Música
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Por Silvio Essinger — Rio de Janeiro

Conhecido pela parceria com o tecladista e arranjador Lincoln Olivetti (1954-2015), o multi-instrumentista e compositor Robson Jorge morreu há 30 anos, ainda jovem (tinha apenas 38), solitário, num hospital em Araruama, por hemorragia resultante do rompimento de uma variz no esôfago.

Partiu em silêncio esse que foi um dos maiores músicos de estúdio do Brasil e arquiteto do pop nacional, responsável pelas sonoridades que embalaram gravações de Tim Maia, Rita Lee, Jorge Ben Jor e Marcos Valle, e canções gravadas por Roberto Carlos e Cláudia Telles — isso, além de ter lançado em 1982 um LP em dupla com Lincoln, hoje reconhecido como clássico da MPB dançante.

Para marcar o aniversário da morte de Robson (em 19 de dezembro de 1992) e para jogar um pouco de luz sobre a sua obra, os pesquisadores musicais Marcelo Fróes (do selo Discobertas) e Ramon Duccini (do podcast Disco Voador) puseram esta terça no streaming o álbum “The MM Sessions (1985-1992), Vol. 1”.

É a reunião de fitas demo de canções inéditas e de composições gravadas por populares vozes, que estavam no arquivo do grande parceiro de caneta de Robson, o produtor Mauro Motta. E para o ano que vem, Robson Jorge Jr. (baixista, filho do artista) e Mary Lyn Olivetti (DJ, filha de de Lincoln) prometem uma continuação do LP de 82 da dupla, tirada de fitas que permaneciam inéditas.

— A culpa é toda desses dois enxeridos (Marcelo e Ramon), eles descobriram coisas que eu nem sabia que tinha — brinca Mauro, de 74 anos, que foi parceiro de Raul Seixas (1945-1989) em “Doce, doce amor”, sucesso de Jerry Adriani (1947-2017). — Não conheci ninguém que tivesse chegado perto do talento musical que o Robson Jorge tinha para tudo. Mas ele me faz falta é como figura humana.

As memórias levam Mauro Motta aos anos 1960, quando foi colega de colégio estadual de Robson Jorge (que, muitas vezes, ele prefere chamar, carinhosamente, só de Jorginho).

— Eu ainda não o conhecia pessoalmente, mas ouvia falar de um garoto que tocava violão muito bem. O tempo passou e só fui encontrar com ele na (gravadora) CBS em 1970 — conta Mauro, que depois, em 1974, se viu com a tarefa de produzir com o tecladista Lafayette uma versão do clássico pré-disco “TSOP (The sound of Philadelphia”), do MFSB. — Eram nove da manhã no estúdio e não tinha ninguém. O Jorginho passou, de bobeira, por lá e gravou bateria em quatro minutos. Depois, gravou um contrabaixo que era melhor do que o da música original, mais o piano e a guitarra. O Lafayette só foi lá para tocar o solo, que era muito simples. Ali você vê o grau de genialidade do cara!

Com Robson Jorge, em 1977, Mauro Motta fez “Fim de tarde”, um soul na onda de bandas como Stylistics e O’Jays, originalmente direcionado para o cantor Michael Sullivan — ela, no entanto, encontrou sua voz ideal na jovem Cláudia Telles, filha da estrela da bossa nova Sylvia Telles. A gravação marcou época ao levar para as rádios AM a riqueza da sonoridade negra americana.

— Eu comecei a fazer a melodia e depois o Jorginho terminou — conta Mauro, que juntou na gravação o baixista Picolé com Robson e o futuro parceiro do músico, Lincoln Olivetti. — Passei uns três anos na CBS pedindo a todos os produtores para usá-los como músicos nas gravações.

Ainda em 77, a CBS deu a chance a Robson Jorge de lançar um LP solo, que trouxe um clássico da black music brasileira, “Tudo bem”. O que não o transformou, no entanto, em um astro.

— O Jorginho não era um homem bonito. O artista não precisa ser bonito, basta pensar no Agnaldo Timóteo e no Charles Aznavour. Mas, por causa disso, a gravadora burramente não apostou no disco. E olha que o Jorginho já tinha sucessos! — revolta-se Mauro Motta, observando que o amigo não se se ressentia da falta de reconhecimento. — Ele não ligava para isso, o Jorginho era o ser mais humilde e e mais simples que eu conheci na minha vida. Nunca o vi reclamar da vida.

Muitas são as boas lembranças do produtor de tudo que ele que viveu na intimidade de Robson Jorge. Algumas, porém, ele prefere esquecer, como a de quando o amigo construiu uma piscina de oito metros de profundidade em sua casa:

— Um belo dia o Jorginho cheirou tanta cocaína e tomou tanta vodca que resolveu mergulhar... mas não tinha água na piscina! Ele levou mais de 300 pontos.

Capa do álbum "The MM Sessions (1985-1992), Vol. 1", de Robson Jorge e Mauro Motta — Foto: Reprodução
Capa do álbum "The MM Sessions (1985-1992), Vol. 1", de Robson Jorge e Mauro Motta — Foto: Reprodução

Pouco antes de morrer, Robson Jorge deixou seus arquivos de gravações para Mauro, um dos poucos amigos que o visitavam no hospital — e o único que foi ao seu enterro. Há um ano, Marcelo Fróes e Ramon Duccini começaram a vasculhar o acervo de produtor e compositor, com vistas a fazer um documentário, livro ou podcast.

— E aí apareceu muita fita cassete, DAT e mini disc com uma grande quantidade de inéditas do Robson Jorge. Havia desde esboços de canções a canções finalizadas a demos e gravações deles juntos, coisas geniais — diz Marcelo, que editou as inéditas e resolveu começar, com o Volume 1 das “MM Sessions” uma série de lançamentos em homenagem a Robson.

Gravadas num estúdio portátil Tascam de 4 canais, e com o auxílio, nos teclados, de Mauro Motta, as faixas do disco trazem versões originais, muitas vezes sem letra (na verdade, com algum embromation vocal de Robson), de composições da dupla gravadas por Roberto Carlos (“Amor perfeito” e “Canção do sonho bom”), Trem da Alegria (“Xa xe xi xo Xuxa”), Tânia Alves (“Eu quero o absurdo”), Gilliard (“Esqueça tudo”) e Jane Duboc (“Sonhos”, que foi feita para Cláudia Telles)

Verdadeiras janelas para o processo criativo da dupla Robson Jorge/Mauro Motta, com toda a sonoridade típica do pop dos anos 1980, as faixas da “MM Sessions” inaugural trazem ainda as inéditas “Olha pra mim” (que bem caberia na trilha de um filme como “Flashdance”), “Assume essa paixão”, “Sempre é verão para quem ama” e “Avise ao coração”. Músicas que, segundo Marcelo Fróes, estão aí à disposição para os artistas que as quiserem completar.

Uma dessas inéditas, por sinal, já está nas mãos de Nando Reis — uma canção que Robson e Mauro começaram a fazer para Jerry Adriani e não chegaram a finalizar.

— Era para ser um tema do Jerry, como o tema com que Elvis abria seus shows — revela Marcelo.

Já Robson Jorge Jr. (que tinha 11 anos de idade quando o pai morreu), conta que há um ano começou a vasculhar, junto com Mary Lyn Olivetti, os arquivos que cada um tinha em casa dos trabalhos dos pais. E os dois conseguiram recuperar quatro faixas instrumentais, gravadas logo após o LP de Robson Jorge e Lincoln Olivetti de 1982, que serão lançadas em EP em 2023 (junto com uma reedição desse primeiro disco). Quatro outras faixas inéditas estão em fase de recuperação.

— É um trabalho tão bom quanto o daquele disco de 82. Algumas coisas estavam com o Lincoln, outras eu tinha aqui. Às vezes ela achava alguma coisa lá e eu via que tinha faixa completa, e vice-versa — conta Robson. — Eles eram muito bons de trabalho, mas não tinham organização nenhuma. Passei 30 anos catando música do meu pai!

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