Música
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Por Rafael Garcia — São Paulo

Usando DNA extraído de cinco mechas de cabelo de Ludwig van Beethoven (1770-1827), um grupo de 33 cientistas sequenciou o genoma do compositor alemão e revela que ele tinha uma propensão genética a doenças no fígado. Junto com uma infecção por hepatite B e de seu consumo regular de álcool, essa condição inata provavelmente contribuiu para sua morte, dizem os pesquisadores.

O trabalho, liderado por centros de pesquisa ingleses e alemães, joga luz também sobre a família do compositor, mostrando que algum de seus ancestrais seria fruto de um caso extraconjugal. Uma das possibilidades é que o pai do compositor, Johann van Beethoven, não fosse filho biológico de seu avô, por ser uma das pessoas da família sem registro de batismo conhecido.

A pesquisa, que analisou inicialmente oito mechas de cabelo atribuídas ao músico, mostrou que três delas não eram autênticas. Uma delas era a única que já tinha sido objeto de análise química mais detalhada e havia concluído que o compositor sofrera intoxicação por chumbo.

Causa da surdez

Mecha de cabelo de Beethoven que pertence ao colecionador Kevin Brown, da Sociedade Americana Beethoven — Foto: Kevin Brown
Mecha de cabelo de Beethoven que pertence ao colecionador Kevin Brown, da Sociedade Americana Beethoven — Foto: Kevin Brown

Essa hipótese, que oferecia uma possível causa de sua surdez, fica agora descartada, afirmam os cientistas. Após a análise de DNA ficou claro que essa mecha de cabelo pertencia na verdade a uma mulher. Por outro lado, a causa da perda de audição que o compositor começou a enfrentar aos 20 anos não parece ter fundo genético e, segundo a pesquisa, permanece um mistério.

As revelações foram resultado do projeto de uma década liderado pelo geneticista Tristan Begg, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. O trabalho também teve participação do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, de Leipzig, na Alemanha, que ganhou notoriedade por sequenciar o DNA de múmias egípcias e hominídeos pré-históricos.

Segundo Begg, a investigação sobre os problemas de saúde de Beethoven, que também incluíam frequentes episódios de crise intestinal, é a materialização de um desejo do compositor manifestado a seu médico J. Adam Schmidt.

"Em 1802, Beethoven pediu que, após a sua morte, sua doença fosse descrita e tornada pública", escrevem os cientistas em estudo publicado hoje pela revista "Current Biology". "Apesar de não termos conseguido identificar uma explicação genética para seu distúrbio auditivo nem para seus problemas gastrointestinais, descobrimos que Beethoven tinha uma predisposição genética a doenças do fígado."

Schmidt não conseguiu realizar o desejo de seu paciente, porque morreu antes dele. Além disso, o pedido do compositor só foi descoberto cinco anos após a sua morte, em uma carta endereçada a seus irmãos, mas nunca enviada. Antes de sua morte, a surdez que o afligia só era conhecida por algumas pessoas mais próximas, e Beethoven continuou escrevendo suas obras.

Investigação genética

Pesquisador extrai DNA de mecha de cabelo de Beethoven na Universidade de Tübingen (Alemanha) — Foto: Susanna Sabin
Pesquisador extrai DNA de mecha de cabelo de Beethoven na Universidade de Tübingen (Alemanha) — Foto: Susanna Sabin

As mechas de cabelo atribuídas a Beethoven foram obtidas de coleções de relíquias do Centro de Estudos Beethoven de San Jose (Califórnia), do museu Casa de Beethoven de Bonn (Alemanha) e de um colecionador particular, Kevin Brown, membro da Sociedade Beethoven Americana.

Em comunicado à imprensa, Begg afirma que buscava sequenciar essas amostras há pelo menos dez anos. Por serem material biológico não preservado para esse fim e já um pouco antigo, contudo, foi necessário aguardar a evolução de técnicas de ampliação e leitura genética para dar conta do trabalho.

Como cinco das oito mechas encontradas pertencem à mesma pessoa, e a ancestralidade apontada nela remonta à população atual do oeste da Alemanha, os pesquisadores acreditam que agora têm evidências convincentes de que encontraram mesmo o DNA do compositor, sem precisar exumar seu corpo.

"Consideramos que essas amostras coerentes entre si sejam quase certamente autênticas", escrevem os cientistas.

Cromossomo Y

O DNA sequenciado pelos pesquisadores estava fragmentado e foi submetido a um procedimento de leitura repetido 24 vezes. A informação genética, que foi obtida em pedaços, foi então remontada em computador. O resultado revelou semelhanças não só étnicas, mas um grau maior de afinidade com pessoas que carregam hoje o sobrenome Beethoven. A única diferença é que o cromossomo Y, que indica a linhagem masculina na família, não era o mesmo. Por isso os pesquisadores postulam a ocorrência de um caso extraconjugal entre os antepassados do compositor para explicar a discrepância.

Entre as três mechas que não se revelaram autênticas, uma delas, aquela com indícios de intoxicação por chumbo, pertenceu ao maestro Ferdinand Hiller, ainda um jovem aprendiz de 15 anos quando Beethoven morreu. Hiller dizia ter recortado pessoalmente uma mecha do cabelo do compositor em seu leito de morte, o que provavelmente não é verdade.

Begg crê que, apesar de a análise do DNA do compositor não ter ajudado a descobrir a causa de sua surdez, os cientistas tenham ajudado agora a realizar parte do desejo de Beethoven em seu leito de morte.

— Acreditamos que ao tornar o genoma de Beethoven disponível publicamente para pesquisadreos, caso mais mechas de cabelo venham a ser acrescentadas à série cronológica inicial, as questões remanescentes sobre sua saúde e sua genealogia possam ser respondidas um dia — disse o cientista em entrevista coletiva.

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