Música
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Por Silvio Essinger — Rio de Janeiro

De Nova York, Dom Salvador acompanhou os festejos de aniversário de 80 anos de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Milton Nascimento, artistas com quem conviveu no cenário musical dos anos 1960 e 70.

— Perto de mim eles são todos garotos! — faz graça o pianista, um dos luminares do samba-jazz, hoje aos 84 anos de idade e com um novo disco na praça, gravado em trio: “Samborium”, que por sinal acaba de ganhar a medalha de ouro de Latin Jazz do Global Music Awards.

A idade pesa, ele admite (“quando tinha 30, 40 anos, eu dormia pouco e isso não fazia diferença alguma. Hoje, se eu não durmo, no dia seguinte é um Deus nos acuda...”). Mas nada disso impede com que continue em plena atividade. De quarta a domingo, entre 18h30 às 23h, Dom toca piano no River Café, no Brooklyn. E depois volta de metrô para casa – uma rotina que já dura 45 anos.

— Comecei no River Café no dia 6 de junho de 1977, eu inaugurei a casa. Fui lá para tocar numa festa antes da abertura e me seguraram. Pensei que fosse ficar um mês, ninguém fica muito tempo nessas casas... para mim foi muito bom, porque eu era freelancer e tinha acabado de trazer a família para Nova York — conta.

Paulista de Rio Claro que participou da criação do samba-jazz nas boates do Beco das Garrafas, em Copacabana (com o Copa Trio, Salvador Trio e Rio 65 Trio), o pianista chegou ao fim dos anos 1960 como um respeitado músico de estúdio, que gravava com Elis Regina, Jorge Ben e Roberto Carlos. Em 1973, aceitou o convite de uma sobrinha que morava nos Estados Unidos para passar uns dias lá.

— Acabei ficando. Minha mulher veio oito meses depois, e meus filhos ainda ficaram mais dois anos no Brasil. Eu comecei do zero aqui, foi muito difícil — diz Dom, que chegou a ser diretor musical e pianista do cantor Harry Balefonte antes de conseguir o trabalho no River Café.

Com uma vida estruturada, filhos criados e formados (um psicólogo e uma socióloga), o pianista diz ter se sentido muito estranho quando a pandemia de Covid-19 o obrigou a afastar-se do café.

— Eu nunca parei, desde a idade de 14 anos, sempre tocando, fazendo uma coisa aqui, uma coisa lá... foi uma depressão geral, mundial — lamenta ele, que aproveitou o tempo em casa para começar a trabalhar com “dois maravilhosos músicos” brasileiros radicados em Nova York: o baterista Graciliano Zambonin e o contrabaixista Gili Lopes. — Um pouquinho antes da pandemia, eles estavam tocando com uma cantora, a Liz Rosa. Nos tornamos amigos e, como ninguém estava trabalhando, convidei os dois para fazer uma jam session aqui em casa. Daí surgiu a ideia de a gente fazer um disco.

Maxixe e gafieira

“Samborium” é um clássico álbum de samba-jazz, “sem muitos solos, mais no groove”, com temas de Dom Salvador (como “Samba da esquina”, o maxixe “Welcome” e “Gafieira”, que ele já tinha gravado com sexteto), uma de Billy Strayhorn (“Upper Manhattan Medical Group”) e três de um ás do jazz, o pianista Thelonious Monk (“Monk’s mood”, “Pannonica” e “Criss cross”).

— Tive a oportunidade de conhecer o Monk em 1967. Eu vim fazer uma temporada em Minneapolis, junto com o (flautista) Copinha, o (contrabaixista) Sérgio Barrozo e o Chico Batera. E coincidiu que ele estava fazendo uma temporada lá. Fui lá falar com o Monk, mas ele quase não falou nada, e nem olhava para a gente. Ele dançava mais do que tocava! — recorda-se Dom.

Para ele, estão bem vivas as memórias do início do samba-jazz, em 1964, no Beco das Garrafas.

— A gente estava fazendo uma pesquisa, porque o músico quase não tinha chance, ele só podia acompanhar os cantores. E aquela onda de bossa nova era quase toda baseada em violão, tinha que se tocar bem levezinho — conta Dom. — Aí que surgiu a ideia de fazer um negócio paralelo à bossa nova.

Hoje em dia, Dom Salvador tem atendido muitos jovens músicos o procuram para saber da história do samba-jazz. E alimenta planos de lançar um disco com seus choros e de vir ano que vem ao Brasil para shows do “Samborium” (que sai em fevereiro em LP):

— É muito bom, a gente vê que eles têm interesse em dar uma continuidade a uma coisa que nós criamos.

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