Para quem estava sentindo saudade do velho Drake, depois de um álbum repleto de house music a embalar suas queixas amorosas (“Honestly, nevermind”, lançado em junho), a chegada esta sexta-feira ao streaming de “Her loss” traz boas notícias: o polêmico astro canadense está de volta ao hip hop, ao lado do parça 21 Savage (com quem dividiu a última faixa do álbum anterior, “Jimmy Cooks”), numa coleção de faixas cheias de rimas fumegantes de uma química entre MCs poucas vezes ouvida.
O problema de “Her loss” está no fato de Drake e 21 Savage passarem boa parte do disco se comportando como moleques de 12 anos de idade – começando por escolher a foto do rosto da dançarina e estrela do OnlyFans Qui Ysasuka (também conhecida como Suki Baby) para ornamentar a capa do disco, sem qualquer explicação.
Pode-se argumentar que essa é uma defesa da expressão feminina para além das convenções morais, mas a coisa fica estranha quando se escuta a música “Circo loco”.
Calcada em um sample desacelerado de “One more time”, da dupla francesa Daft Punk, a nona faixa de “Her loss” traz um ataque de Drake à rapper Megan Thee Stallion, atração do último Rock in Rio, que acusou o rapper canadense Tory Lanez de ter dado um tiro em seu pé após uma discussão. “Essa cadela mente sobre ter sido baleada, mas ela ainda é um garanhão (stallion) / ela nem entendeu a piada, mas ainda está rindo”, versa o rapper.
Nas redes, Megan respondeu, em tradução livre: “lembrem todos dos seus rappers favoritos que acobertaram o cara que ATIROU EM UMA MULHER”.
Menções pouco honrosas às mulheres aparecem em outras faixas do disco, como na romântica “Hours in silence” (“Meu álbum estava pagando as contas dela”), na autoexplicativa “Pussy & millions” (“você é o tipo de garota para a qual eu pago aluguel”) e até na tentativa, atabalhoada e machista, de falar sobre o woman power, em “Spin bout U”: “vi homens que nunca conseguiram uma b* no colégio / estabelecerem as leis sobre o que as mulheres podem ou não fazer”.
Tudo é provocação em “Her loss”, com rimas cheias de flow, mas que quase sempre acabam revelando a imaturidade de Drake e 21 Savage. Seja na relação com seus rivais (“Broke boys” é uma clara estocada do canadense em Kanye West, depois que o rapper perdeu muitos de seus contratos comerciais por causa de declarações infelizes) ou com as suas próprias caras metades.
Na melancólica “I guess it’s fuck me”, que fecha o disco, Drake lamenta o amor que foi embora e pergunta o que ele fez de errado. Pode ser a abertura para um mea culpa, mas versos como “os demônios que eu reconheço, muitos deles têm olhos bonitos / peitinhos e planos de se virar” não deixam muito espaço para um arrependimento convincente.
Cotação: Regular