbum. É uma outra maneira de começar o show, bem mais musical do que costumávamos fazer. Agora vamos num crescendo, até que no fim você perde as estribeiras (risos) — promete Bruce. — Hoje em dia, “Aces high” (hit do álbum “Powerslave”, de 1984) é o nosso segundo bis, algo que nunca havíamos feito. Agora podemos terminar o show com o (avião cenográfico) Spitfire ainda voando. Foi uma ideia que tivemos por acaso, com o show já rolando.

Hoje, Bruce Dickinson enxerga o Iron Maiden como uma banda “com raízes no metal do fim dos anos 1970 e começo dos 80, feito por músicos que estavam cansados do punk e que queriam algo mais complexo, mas ainda com paixão e fogo”.

Seguimos por nossa própria conta e começamos a fazer canções mais longas, mais progressivas, que ainda tinham o elemento metal, mas também longas histórias. “Senjutsu” é parte de um processo que começou muitos álbuns atrás, ele representa a junção das nossas muitas influências e experimentos. Toda noite em que tocamos a canção de abertura um arrepio me percorre a espinha, parece que as hordas bárbaras estão vindo te pegar!

Os dias da Covid-19, o cantor passou em seu apartamento de um quarto em Paris, ao lado de sua companheira, a instrutora de fitness Leana Dolci. Lá, ele aperfeiçoou seus dotes culinários e as ideias que foram aplicadas no elogiado vídeo de animação para “The writing on the wall”.

— De vez em quando tínhamos umas reuniões por Zoom, com oito a dez pessoas, para discutir o storyboard e oferecer sugestões. O resultado é que hoje em dia todo mundo tem Zoom nos seus computadores, mas não vamos fazer shows por ali. Temos que sair e ver as pessoas — diz Bruce, lamentando o que o mundo passou durante o confinamento. — Os jovens sofreram, eles foram roubados de alguns dos melhores anos de suas vidas! E eu, que nem tenho tantos anos assim pela frente, também fiquei puto.

A volta dos shows para grandes plateias foi muito aguardada pelo Iron Maiden, que no entanto não se viu livre de contratempos. Em julho, em Atenas, o cantor foi parar no noticiário ao interromper o show para passar uma descompostura (farta em palavrões) num fã que disparou uma pistola sinalizadora do meio da multidão.

— Se nestes tempos o público fica meio fora de si em um show, isso é compreensível. O que eu acho é que nada justifica pessoas serem feridas. Há uma diferença entre ficar louco e agressivo e ficar louco e fervoroso (passionate). Fervoros é bom, e eu adoro essa palavra, ela resume bem o que é o Brasil: é paixão, é coração — explica. — A música nos une, mas não vale a pena morrer por ela. As pessoas têm que ser cuidadosas com os seus irmãos, protegê-los. As pessoas no Brasil em geral são assim. Mas, sempre que virmos alguma coisa dessas, vamos parar o show.

Memórias das vezes em que se apresentou no Rock in Rio com o Iron Maiden, Bruce Dickinson tem muitas. A maior — e mais querida — parte delas, porém, são da edição de 1985, a primeira vez em que esteve com a banda no país (“e aquela em que o Brasil nos descobriu”).

— Essa primeira edição do festival mudou nossas vidas. Ela foi louca e, posso dizer?, um tanto desorganizada, mas de um jeito maluco ela funcionou. Foi um evento extraordinário que talvez ninguém gostaria que estivesse totalmente sob controle — defende o músico. — Toda vez que a gente toca no Rock in Rio ainda tem um pouco desse espírito, embora o festival hoje seja bem mais organizado. Ele é uma espécie de porta-estandarte para toda a América do Sul, esse lugar com milhões e milhões de pessoas.

Uns bons dias antes dos primeiros shows da nova turnê brasileira do Maiden, Bruce já estava no país. Em Curitiba, semana passada, ele foi flagrado experimentando a nova cerveja do Iron Maiden, a Aces High Ale, fabricada na cidade.

— E estou até gostando da chuva no Rio! Cheguei antes para aproveitar alguns dias de descanso, coisa que não tive muito nos últimos meses. O Brasil me pareceu um ótimo lugar para se descansar. Os caras me convidaram para experimentar a nova cerveja deles, então eu fui a Curitiba para conhecer a fábrica. E o mais importante: era uma ótima cerveja! — elogia o cantor, que volta em novembro como palestrante da Rio Innovation Week. — Ainda vou conversar com a organização para decidir sobre o que vou falar, posso falar sobre muitas coisas!

De fato. Escritor, roteirista, esgrimista e fabricante de cerveja, além de cantor, pianista e astro de rock, Bruce Dickinson ainda tem em seu currículo uma atividade inusitada: piloto profissional de Boeings 747, “com mais de 6.500 horas de voo em linhas comerciais”. A atividade, ele desenvolveu paralelamente à carreira com o Iron Maiden. E, depois, conjuntamente: era Bruce quem pilotava o Ed Force One, o avião que carregava a banda e os seus equipamentos no começo dos anos 2000 (retratados no documentário “Iron Maiden: Flight 666”, de 2009).

Hoje, o cantor informa, boa parte das aeronaves que, adesivadas com o logo do Iron Maiden, serviram à banda, virou sucata. E ele mesmo não tem mais pilotado, desde que um câncer (curado em 2015) o obrigou a afastar-se de muitas das atividades extramusicais.

— Uma as regras é que você não pode pilotar depois dos 65 anos. Depois da pandemia eu pensei: será que ainda tenho tempo para isso? Tinha tantas outras coisas acontecendo que eu vi que não. Adoro aviões e tem muitas pessoas que podem pilotá-los, mas poucas que podem ser cantores do Iron Maiden! — reconhece.

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