Morreu na noite de sexta-feira (10) o instrumentista, compositor e cantor Bebeto Castilho. Carioca, ele tinha 83 anos e sofreu um mal súbito em seu apartamento, em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio. A informação foi confirmada por Luiz Bakker, filho do músico com Evelyne Bakker. "Perdi meu pai e o Brasil perdeu um grande músico, mas seu legado sempre permanecerá vivo", declarou Luiz.
O artista já havia sofrido uma queda doméstica em dezembro de 2022, tendo batido a cabeça e desmaiado. Após o acidente, ficou internado por um mês no Hospital Casa Evangélica, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Ele foi enterrado na tarde deste sábado (11), no Cemitério de São Francisco Xavier, no Caju, centro do Rio. Bebeto deixa esposa, quatro filhos, três netos e um bisneto.
Filho de uma pianista e descendente do compositor português radicado nos EUA John Philip Sousa (o criador do Sousafone, um tipo especial de tuba), Adalberto José de Castilho e Souza começou a tocar flauta aos nove anos de idade, clarinete aos 12 e saxofone alto aos 16. Em 1955, ele começou sua carreira de instrumentista no conjunto do organista Ed Lincoln, o Rei do Bailes, no qual passou a atuar também no contrabaixo.
Em 1957, Bebeto foi convidado por Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli para integrar o conjunto que acompanharia a cantora Maysa em uma turnê pelo Brasil, Argentina, Uruguai e Chile. Ao lado de Luís Eça (piano), Hélcio Milito (bateria), Menescal (guitarra) e Luiz Carlos Vinhas (revezando o piano com Luís Eça), ele cumpriu o compromisso. E descobriu afinidades com Eça e Milito, com quem formaria logo depois o Tamba Trio, um dos mais importantes grupos do samba-jazz, batizado a partir do nome do kit de percussão criado pelo baterista.
Entre idas e vindas e mudanças de formação, o Tamba Trio (eventualmente transformado em Tamba 4, com entrada de Dório Ferreira no contrabaixo, para que Bebeto pudesse se dedicar apenas à flauta) excursionou e lançou discos no Brasil no exterior entre 1962 e 1992, ano da morte de Eça. O Tamba foi o grupo que acompanhou Milton Nascimento em seu LP de estreia, de 1967 — o cantor admitiu, inclusive, que começou a carreira em Minas tocando baixo à maneira de Bebeto.
Ao longo de mais de seis décadas de carreira, o cantor e compositor também acompanhou artistas como Maysa, Sérgio Mendes, Eliana Pittman, Edu Lobo, Nara Leão, Tom Jobim, Eumir Deodato e Chico Buarque, entre outros. Em sua longa carreira , fez muitos shows no exterior — o que incluiu uma presentação em Estocolmo, para os reis da Suécia.
Em 1976, o músico lançou seu primeiro LP solo, “Bebeto”, cultuado pelos colecionadores e reeditado pelo selo inglês Whatmusic. Trinta anos depois dessa primeira investida, quando o Tamba Trio já tinha sido redescoberto com uma gravação de “Mas que nada”, de Jorge Ben (incluída na trilha de um comercial de produtor esportivos veiculada na Copa do Mundo de 1998), ele gravou o segundo: “Amendoeira”, produzido por Marcelo Camelo, da banda Los Hermanos, seu sobrinho-neto.
Na época do lançamento de "Amendoeira", Caetano Veloso escreveu em um texto de divulgação: "O cantor bissexto do Tamba Trio, que tanto nos maravilhava quando fazia uma aparição, e de quem desejávamos ouvir um álbum inteiro, realiza agora nosso sonho de adolescência com décadas de atraso mas, paradoxalmente, no tempo certo. E sua voz hoje (quando eu próprio já tenho os cabelos cor de prata) é tão adolescente quanto éramos Milton, Gil, Gal e eu quando o ouvíamos pela primeira vez. A maturidade só reafirmou as qualidades inigualáveis do seu estilo: total ausência de ansiedade, desdramatização absoluta sem perda de poeticidade, imaculada naturalidade no trato com as notas musicais. O canto "cool" tem nele o exemplo mais perfeito que se possa imaginar."
— Eu sou um músico que canta, não um cantor que toca — definiu-se Bebeto, em entrevista ao GLOBO, durante as gravações de “Amendoeira”, sem deixar de comentar as comparações constantes entre a sua maneira de cantar e a de João Gilberto. — Nossa raiz comum é Chet Baker.