Música
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Por Imani Danielle Mosley, The New York Times

A coroação do rei Charles III e Camila, a rainha consorte, no sábado, será envolta em uma liturgia milenar, que remonta ao século X. Mas a tradição musical da cerimônia é muito mais recente — e menos notada. Muitos relatos de coroações anteriores ao século XIX foram perdidos, e os que restam fazem pouca ou nenhuma menção à música.

O som da coroação britânica que se tornou parte da paisagem cultural é, na verdade, uma invenção do século XX, um esforço concentrado para apresentar o passado como presente. Charles encomendou novas obras para sua coroação, aumentando o rico histórico de peças compostas para a ocasião. Aqui está uma breve história dessa música, explorando o som do direito divino dos reis.

Cerimônias antigas

Imagem de Edgar na Genealogia dos Reis da Inglaterra — Foto: Reprodução
Imagem de Edgar na Genealogia dos Reis da Inglaterra — Foto: Reprodução

A primeira coroação de um monarca inglês semelhante ao que vemos hoje foi a de Edgar em 973. Dela, veio a estrutura geral desenvolvida desde o século X: a procissão e o reconhecimento, o juramento, a unção, bem como a investidura, entronização e homenagem. A coroação em si é uma cerimônia religiosa, centrada na Eucaristia. Assim, de 973 a 1603, terminava com uma missa católica.

Em 1382, o “Liber Regalis” (“Livro Real”) foi escrito para fornecer um relato detalhado da ordem de serviço da coroação, provavelmente por Ana da Boêmia. O livro fornece o texto da coroação, mas não traz informações sobre a música em si. As coroações tinham músicas compostas especificamente para elas, mas algumas obras só se fixaram em séculos posteriores. As primeiras provavelmente era cânticos que, a partir da coroação de James I em 1603, foram recriados como hinos de coroação com texto em inglês.

Jaime II, 1685

A música de compositores mais conhecidos surge com a coroação de James II. Uma das versões de "I was glad", de Henry Purcell, foi usada como hino de entrada. Também conhecida por seu nome latino, “Laetatus sum”, traz na letra trechos do Salmo 122. O hino é dividido em duas partes, começando com uma seção cadenciada em compasso triplo marcando a entrada de James na Abadia de Westminster.

Enquanto James subia as escadas em direção ao trono, um grupo de estudantes conhecido como os King's Scholars da Escola de Westminster gritavam "Vivat": esta foi a coroação em que essa tradição surgiu. A segunda parte, agora em tempo menor e duplo, atua como uma oração solene de paz e prosperidade para o monarca e a nação. Termina com o “Gloria Patri” e foi essa versão de Purcell que inspirou a estrutura recriada por C.H.H. Parry em “I was glad”, em uso hoje.

George II e Rainha Caroline, 1727

Na cerimônia de George II foram apresentados os hinos de coroação de George Frideric Handel, entre eles "Zadok the Priest" (HWV 258). Não se sabe, no entanto, em que momento cada um era apresentado. “Zadok the Priest” traz o texto de Reis 1:38-40, que aparece de alguma forma em todas as coroações desde Edgar.

O hino começa com uma longa introdução orquestral, aumentando a tensão até a entrada do coro, acompanhado por metais e tímpanos retumbantes. Acredita-se que a introdução foi escrita para dar fluxo à ordem de serviço, especificamente dando tempo para os monarcas trocarem de manto enquanto se preparam para a unção. O hino também inclui a aclamação “Deus salve o Rei! Vida longa ao rei!" — ligando a unção à posterior aclamação da Homenagem dos Pares, onde os donos de títulos hereditários juram fidelidade ao monarca.

Vitória, 1838

Na coroação da Rainha Vitória pela primeira vez todo o serviço musical foi transcrito, em parte por causa de George Smart, que estava encarregado da música na cerimônia. O serviço apresenta os hinos de coroação de Handel “Zadok the Priest” e “The Queen Shall Rejoice”, bem como o coro Hallelujah de “Messiah”, depois que Victoria recebeu a comunhão.

A confiança em Handel e a falta de novo material musical — exceto por um novo hino, "This is the day", de William Knyvett — resultou em críticas generalizadas ao serviço, com o The Spectator escrevendo que "a parte musical do serviço foi uma calúnia sobre o estado atual da arte neste país”.

Eduardo VII e a Rainha Alexandra, 1902

Com a coroação de Eduardo VII a música se torna parte significativa do serviço, por decreto real. Frederick Bridge, encarregado da música na cerimônia, escreveu que “o rei foi muito explícito ao declarar que não deveria haver redução da parte musical”, quando cortes estavam sendo feitos para encurtar o serviço por causa de saúde de Eduardo.

Pela primeira vez, a música foi incorporada à ordem de serviço publicada, incluindo composições executadas antes e depois da coroação. A cerimônia teve marchas de Wagner, Gounod, Saint-Saëns, Tchaikovsky e Elgar, cuja “Marcha Imperial” havia sido escrita para o Jubileu de Diamante de Victoria em 1897. No serviço de coroação, Bridge delineou um programa que conectaria séculos de música religiosa inglesa de Tallis até Parry, com o objetivo de destacar o poder imperial da Grã-Bretanha, mostrando os longos séculos de seu poder artístico.

Bridge encomendou novos hinos, notavelmente "I was glad", de Parry, e uma nova configuração do "Confortare", de Walter Parratt, mestre da King's Musick. Desde então, ambos se tornaram obrigatórios no serviço de coroação.

A configuração de "I was glad" de Parry é retumbantemente jubilosa, abrindo com metais sobre uma orquestra completa em uma fanfarra, antes de dar lugar à entrada desacompanhada do coro. Parry incorpora os vivats ao hino; aqui eles são cantados pelo coro, pontuados por ecos de metais e caixas, enquanto cortam o “Gloria Patri”. O "Confortare" de Parratt ("Seja forte e seja o homem") revive um texto não usado desde o século XVII.

Elizabeth II e Charles III

A ascensão de Elizabeth II gerou a ideia de uma nova Era Elisabetana, que rivalizaria com as realizações artísticas, culturais e militares do século XVI, conectando os britânicos do pós-guerra com a glória de seus ancestrais.

A coroação trouxe essa ideia ao apresentar música dos principais compositores britânicos contemporâneos: Ralph Vaughan Williams, Arnold Bax, Herbert Howells, Arthur Bliss, George Butterworth, Gordon Jacob, Charles Villiers Stanford, Gustav Holst, John Ireland e William Walton.

Para este sábado, as comparações entre Elizabeth II e Charles III são inevitáveis. Entre os compositores que escreveram novas obras estão nomes esperados e inesperados, incluindo Judith Weir, Mestre da Música do Rei; Tarik O'Regan; Paulo Mealor; e Shirley Thompson. Haverá ainda um novo hino de coroação de Andrew Lloyd Webber.

A coroação de Charles deve inaugurar a nova Era Carolina, na esperança de que reflita seu homônimo, Charles II, e suas contribuições para a arte e a música. Somente a coroação e o tempo mostrarão se esta nova era cumpre essa promessa.

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