Música
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Por Silvio Essinger — Rio de Janeiro

Carioca da Rua Paissandu, no Flamengo, Flora Purim se casou cedo. Já morando em Copacabana, ela viu o país começar a viver sob o jugo dos militares (e o clima do casal já não estava muito leve). Mas havia a música: ela cantava e conheceu o baterista Dom Um Romão (“que me salvou do primeiro casamento, ficamos muito amigos e o amor foi rolando aos poucos”).

Por intermédio de Dom Um, ela entrou para a orquestra do maestro Cipó e não deixou de alimentar o sonho de se tornar cantora de jazz. E assim, no Natal de 67, desembarcou em Nova York.

— Fui para passar um mês e não voltei mais, conheci músicos fantásticos que me ensinaram muito. E, de repente, passei a fazer parte daquelas coisas que eu sonhava — conta Flora, 80 anos, uma das maiores cantoras do mundo, que este domingo disputa o Grammy de melhor álbum de jazz latino por “If you will”.

Em entrevista por Zoom, de Curitiba — onde vive com o marido de muitos anos, o percussionista Airto Moreira, ao lado de quem construiu sua carreira internacional a partir dos anos 1970 —, Flora celebra o fato de ter conseguido todo o reconhecimento no jazz mesmo sendo do Brasil — e mulher:

— Mas a Anitta (que no domingo também disputa o Grammy, mas o de artista revelação) também conseguiu! Eu ouço (a música dela) de vez em quando. Acho ela muito ousada, ela pensa em direitos humanos, dá oportunidade para pessoas de todos os tipos... e quer ganhar dinheiro. Eu também cheguei nessa encruzilhada: ganhar dinheiro ou ser livre, feliz. Mas consegui fazer as duas coisas.

Flora diz não ter grandes expectativas para o Grammy (“a concorrência é forte”), lembrando que com dois dos concorrentes (o pianista panamenho Danilo Perez e o trompetista cubano Arturo Sandoval) ela fez parte da United Nations Orchestra do trompetista Dizzy Gillespie — com a qual, aliás, ganhou um Grammy:

— É, em 1992! Naquele ano, ganhei dois, um com eles e outro com o (baterista do Grateful Dead) Mickey Hart. Poxa, faz tanto tempo! E fui indicada ao Grammy também em 1985 e 86 (por melhor performance vocal de jazz). Foi uma época muito boa para a música.

Apesar de ter se despedido dos palcos brasileiros no ano passado, junto com Airto (o pai da percussão moderna, que recentemente recorreu a uma vaquinha virtual para tratar de problemas de saúde), Flora vai dia 18 para Garanhuns, em Pernambuco, onde será homenageada pelo tradicional festival de jazz da cidade.

— Mas claro que se a Baby (do Brasil) estiver lá, é capaz de eu subir e dar uma canjinha com ela, somos amigas há muitos anos — conta a cantora, que vai sem Airto. — Ele melhorou muito, mas ainda não pode andar, tem problema no joelho. Um amigo percussionista vai ficar com ele aqui.

“If you will” era para ter sido o último disco da carreira de Flora Purim.

— Eu passei dois anos dizendo que não (ia mais gravar), mas a família e uma DJ italiana chamada Roberta Cutolo me convenceram de que se eu fizesse um disco todo mundo ia gostar — conta. — Eu dizia: “Gente, a minha geração já era, tem pouca gente aí...” Mas fiz o disco para uma companhia pequena, com pouco dinheiro. Muita gente tocou sem receber, mas todos se agarraram à chance de fazer um som novo, e isso foi maravilhoso.

Despedida na Europa

Hoje, ela não só admite a possibilidade de fazer mais um álbum, como a de voltar aos palcos:

— Eu sei que estou em boa forma vocal, ainda estou com muita força. E se eu ganhar esse Grammy, quero ir para a Europa, tenho a oportunidade de fazer alguns concertos. Escolho os melhores festivais e vai ser a minha última rodada, com certeza. Eu já me despedi do Brasil, mas a grande maioria dos meus fãs está lá fora.

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