Música
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Por Maria Fortuna — Rio de Janeiro

Maria Luiza Jobim está a cara da Nastassja Kinski em "Paris, Texas". "Quem?", pergunta a cantora e compositora de 35 anos, que reconhece a atriz assim que mostro a imagem do cartaz do filme de Wim Wenders no celular. "É a Xuxa? A Lady Gaga?", pergunta o sambista que pede “um trocado” à moça de fios descoloridos após tocar pagode na calçada de um café no Leblon, Zona Sul do Rio, onde ela concedeu esta entrevista.

O novo visual da artista que, como se diz atualmente, "nevou" as melenas, é para chamar atenção mesmo. Ela gosta de mudar no aniversário (faz 36 anos no próximo dia 20) e quer marcar também a nova fase profissional, que inclui uma série de lançamentos. Nesta sexta-feira (17), a filha caçula de Tom Jobim joga nas plataformas o single "Boca de açaí", produzido em Los Angeles pelo bambambã Mario Caldato, nome por trás de Seu Jorge e Marcelo D2.

Maria Luiza Jobim: 'Me encontrei na musicalidade, mas o tempo inteiro estou homenageando meu pai' — Foto: Leo Aversa
Maria Luiza Jobim: 'Me encontrei na musicalidade, mas o tempo inteiro estou homenageando meu pai' — Foto: Leo Aversa

A composição é uma celebração ao Rio, cidade que o pai de Maria Luiza tanto cantou e, por consequência, à carioquice. O som das ondas do mar batendo serve de introdução para a letra que exalta o pão na chapa, as amendoeiras, o canto das cigarras, o lusco-fusco, além, é claro, da fruta que dá título à canção.

— Quis fazer essa homenagem após sentir que o Rio estava tristonho e abandonado no ano passado. A vida voltava ao normal no pós-pandemia, mas as pessoas continuavam tristes, desanimadas, com aquela vibe de falar mal da cidade. Me deu vontade de louvar esse lugar, fazê-lo ser visto com melhores olhos, falando da maneira como eu vivo aqui — conta ela, cuja inspiração artística costuma estar ligada a imagens e sensações. — Amo tomar açaí na esquina, é um ritual para mim. E acho muito carioca essa aceitação de ficar com a boca preta, toda suja (risos).

O desejo de fazer esse carinho veio junto com o reencontro feliz de Maria Luiza com o lugar onde nasceu. Após morar por muito tempo entre Nova York e Paris, passar os anos pré-pandemia em São Paulo com o então companheiro e viver o isolamento na Região Serrana do Rio, ela desembarcou de mala e cuia no Leblon com a filha, Antonia, de 5 anos, embaixo do braço. O bairro é endereço provisório enquanto a casa que comprou no Jardim Botânico ("sou do mato") está sendo reformada.

A capa do single 'Boca de Açaí' — Foto: Reprodução
A capa do single 'Boca de Açaí' — Foto: Reprodução

De frente para a praia, no entanto, Maria Luiza tem vivido uma fase solar. Bem diferente do momento que enfrentou durante a separação do pai de sua filha. Sob o impacto do fim do casamento, a artista lançou, em 2021, o clipe soturno de suas canções "Sonhos" e "A pedra".

— Era um momento de superação, transformação, transmutação. O clipe mostra o pássaro que quebra o próprio bico e vai virar uma outra coisa — analisa ela, que em 2022 enfrentou a perda do irmão, Paulo Jobim, que lutava contra um câncer havia dez anos. — Era uma coisa anunciada, mas foi triste. Ainda mais porque no dia em que ele morreu, eu fui internada com Covid. Não pude ir ao enterro, não consegui estar com a minha família. Ninguém podia encostar em mim. Era só gente me furando... Um dia eu cheguei e falei: "Alguém me encosta, pelo amor de Deus".

'Caretinha' e exigente

O jeito "cool" continua na pisciana sonhadora, que aprendeu com a mãe taurina e executora (Ana Jobim, fotógrafa) a colocar os projetos em prática. Mas as dores foram, aos poucos, dando lugar à força. E o momento luminoso tem refletido em seu trabalho. Além de "Boca de Açaí", ela vai lançar "Ostra", single em que fala sobre se entregar no amor no universo do mar ("é como se pintasse o cenário para a paixão acontecer", resume).

Também está formando uma banda, a Tiramisù com Felipe Fernandes e Julio Secchin, com quem prepara um EP repleto de músicas autorais no estilo "indie rock bronzeado na sombra, um pop para dançar devagar, cheio de humor", resume.

Grava ainda seu segundo disco solo, previsto para este ano, só com composições próprias. Ainda não há um conceito definido. Maria Luiza diz que é “como na análise: faz e entende depois”. Conta que só foi entender que seu primeiro disco, "Casa Branca" (2019, produzido por Alexandre Kassin), era sobre sua infância e suas raízes quando ele ficou pronto.

— Aí eu vi que estava falando da minha filha, da minha casa, do meu pai. Acho que ter um conceito fechado acaba limitando, porque fecha portas para o que for diferente — analisa ela, que está viajando pelo Japão e tem certeza de que voltará repleta de inspirações provocadas pela viagem.

Uma coisa é certa: pela primeira vez, ela vai produzir seu álbum. Quer uma assinatura artística mais pessoal. Visão e credenciais para isso ela tem. O pernambucano Otto, por exemplo, ficou impressionado com a capacidade de organização e a cabeça de arranjadora de Maria Luiza quando gravou com ela o single "Farol" (2021). Já ela, se define como: "musicista caretinha, que chega na hora, exige... Sou chata!".

Diferente de “Casa branca” e de projetos anteriores como o Opala (duo de música eletrônica com o músico Lucas Paiva), este trabalho será mais MPB. A artista confessa que, desde o início da carreira, buscou, de propósito, uma sonoridade oposta do trabalho do pai. Agora, 11 anos depois, a maturidade trouxe conforto para navegar em algo mais próximo.

— Com muita análise, entendi que esse lugar é meu também. Antes, era uma coisa que eu não podia tocar, uma energia sagrada de algo que está no coração das pessoas. Precisava deixar isso quieto e fazer completamente diferente para me encontrar — observa. — Foi um movimento saudável para eu me descolar de algo forte. Como a minha mãe diz: “A sombra de uma grande árvore”. Mas é frondosa!

Não à toa, ela está lendo o livro “Em louvor da sombra”, de Junichiro Tanizaki, espécie de Bíblia da estética japonesa.

— É uma cultura que louva a sombra, né? O livro fala, por exemplo, sobre como objetos cintilantes incomodam os japoneses. Por isso, escolhem cerâmica e madeira, que não brilham. Se forem usar prata, nunca vão polir. Porque as batidas, ranhuras, sujeiras daquele objeto contam uma história . É como se fosse um respeito ao passado. E acho que em algum lugar aí tem a minha história também, de louvar, respeitar de onde eu vim — observa ela que, inclusive viaja pelo Japão neste momento. — Gosto de pensar assim porque vivo isso. Me encontrei na musicalidade, mas o tempo inteiro estou homenageando meu pai na minha vida, na minha existência. Cada vez me sinto mais conectada com ele.

Cada vez mais também aprende a não se sentir pressionada pela expectativa alheia.

— Sempre vai ter né? Existe certa decepção e frustração porque as pessoas amam muito meu pai e eu não sou ele. Mas eu não quero uma vida fácil, quero uma vida interessante. Vou fazer o meu negócio e não ficar reproduzindo, me repetindo. Preciso criar minhas coisas e tenho uma paz em relação a isso. Vim de uma família que sempre se interessou pela verdade de cada um, no que temos para expressar. Então, independentemente do que se vai fazer, faça aquilo por inteiro e que seja uma verdade para você. Para mim, é.

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