Conheça as MCs empoderadas que levam a ode ao prazer feminino para o mundo machista do trap

Também de Queimados é Ebony (22 anos), que com o rap e a produção da conterrânea lançou outra granada de sexo explícito, “100 mili” (“tenho fome, muita fome / tenho várias qualidades, não tenho medo de homem”). Na noite deste sábado, o trio enfim se encontra no palco, na noite Deezer do CarnaMango, festival que acontece até o dia 25 no BCo. Space Makers, espaço cultural administrado por mulheres, no Santo Cristo, na região central do Rio.

— Agora somos uma divina trindade. As apelonas! — brinca Larinhx, que no próximo dia 17 lança “8 quilos”, primeira faixa do trio e uma ode ao órgão sexual feminino, que elas não cansam de exaltar em suas faixas.

As três dizem não ligar para o que o povo fala delas.

— Eu e Larinhx, a gente estava conversando com (o MC de trap) Major RD outro dia e eu mostrei uma letra. Ele falou: “Ah, eu fico com vergonha, você fala muita merda...” Aí eu disse: “Bofe, você é o Major RD! Como assim?” — gargalha Ebony. — Não é nem tipo um papo feminista, mas acaba que é também. Os bofes falam de sexo o tempo inteiro e aí, na hora que a gente fala que também gosta de fazer as coisas, eles ficam chocados?

Larinhx (que, assim como Slipmami e Ebony, tenta preservar sua vida pessoal por trás de um nome artístico) diz que muitos não entendem seus personagens nem “a maneira como gosta de se expressar”.

— Tem várias pessoas que dizem: “Pô, achava que você era safadona!” Somos fofinhas! — provoca a DJ, que ainda levantou a bandeira LGBTQIA+ em 2021 com o álbum “Eu gosto de garotas”, feito com MCs que vão de Slipmami à pioneira Deize Tigrona. — Todo mundo aqui tá no bi, todas nós. Mas também acho que tudo bem não falar sobre isso. Querendo ou não, a parada é íntima. A Ludmilla demorou a vida toda para se assumir, você acha que ela começou a ser bissexual ontem?

Garota que entrou na música aos 12 anos, depois da morte do avô (“fiquei muito deprimida e, com 14 , gravei meu primeiro funk, que viralizou”), Larinhx chegou, via internet, a Slipmami — a menina do outro lado da Baixada, que gravava funks debochados em seu celular.

— Comecei muito despretensiosa, nem imaginava que eu ia conseguir fazer rap de verdade. Aí a Larinhx ouviu uma música minha e me pediu umas vozes. Mas a gente se conheceu mesmo na festa Wobble, em Copacabana — conta Slipmami, que, sim, é grande fã do grupo mascarado de heavy metal Slipknot.

Larinhx recorda:

— Quando vi a Slipmami na Wobble, falei: “Tem que botar essa menina para cantar aqui, vai ser um bagulho muito impactante!”

Quem estava de olho era Leo Justi, DJ, produtor e fundador do coletivo/selo Heavy Baile. Ele contratou Larinhx em 2020, Slipmami no ano seguinte e Ebony (que já tinha lançado um álbum por outro selo) em 2022.

— Eu e a Larinhx temos as mesmas referências do rock e do indie, apesar de ela ser 13 anos mais nova que eu. E a Slipmami é a única rapper que eu conheço que tem essa atitude, bem-humorada, de se assumir como celebridade sensual nas redes e colocar o rock de forma tão indigesta — conta Justi.

Para Ebony, o importante na nova fase é se arriscar: