Música
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Por Hank Shteamer, The New York Times

Em uma noite de sexta-feira no final de janeiro, já estava quase hora do show começar no Village Vanguard, em Nova York, mas o baixista Christian McBride ainda não havia chegado. Mais cedo, naquela mesma noite, ele havia se entusiasmado com outra apresentação, com um novo quinteto liderado pelo pianista Brad Mehldau, entre goles de vinho do porto e baforadas de cachimbo no Carnegie Club, no centro de Manhattan.

"Está começando a soar como uma banda", disse ele, sobre a semana de shows com ingressos esgotados.

Conforme o horário do show se aproximava, ele enfrentava o tráfego pesado da Times Square em seu carro, ao som da bateria de Bernard Purdie. McBride chegou apenas alguns minutos atrasado, demonstrando o que já havia dito outras vezes, com sua voz rouca e suave, sobre não exigir nenhum ritual pré-show: “Eu só apareço e toco”.

A confiança de McBride agora parece óbvia. Aos 50 anos, ele possui um dos currículos mais impressionantes entre músicos de jazz em sua faixa etária: oito Grammys; centenas gravações ao lado de nomes como Willie Nelson, Paul McCartney, Abbey Lincoln, Queen Latifah e seu colega de escola Questlove. Ainda teve papéis de destauqe nos bastidores, como apresentador do "Jazz Night in America", da NPR, e diretor artístico do Newport Jazz Festival.

Ele participa de vários grupos, incluindo uma big band de metais, o elegante quinteto de hard-bop Inside Straight e o quarteto New Jawn, com o qual ele lançou seu 18º álbum, “Prime”, neste mês. Entre músicos, ele cultivou um nível de boa vontade intergeracional que poucos outros artistas, dentro ou fora do jazz, podem reivindicar.

“Christian sempre tem certeza das coisas”, escreve o guitarrista Pat Metheny, um colaborador intermitente desde o início dos anos 1990, em um e-mail. “Não há um momento de indecisão ou espera com Christian. Ele está atento a tudo o que está acontecendo e se ajustando e permitindo o momento, mas sempre com uma visão da sintonia, das mudanças, do tempo e, o mais importante, do espírito de tudo.”

A baterista Savannah Harris trabalha com McBride em um novo projeto ainda sem nome que o baixista chama de sua banda Geração Z.

— Poucas pessoas de sua geração são marcantes por ter o respeito das instituições artísticas, de seus colegas e das gerações mais novas, nas ruas — diz ela, incluindo McBride nesse grupo restrito. — E das pessoas em quem estou pensando, ele talvez seja a principal ponte.

Embora tenha começado a receber atenção nos 1990, McBride enfatiza que sua ascensão foi gradual.

— Os revisionistas dizem que minha carreira começou com um estrondo — diz, com um sonora risada. — Não, começou num ritmo muito lento.

Sua vida era instável no início de 1990. Perto de completar 18 anos, ele abandonou a prestigiada escola de música Juilliard School, após dois semestres, em parte para fazer um show com a vocalista Betty Carter, que acabou fracassando. Começou a trabalhar com mestres como o trompetista Freddie Hubbard — e teve que lidar com os trotes comuns no jazz da época. Ele guarda histórias de humilhações sofridas quando estava começando, como a vez em que um saxofonista veterano o questionou durante uma jam session, gritando acordes de uma música inexistente. Mas McBride tinha personalidade forte e já tinha enfrentado provocações antes.

— Sempre me provocavam por causa do meu tamanho, porque eu tinha dentes grandes. Garoto gordo, todo esse tipo de coisa — lembra ele na cozinha de sua casa em Montclair, Nova Jersey, enquanto Ella Fitzgerald, sua mistura de beagle cocker spaniel roncava pacificamente na cama.

“Vou ser melhor do que você”, McBride lembra de pensar sobre aqueles que zombavam dele. "Vou trabalhar duro, ter boas notas e vou sair da escola e fazer alguma coisa.

— Então, acho que havia uma parte de mim que sabia jogar o jogo longo.

O baixo como vocação de vida

Ele começou a tocar baixo elétrico aos 9 anos inspirado por seu pai, Lee Smith, baixista de bandas como Delfonics e Mongo Santamaria, e incentivado por seu tio-avô, Howard Cooper, que trabalhou com músicos de vanguarda. Desde o início, tratou o instrumento como a vocação de sua vida. Estudou técnica clássica e passou a tocar em uma big band em Filadélfia, onde cresceu. Chegou a Nova York em 1989, com uma ética de trabalho impecável que nunca vacilou.

— Diga o que quiser, você não pode me acusar de trabalhar pouco — brincou durante o show no Carnegie Club.

No início, McBride foi considerado um acólito diligente do jazz seguro, derivado do bebop. Mas conforme se estabeleceu trabalhando com músicos renomados como Hubbard, o saxofonista Joe Henderson, o baterista Roy Haynes e o pianista McCoy Tyner, ele revelou a amplitude de seu panteão pessoal em seus próprios álbuns. Em “A Family Affair”, de 1998, revela uma obsessão por James Brown. Já em “Live at Tonic”, de 2006, traz inspirações de Herbie Hancock no início dos anos 70 a Jimi Hendrix. A New Jawn traz Marcus Strickland no saxofone tenor e clarinete baixo, Josh Evans no trompete e Nasheet Waits na bateria.

O amor pela colaboração trouxe a ele oportunidades totalmente diferentes.

Ele fala com admiração sobre uma recente apresentação ao lado de Billie Eilish, em uma homenagem à cantora Peggy Lee, em 2022 (“Ela conhecia o material como a palma da mão”). E reflete sobre a tarefa “tortuosa”, mas recompensadora, de reconciliar as abordagens díspares dos saxofonistas Ornette Coleman e Sonny Rollins quando ele estava no baixo e Coleman apareceu no show de aniversário de 80 anos de Rollins, em 2010.

Mas o que pode faltar para um músico como McBride, que, aos 50 anos, aparentemente já tocou com todo mundo?

— Tenho três pessoas na minha lista de desejos — ele responde sem hesitar. — Gladys Knight, Dolly Parton e Mary J. Blige. Quero escrever para elas. Eu gostaria de fazer um projeto de big band com cada uma deles.

Então ele volta atrás para esclarecer sua resposta, mostrando a combinação de determinação e indiferença que se tornou sua marca registrada.

— Quer dizer, não que importe muito. Só queria tocar algumas notas com elas.

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