Música
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Por Mari Teixeira


Ana Castela — Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Ana Castela — Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

Quando Ana Castela apareceu no topo das paradas no ano passado com o hit “Pipoco”, criou-se uma curiosidade geral: quem é esta garota? A revelação sul-matogrossense, então com 18 anos, cantava um sertanejo diferente. Apresentando-se como “boiadeira”, sua canção trazia som de berrante e letra cheia de referências ao universo agro; ao mesmo tempo, o hit tinha participação da funkeira MC Melody e uma batida eletrônica cortesia do DJ Chris no Beat.

Seis meses depois, Ana se estabeleceu (hoje, ela tem seis canções no Top 50 Brasil do serviço de streaming Spotify) e trouxe consigo todo um subgênero: o agronejo. Em janeiro, os nomes mais representativos do segmento, reunidos no projeto Fazendinha Sessions, lançaram o EP “Vai ser bão pra lá”.

São cinco faixas nas quais Us Agroboy, Luan Pereira, Loubet, Lucca & Mateus, Lucas Reis & Thácio e a própria Ana Castela repetem a fórmula de exaltar a vida rural entre beats urbanos. Para ser agronejo, a letra precisa falar de “bota”, “chapéu”, “laço” e “boiada”, por exemplo, enquanto um ritmo dançante amarra tudo.

Os idealizadores do Fazendinha Sessions são, além de Ana e Luan, Us Agroboy, dupla formada (a despeito da grafia e da concordância) pelo goiano Gabriel Vittor e pelo mineiro Jota Lennon. Os dois, que se conheceram em 2017, já atuavam nos bastidores compondo e tentavam inserir essa “união da cidade com a roça” nas suas músicas, mas dizem que “não era todo mundo que entendia a proposta”.

— A gente então resolveu investir em artistas que quisessem trazer para o mercado esse estilo, que surge de um lifestyle. E fizemos o projeto como um movimento de fortalecer todo mundo junto — explica Gabriel.

SC Agronejo: Da esquerda: Us Agroboy (Jota Lennon, Gabriel Vittor), Loubet, Lucca & Mateus, Ana Castela e Luan Pereira — Foto: Fábio Rojas
SC Agronejo: Da esquerda: Us Agroboy (Jota Lennon, Gabriel Vittor), Loubet, Lucca & Mateus, Ana Castela e Luan Pereira — Foto: Fábio Rojas

Jota Lennon, nascido Jamil Lennon Gomes Corte, começou como locutor de rodeio aos 4 anos na arena de Barretos. Ele cita essa experiência como fundamental para formação do agronejo.

— O DJ do rodeio não toca só sertanejo. Ele toca funk, toca rock. Então eu sempre tive referência de outras sonoridades. Além de gostarmos de trap e funk, a gente sabe da grande relevância que esses ritmos têm hoje — explica Lennon. — O jovem da roça não quer só ouvir sertanejo, então a gente achou uma maneira de juntar tudo, fazer um som mais moderno e trazer para um público mais abrangente.

Para Marcus Bernardes, pesquisador de sertanejo, à frente do “Blognejo” há 15 anos, o agronejo está para o sertanejo assim como funk ostentação está para o funk. É uma “agro-ostentação”.

— Falar da roça sempre foi natural no sertanejo. Mas não dessa forma mais jovem, como o agronejo tem feito. Eles falam da riqueza do interior e estão agregando a linguagem do funk com letras mais sensuais e jogo de palavras. Por exemplo, a palavra “bota” é usada para falar tanto do calçado quanto no sentido erótico.

Ainda segundo Marcus, o termo veio para rotular um movimento que vinha acontecendo há dez anos e amplificou o que já faziam os artistas do “sertanejo bruto” (vertente caracterizada por vozes graves e influências do funk) em que se destacavam duplas como como Jads & Jadson, Pedro Paulo & Alex e Munhoz & Mariano.

E se engana quem associa o agronejo à região Centro-Oeste do país. O fervo é mesmo em Londrina, no norte paranaense — fato ressaltado em uma faixa do EP chamada de “Som do Paraná”. Vale lembrar que grandes estrelas do sertanejo surgiram na cidade, como Fernando & Sorocaba e Luan Santana.

Para ser mais exato, o movimento nasceu na Casa Amarela, uma espécie de república onde Us Agroboy e outros músicos se reuniam para compor e acabaram descobrindo talentos como Ana Castela e Luan Pereira.

Em 2021 veio o primeiro sucesso que viria a ser conhecido como agronejo: “Os meninos da pecuária”, da dupla Léo & Raphael — que, aliás, ficaram conhecidos pelo título do hit. A música é retrato perfeito da vertente do gênero. “Não é à toa que o PIB começa com P, de pecuária [...]/ Calculo o valor que tá o gado/ Quantas Ferrari tem aqui nesse pasto”, eles cantam em um trecho. O clipe, que mostra a dupla em uma fazenda junto de estatísticas sobre a criação de gado no Brasil, tem mais de 85 milhões de visualizações no YouTube.

—Essa música foi um divisor de águas. Inaugurou uma nova maneira de nos comunicarmos com nosso público — diz Raphael. — Sabemos do legado de sermos “os meninos da pecuária”, e da importância para a bandeira do agronejo.

O sertanejo no divã

Ainda que conte com vários hits, o estouro de Ana Castela e um festival em preparação, ainda há resistência de alguns ao estilo agronejo. O pesquisador Marcus Bernardes diz quem gosta de “um sertanejo mais tradicional” tem dificuldade em aceitar os artistas do segmento.

— Por mais que uma galera fique com um pé atrás, a vertente é a tradução literal do que rola na roça hoje — avalia Marcus. — Faltavam músicas para o jovem que mantém o jeitão caipira de usar chapéu, bota, fivela, e que consome música eletrônica, que valoriza som automotivo, coisas mais comuns nas áreas urbanas.

O cantor Luan Pereira corrobora o pensamento:

— Muita gente acha que essa mistura de batidas é um negócio e que esvazia a essência do sertanejo, mas eu discordo. Acho que na verdade a gente só está desenvolvendo e evoluindo o gênero sem se prender a uma zona de conforto. Isso que torna o agronejo especial: a forma com que acolhe pessoas e outras sonoridades.

Além da reunião de nomes no projeto Fazendinha Sessions, os artistas do agronejo se apoiam lançando constantemente parcerias entre si. No último dia 2, foi disponibilizado nas plataformas digitais o EP “AgroPlay Verão Vol. 1” (da AgroPlay, produtora dedicada ao segmento) com quatro músicas em que participam Ana Castela, Luan Pereira, Us Agroboy e Léo & Raphael.

Maior estrela do agronejo, Ana Castela acha que ele veio para fortalecer o sertanejo de maneira geral. E a artista vem mostrando isso. No Top 50 Brasil, divide faixas com Israel & Rodolffo e Naiara Azevedo, estrelas do sertanejo “tradicional”, e, ao lado de Luan Pereira, tem uma parceria com Zé Felipe, astro do piseiro.

— Tem espaço para todos. As novas vertentes trazem novos artistas e, por consequência, novas histórias e influências para o estilo. Isso só fortalece o movimento sertanejo como um todo — diz a cantora.

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