Música
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Por Jennifer Gersten, do New York Times — Bergen, Noruega


Plateia vê show do Borealis de uma piscina aquecida — Foto: NYT
Plateia vê show do Borealis de uma piscina aquecida — Foto: NYT

Tudo era meio imprevisível na estreia da jovem compositora experimental norueguesa-tâmil Mira Thiruchelvam, produzida em uma piscina aquecida voltada para um fiorde. Pelo menos o apresentador tinha uma sugestão: traga roupa de banho.

Isso é normal no Borealis, festival experimental que alcançou renome como uma plataforma de lançamento para projetos muscais ecléticos. Se, nas últimas décadas, os países nórdicos — facilitados pelo invejável financiamento governamental para as artes — provaram ser um viveiro de atividade musical, o Borealis se tornou o festival mais caloroso da região.

Liderado pelo diretor artístico Peter Meanwell e pela diretora-gerente Rachel Louis, o Borealis, que comemorou seu 20º aniversário em um evento recente de cinco dias, criou um espaço raro para uma exploração animada em um campo que notoriamente se leva muito a sério. É o festival que “não tem nada a temer”, como o jornal local Bergens Tidende o chamou.

Parte do que dá ao Borealis a sensação de acessibilidade é o uso dos centros culturais de Bergen, separados por becos de paralelepípedos, curtos e muitas vezes úmidos — algo comum na cidade mais chuvosa da Europa. Na noite de abertura, a fábrica de conservas United Sardine promoveu apresentações de compositores de toda a história do festival para homenagear seu aniversário. A plateia podia seguir até um salão real de banquetes do século XIII, cujo esplendor medieval era o pano de fundo para o conjunto indonésio Gamelan Salukat, executando obras do compositor Dewa Alit.

O espaço mais aconchegante do Borealis foi uma pequena estrutura de madeira na montanha de Floyen, construída no estilo dos sami, o povo nativo da região que abrange partes de Noruega, Suécia, Finlândia e Rússia. Acessível por um curto trajeto em um teleférico e uma caminhada sinuosa, a estrutura contou com uma instalação sonora da artista residente do Borealis, a norueguesa sami Elina Waage Mikalsen — com o baixo agitado da peça aparentemente acompanhando a dança das chamas no fogão a lenha do local. Por causa do recente reconhecimento do governo norueguês de contínuas violações dos direitos humanos em terras sami, o uso que Mikalsen fez do experimentalismo sami — que foi o tema de sua palestra, com performances dos músicos sami Viktor Bomstad e Katarina Barruk — pareceu especialmente potente.

O festival deste ano também viu uma série de obras que investigam a natureza dos instrumentos, sondando seus materiais e ampliando seus limites. A discretamente intensa dupla norueguesa de violino e contrabaixo Vilde&Inga, colaborando com o compositor Jo David Meyer Lysne, apresentou “NiTi”, diálogo entre a dupla e as esculturas cinéticas de metal e madeira de Lysne que se moviam silenciosamente para a frente e para trás durante toda a performance — destilação poética da ação de tocar um instrumento de cordas.

Mais bem-sucedida nessa linha foi “I N T E R V A L L” , criada e executada pelo trio de percussão norueguês Pinquins com a artista Kjersti Alm Eriksen. Em torno de um cubo oco de madeira, com instrumentos e eletrodomésticos pendurados em cordas no teto, os quatro artistas começaram uma espécie de caça ao tesouro, arremessando objetos, soprando tubos de plástico presos ao cubo e até mesmo agarrando bastões longos para bater no próprio teatro, em uma sondagem inesgotável do potencial sonoro do ambiente.

Uma brincadeira semelhante permeou o imaginativo “Plans for Future Operas”, do compositor norueguês Oyvind Torvund, interpretado pela soprano Juliet Fraser e pelo pianista Mark Knoop. Parte de uma série contínua em que os grupos apresentam os sons de situações hipotéticas, “Plans” é acompanhado por uma apresentação de slides de desenhos simples de Torvund. Enquanto várias imagens piscavam na tela — entre elas, uma ópera de “buzina de carro”, para a qual Fraser trouxe as buzinas — a dupla transmitia, com entusiasmo e diversão evidentes, a linguagem musical descontraída de Torvund.

O público que veio mais tarde pôde assistir a apresentações deliciosamente arrebatadoras: a da violinista de White Mountain Apache, Laura Ortman, e a da dupla eletrônica e vocal Ziur e Elvin Brandhi; à medida que a noite passava, um grupo de jovens começou uma ocupação improvisada na pista de dança. Na manhã seguinte, banhistas na piscina aquecida testemunharam a divertida apresentação de Thiruchelvam, “External Factor”, com a dançarina Thanusha Chandrasselan. O público dançou ao som eletrônico de Thiruchelvam, intercalado com suas improvisações na flauta e na guitarra elétrica, e vibrou com a coreografia de Chandrasselan, suas botas produzindo um atrito impressionante no chão molhado ao lado da piscina.

O festival teve como peçla final “Counting Backward”, da compositora britânica (e ex-diretora do Borealis) Alwynne Pritchard. Foi uma colagem previsível de peças e observações pré-gravadas sobre o tempo e a natureza.

Poderia ter havido uma conclusão mais satisfatória para a semana: o show dos Pinquins duas noites antes no mesmo espaço. No clímax desse trabalho, os artistas abriram o dossel do cubo de madeira, derramando sementes de girassol no chão. A chuva de sementes continuou e continuou — invocação hipnótica e aparentemente interminável do que um festival como o Borealis pode tornar possível.

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