Música
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Por Silvio Essinger

“Quando a pessoa tem uma atitude, ela incomoda”, provoca Tatiana dos Santos Lourenço, alguém que realmente sabe do que está falando (e o que está fazendo). Com o nome artístico de Tati Quebra Barraco, a MC de 43 anos, nascida e criada na Cidade de Deus, comemora 25 anos de uma carreira na qual passou a maior parte do tempo cuidando de botar os homens em seu devido lugar. Célebre por músicas que perpetuaram bordões como “sou feia mas tô na moda, tô podendo pagar hotel pros homens, isso é que mais importante”, “quem tá comendo não tá reclamando” e “homem é pra sentar, vocês querem amar, por isso sofrem”, ela não tem dúvidas de que é uma pioneira no funk.

— Hoje se fala empoderamento, mas a Tati Quebra Barraco já vem quebrando esse tabu há 25 anos. Eu já falava que a mulher podia fazer o que ela quisesse, que podia pagar o hotel, sim, e que a gente devia ser respeitada. Hoje a situação é muito mais para a frente, mas quantas mulheres a gente ainda está perdendo para o feminicídio, por não aceitarem que não querem mais (ficar com seus parceiros)? — pergunta-se a carioca, hoje disposta a retribuir o público que aceita há um quarto de século com a gravação de um DVD, mês que vem, em São Paulo, e com a produção de uma autobiografia (“preciso ter um documento meu, porque é muita coisa muita história, né?”).

Mas que ninguém ache que Tati ficou no passado: mês passado ela lançou mais uma daquelas músicas fortes candidatas a gerar bordões: “Parabéns piranha (tu agora tá formada)”, produzida pelo DJ Batata (“continua estudando / mas não esquece da sentada”, recomenda, na letra).

— Quando saí da comunidade eu atingi esse público que fazia faculdade. E eles me abraçaram de uma tal forma que todo mundo que se forma hoje em dia marca um show da Tati. Logo eu, que cheguei só até a quarta série, porque fui mãe muito cedo, com 13 anos.... então, a pessoa se formar (na universidade) e ter a Tati como referência... pelo amor de Deus! Eu falei: “vamos fazer uma música pensando neles!” — conta a MC, que há algum tempo não emplacava um hit. — Na verdade eu nunca deixei de gravar, o negócio é a música cair nas graças do público. Quem me mantém é o meu nome e a minha postura. Eu nunca deixei de trabalhar, mas a gente tem que botar coisa nova, o público pede.

Na gravação de seu DVD, “Parabéns piranha” estará lá, junto com outros sucessos como “Sou feia mas tô na moda”, “Se marcar”, “Boladona” e “Kabô kaki”. Participações especiais, Tati planeja ter muitas no show.

— Quando eu cheguei (ao funk) já tinha uma rua bem-feita, tinham uns MCs que chegaram antes de mim. Não adianta fazer um DVD só com as pessoas do momento — argumenta ela, ressaltando que num DVD da Tati não podem faltar figuras como Cidinho e Doca, Valesca Popozuda, MV Bill, MC Carol, Katia, Kacau, Buchecha, Duda do Borel e Mascote.

Mais do que amiga, Tati considera Carol, revelação do funk vinda de Niterói, a sua “sucessora”.

— A Carol tem o mesmo nome da minha filha e o mesmo sobrenome que eu. Ela é Carol Lourenço, eu sou Tatiana Lourenço, é muita identificação! A Carol é excelente, ela é a Tati de 1997 para 1998, que foi quando eu comecei.

Já da MC Pipokinha, outra das estrelas do funk mais recente, ela acha “complicado de falar”. Mas fala.

— Ela não foi feliz nas coisas que andou dizendo (em entrevista, Pipokinha comentou: “Por que eu não posso ser funkeira e mãe de família? Sua mãe, que teve três filhos com três homens diferentes, é guerreira e eu é que sou a piranha?”) e muita gente me marcou. Eu não sou a única que tem três filhos cada um de um pai. Se ela está falando pra mim, eu não estou aqui para bater de frente. Eu tenho 43 anos de idade, 25 anos de funk e não preciso de like. Eu já sou polêmica em si, não preciso estar em polêmica.

Já sobre os homens, dos quais suas letras tanto falam, ela não acredita que tenham melhorado tanto desde que começou a cantar.

— Olha, eu vou falar pelo meu — diverte-se. — Sou casada 21 anos e tô bem para caramba. Claro que eu já passei por relacionamentos dos quais eu me arrependo. E pelo que a gente vê na televisão, tem muitos homens que não aceitam o fim, eles querem bater, querem matar. Muitos homens não gostam do que eu canto. Eles vão lá e me xingam. Mas se você está me xingando é porque a carapuça tá servindo. Então, pelo menos a mensagem está chegando para eles.

Amigos e admiradores, porém, não faltam a Tati Quebra Barraco. Ano passado, depois de participar do show de Buchecha no Espaço Favela do Rock in Rio, ela recebeu uma mensagem de Ludmilla para compor o time de “mulheres fortes” com o qual ela dividiu seu show no Palco Sunset (Tasha & Tracie, MC Soffia e Majur completaram o time). E depois daí veio o convite da TV Globo para atuar na novela “Travessia” — ela, que há quase 20 anos, havia participado de “América”, voltou em cenas de cadeia, contracenando com Lucy Alves (intérprete da heroína Brisa).

— Teve uma cena que que viralizou, em que eu mando ela (Brisa) pegar a visão. Quando estava gravando, o diretor, falou “zero, zero” e eu pensei: “meu Deus, tá uma merda, né?” Perguntei se tinha que fazer de novo e ele: “Não, zero, é quando a gente quer dizer quer tá mil, tá top.” Tirei um peso do coração!

No meio do caminho, Tati Quebra Barraco ainda gravou um rock, “Dançar” (2021), com o grupo Meu Funeral.

— Sempre acredito em mim, por mais que a gente tenha aquele frio na barriga, aquela insegurança, a gente entra confiando na gente — diz. — A Tati não foge do da essência do funk dela, mas hoje eu gravo de tudo. Achava que os roqueiros iam me bombardear, iam me matar, mas foi o contrário, recebi muitos elogios.

Muito mudou para Tati desde o começo da carreira. Quase 20 anos depois de uma ameaça de processo por causa de “Dako é bom”, ano passado a marca de fogões satirizada com o trocadilho da música a chamou para ser garota-propaganda no Instagram.

— Eles tinham que me elogiar, porque venderam tanto! Quando eu ia fazer show em boate GLS, tinha sempre um fogão em cima do palco — recorda-se ela, musa do público LGBTQIA+. — A Tati veio para libertar não só as mulheres, mas o ser humano, entendeu? Quer ser gay, vai ser gay. Quer ser lésbica, vai ser lésbica. Depois que a gente sai da casa dos nossos pais, que a gente trabalha, que a gente paga as próprias contas, pode fazer o que quiser. A gente também não é obrigado a aceitar muita coisa, a concordar com muita coisa, mas a gente respeita.

Há alguns anos, ela se mudou da Cidade de Deus para uma casa na Taquara (“que é bem próxima da minha comunidade, em 10 minutos de mototáxi eu tô lá”). É lá que ela costuma reunir as filhas Milla Cristini (de 19 anos) e Carol (29), mais os netos Cauã (14), Pérola (7) e Júnior (4).

— Eu sou criticada porque eu passo pano, o filho fica com ciúme do neto. Quando eu escutava que neto é mais do que filho, eu não entendia. Hoje, eu entendo por ser avó — admite. — Aqui em casa é tiro, porrada e bomba. Quando vem todos os netos, é só Jesus! Eles querem querem vir mas não querem ir embora. E quando eu deixo ficar três dias, eles dizem: “pô, vó, é tão pouco!” E eu sou daquele tipo de avó que parece que a pessoa chega na tua casa só para comer. Faço comida, boto sorvete, deixo ir à praça sozinho brincar... aqui é uma tranquilidade que a gente não tem na nossa comunidade, só tem que ficar de olho em carro e moto.

Toda a alegria não compensa a perda do filho Yuri, que morreu baleado pela Polícia Militar, aos 19 anos, em 2016, na Cidade de Deus. O rosto do rapaz, Tati tatuou no braço.

— Meu filho vai ser sempre meu filho, é uma falta irreparável. Inclusive, o aniversário dele seria agora dia 19 — emociona-se. — Eu vejo muitos casos aí de mães não aguentarem e morrerem também. Só que tem muita gente que precisa de mim, tenho outros filhos, eu me agarro com Deus. É uma escolha que não tem como voltar atrás, porque depois que crescem eles tomam a própria direção, são donos das próprias vidas.

Sobre o futuro, a MC tem razões para ser otimista:

— Vou fazer 50, 60 anos, e nunca vou ser aceita por muita gente. Mas aquele um que fala para você “Tati, te amo. Tati, te admiro” já serve para muita coisa!

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