Música
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Por Silvio Essinger — Rio de Janeiro

A maior inspiração artística, o MC Cabelinho não se contentou em tatuar apenas uma vez – ele tem nada menos que quatro representações da cantora inglesa Amy Winehouse (1983-2011) espalhadas pelo corpo. No antebraço esquerdo, há o rosto de uma Amy adulta e um outro da artista aos cinco anos de idade. Pouco abaixo da orelha esquerda, está escrito “Amy”. E do lado esquerdo do peito, salta aos olhos a imagem de uma Marge Winehouse – improvável fusão da trovadora dos corações dilacerados com a matriarca do desenho animado “Os Simpsons”.

— A Amy escreveu sobre tudo que ela viveu, tudo que ela falava nas músicas era real. Ela era muito autêntica, é a voz mais original que eu ouvi até hoje. Eu me identifiquei muito com a Amy, ela não tinha vergonha de falar do sentimento dela nas músicas. Acredito até que o “LITTLE LOVE” tenha influência dela — admite o carioca de 27 anos, fazendo referência ao disco que lançou no apagar das luzes de 2022, e que teve a melhor estreia de um álbum de rap na história do Spotify Brasil.

Sexta maior estreia geral de álbum na plataforma no país, com 5,4 milhões de streams, “LITTLE LOVE” ainda fez história no trap nacional ao emplacar 11 de suas 13 faixas no Top 50 Brasil do Spotify. Depois do sucesso com o álbum “LITTLE HAIR”, de 2021 (que teve os hits “Essência de cria” e “X1”), o MC Cabelinho não sossegou e acabou lançando o novo álbum exato um ano depois do anterior.

— Depois que terminei o “LITTLE HAIR”, percebi que eu estava escrevendo várias love songs. No meio do ano, eu já estava com oito músicas prontas, e até dezembro, quando resolvi lançar o disco, apareceram outras — conta ele. — Eu tinha terminado meu antigo relacionamento e depois disso fiquei com várias minas. Tava solteiro, enfim, e tive experiências que me fizeram escrever o “LITTLE LOVE”. Ele é um disco de amor pequeno, de amor de fim de noite, aquele amor que acaba rápido.

Educação sentimental

Espécie de “Back to black” (o clássico álbum de Amy Winehouse) versão Cabelinho, o disco fala, em suas músicas, de tudo um pouco: do sexo matinal (“é o bagulho depois das resenhas”, explica) e dos casos inconsequentes (“prazer te receber na minha casa / a foda certa com a pessoa errada”, canta o MC em “Sexy”) às fraquezas emocionais (“eu sou maluco, neurótico e possessivo”, confessa em “Valho nada”) e os cuidados a se tomar enquanto pessoa pública (“não vamos falar, postar aquilo que rola entre a gente / melhor viver, saber aproveitar tudo intensamente”, sugere ele em “Grifinória”):

—Eu me envolvia com várias pessoas nas festas e todo mundo tava com celular na mão. Não queria que ficasse saindo bagulho meu em site de fofoca, mas saiu algumas vezes. O tanto que eu podia me prevenir, eu me preveni.

Mas na última faixa do disco, “A minha cura”, a coisa muda de figura. “Quem diria que o Cabelinho uma hora ia falar de amor?”, canta ele na romântica canção – a única do disco inspirada pela atriz Bella Campos, a Muda de “Pantanal" e agora protagonista de "Vai na fé", com a qual namora há quatro meses.

— É literalmente a minha cura, depois que todo aquele caos ali passou. É só um violãozinho e voz — derrama-se o MC, que conheceu Bella na preparação de elenco da Globo, para a novela das sete “Vai na fé”, que estreou no último dia 16. — A gente começou a conversar, pegou amizade, trocou número, marcou de se ver... e foi tudo acontecendo aos poucos. Na real, eu já fiz mais de uma música para ela, é porque eu só lancei essa aí. Ainda quero gravar um outro álbum para falar da minha nova realidade, e com certeza vai ter coisa sobre nós dois.

Em “Vai na fé”, os personagens de Bella (Jennifer) e de Cabelinho (Hugo) pouco se encontram. O rapaz é um grafiteiro que envereda pelo tráfico de drogas.

— O personagem até tenta voltar a fazer grafite e é apaixonado por uma mina, a Kate. Eles tiveram um passado, ele tenta reatar, mas ela não dá confiança, esnoba ele. Acredito que vá ter uma reviravolta, acho interessante mostrar os personagens saindo do tráfico, fazendo outra parada. É algo que acontece na realidade — diz ele, que já esteve na pele de um criminoso salvo pela música na novela “Amor de mãe”, de 2019. — Nas primeiras semanas, eu ficava vendo o Humberto Carrão, o Douglas Silva e a Regina Casé, todo mundo pertinho de mim, aquele pessoal que eu tinha visto na televisão... e eu estava contracenando com eles! Foi uma vitória na minha vida.

O MC cabelinho como Hugo, na novela “Vai na fé” — Foto: Divulgação/TV Globo
O MC cabelinho como Hugo, na novela “Vai na fé” — Foto: Divulgação/TV Globo

Humberto Carrão é só elogios ao companheiro de cena em “Amor de mãe”:

— O Cabelinho é dos atores mais rápidos e apaixonados pelo jogo em cena que eu já conheci. E olha que era a primeira vez dele fazendo isso! Estar perto dele, de sua alegria, do seu pensamento rápido e da sua grande criatividade é uma maravilha. Ele me ajudou muito na construção do personagem e segue me ajudando com sua força, sua música e amizade.

Cabelinho pensa em usar parte do seu tempo para continuar investindo na carreira de ator (“quem sabe eu faça outra novela, ou faça um filme, ou faça uma série...”), mas a música continua sendo a prioridade. Este ano ainda, ele (que recentemente se apresentou em Lisboa e Londres) planeja uma turnê só do “LITTLE LOVE”, para correr o país com “banda, participações e um cenário pica”. E logo deve lançar uma faixa bônus do álbum, com participação de ninguém menos que Anitta (eles já tinham feito juntos, em 2019, a faixa “Até o céu”).

— O Cabelinho é tudo! Um excelente profissional e uma ótima pessoa. Nos falamos ao telefone ainda no finzinho de 2022, com a ideia de fazermos mais um feat… e eu amei na hora. Muito feliz de poder acompanhar a trajetória do meu amigo — comemora a mais internacional cantora brasileira do momento.

Mudança de nome

Com uma carreira no funk iniciada em 2016, Victor Hugo Oliveira do Nascimento se tornou o Cabelinho aos 15 anos, quando começou a cantar.

— Todo mundo me chamava de Vitinho, Vitinho, Vitinho... até que eu disse que não queria esse nome para a minha vida e colocaram o apelido de Cabelinho. Eu sempre tive o cabelo arrepiado e pintado de louro, nunca mudei — conta ele, nascido na favela do Pavão/Pavãozinho, em Copacabana, onde ainda tem parentes e “amigos de verdade”.— Aprendi muita coisa lá, apesar dos perigos. A minha favela me inspira muito, comecei a rimar porque queria muito ser igual aos MCs da antiga, como o Orelha, o Tikão, o Frank e o Smith.

Há três meses, Cabelinho mora numa casa luxuosa e confortável no Recreio dos Bandeirantes. É um dos bens que ele não tem o menor pudor de ostentar no seu perfil do Instagram, onde tem quase 8 milhões de seguidores (e uma média de 1 milhão de curtidas por publicação).

É ali que ele faz declarações de amor a Bella e responde acusações, como a veiculada semana passa pelo site “Em off” de que estaria maltratando integrantes a produção de “Vai na fé” — no dia seguinte, num de seus stories, Cabelinho apareceu com o colega de cena Emilio Dantas, que dizia: “Responde, não, que tu vai dar seguidor pra otário!”

— Agora tá na hora de dar uma marolada, de curtir, de mostrar mesmo que venceu, até para inspirar outras pessoas. Porque se nós pode, eles também pode — defende o MC, que já trabalhou de estoquista em shopping, montou persianas, ajudou um tio a limpar oficina de carros e outro a vender papel de presente em final de ano em Copacabana. — Eu corria pra onde dava, tinha que fazer um dinheiro pra ajudar a família. E não fui muito bem no colégio não, mano. Parei de estudar no primeiro ano do ensino médio. Pretendo até voltar, quem sabe um dia fazer uma faculdade de Literatura ou Música.

‘Musicalidade intrínseca’

Produtor de alguns hits para Cabelinho, o pianista e arranjador Ariel Donato observa que, apesar de não ter uma educação formal, o MC sabe exatamente o que está fazendo quando entra no estúdio.

— O Cabelinho é um cara super engajado. Quando está no processo de criação, ele cria diversas de músicas. Muitas vezes ele compõe melodias na hora, e depois faz a letra. Ele cantava na igreja, e tem uma noção de tonalidade. Embora não saiba dizer tecnicamente o que é, ele sabe quando as notas estão fora da escala. É uma musicalidade mais intrínseca — define o músico, que guiou o MC em “LITTLE LOVE” por faixas sofisticadas como “Fogo e gasolina” (“que é um drill com r&b, duas estéticas bem diferentes”) e “Quem sou eu?” (“com um piano bruto, não sampleado, piano mesmo, que chegou a causar um estranhamento nos que primeiro ouviram o álbum”). — O Cabelinho é um cara que consegue surfar em várias ondas. Esse é um lado da evolução dele como artista, não sei se um ano e meio atrás ele me pediria uma faixa dessas.

Além de Amy Winehouse, o rapper admira grandes astros do trap, como Travis Scott, Quavo e Post Malone (“e de vez em quando eu ouço uns pagodes aí, mas é muito raro”). Para ele, no Brasil, “o trap ainda tem que ganhar mais do que o sertanejo”.

— Eu queria ter um feat com o Travis um dia! Acho que é só uma questão de tempo. Eu tô fazendo (aulas de) inglês duas vezes por semana, tá complicado (risos). Quero experimentar cantar em inglês para ver qual vai ser — revela Cabelinho, que há seis meses criou a sua própria gravadora, a Bairro 13, para lançar músicas “do pessoal lá do morro, os MCs que estão começando agora”, como Vinicin, Brutus, A.R. e Amorim. — A intenção esse ano é fazer eles voarem cada vez mais. Agora estamos procurando um lugar para botar estúdio e escritório juntos, que vai ser tipo um QGzinho do Bairro 13.

O MC Cabelinho — Foto: Guito Moreto
O MC Cabelinho — Foto: Guito Moreto

Assolado, em outros tempos, por algumas acusações de apologia o crime (“a gente está cantando o que se passa na nossa realidade, o que me deixa puto é que eu fiz o papel de um traficante lá no “Amor de mãe” e não fui intimado por causa disso!”, reclama), Cabelinho acredita que o real problema nessa história toda é o asfalto não gostar de ver a favela vencer.

— Na minha visão, eles queriam que a gente vivesse na merda pra sempre. Acredito que agora alguns estão mudando os olhares sobre nós, mas muitos ainda têm um preconceito. Vê nós morando aqui nesse condomínio, do lado de um desembargador, do lado de um médico... e aí eles ficam se perguntando: “O que esse cara fez pra estar aqui?”. Os caras ficam putos porque às vezes a gente está ganhando mais do que eles!

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