Música
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Por Gustavo Cunha — Rio de Janeiro

E lá se vão cinco décadas desde que Bia Bedran dedilhou — meio por acaso, sem grandes pretensões — aquilo que, mais tarde, a própria artista definiria como Música Popular Brasileira Infantil de Qualidade (ou MPBIQ).

— Pisquei o olho, e pronto: o tempo passou — ela se espanta, aos risos. — Me dediquei tanto a essa história das crianças, né?

A “história”, no caso, é um calhamaço com cerca de cem composições, divididas em dois volumes de 150 páginas, num songbook inédito que será publicado, no fim de junho, pela Editora Irmãos Vitale. E não só isso. Nome por trás de uma dezena de discos para o público mirim — o mais recente (“Invenções”) acaba de ser disponibilizado nas plataformas de áudio —, a niteroiense de 67 anos chega, em 2023, à marca de 20 livros publicados, todos igualmente destinados aos pequerruchos: na próxima semana, sai “A oficina de Dom Pepe” (pela Editora Krauss); em junho, é a vez de “Seu Pedro e Dona Diná” (pela Ciranda Cultural); e no segundo semestre, aporta nas prateleiras “A borboleta Brevida” (pela Nova Fronteira).

Do quintal para a TV

A cantora Bia Bedran — Foto: Paulo Rodrigues/Divulgação
A cantora Bia Bedran — Foto: Paulo Rodrigues/Divulgação

Responsável por parte da trilha sonora da infância de pelo menos três gerações, Bia Bedran teve a carreira traçada no quintal da casa de uma tia, no bairro de São Francisco, em Niterói. Ao lado de 22 parentes, entre tios, primos e irmãs, a então jovem de 17 anos fundou o Teatro Quintal, espaço em formato de arena, com capacidade para 200 espectadores, nos fundos do tal terreno residencial. Entre 1973 e 1983, a trupe familiar criou e encenou ali espetáculos para crianças e desenvolveu uma linguagem musical inspirada em figuras como Naná Vasconcelos e Hermeto Pascoal (“A gente transformava em instrumento caixas com areia e água com sementes”, Bia lembra).

Parte dos fundamentos desse trabalho — que depois se desdobrou em outras formações, como o Bloco da Palhoça — ganharam projeção nacional entre o fim da década de 1980 e os anos 2000, período em que a artista apresentou os programas “Canta conto”, na extinta TV Educativa do Rio (atual TV Brasil), e “Lá vem história”, na TV Cultura.

— Aos 12 anos, fazia música para adultos contra a Guerra do Vietnã e a morte de Martin Luther King Junior. Mais velha, passei a me dedicar à pesquisa do universo infantil. E aí nunca mais saí disso — brinca Bia, que despontou, sobretudo no estado do Rio de Janeiro, na década de 1990, época em que ela e a dupla paulistana Palavra Cantada, de Paulo Tatit e Sandra Peres, se destacaram como contrapontos a fenômenos comerciais como Xuxa e Angélica.

O novo álbum — que tem participação de Lenine numa das faixas — demorou mais de dois anos para ser gestado e foi inteiramente realizado com recursos próprios. Sempre foi assim, aliás. A artista se sustenta financeiramente como professora aposentada do Colégio de Aplicação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, a Uerj, onde deu aulas de música no Ensino Fundamental por três décadas.

— É difícil manter uma continuidade na carreira, produzindo música para crianças, sem que isso seja um pulo para se fazer obras para adultos. Não dá para manter a sobrevivência assim... No meu caso, tive que ficar dando nó em pingo d’água. Veja bem, precisei ser funcionária pública para ter um salário fixo. Como alimentaria minhas filhas tendo um cachêzinho de vez em quando? — questiona.

Nada de tatibitate

A cantora e compositora acredita que o cenário musical voltado para crianças certamente poderia ser mais amplo no país. O que falta é incentivo, apoio, ela lamenta. Pesquisadora com formação em musicoterapia, Bia — que mantém uma agenda de shows em salas e escolas do país — não abre mão de arranjos sofisticados em suas produções. Em eras analógicas ou digitais, ela sempre conservou isso como regra. Mas está aí algo que demanda tempo e investimento. “Invenções”, por exemplo, tem arranjos de Ricardo Medeiros e Sidney Mattos, com a participação de 21 instrumentistas. Sobressaem sons de clarinete, flauta, trombone, violino, rabeca, sanfona, teclado...

— Gosto de me referir com o ser pensante que há em todas as crianças. Elas são seres em si. Estão se formando? Claro! Mas já são sujeitos em si, sabe? Não precisamos sair gritando para ter a atenção delas. Fica todo mundo surdo assim. Temos que fazê-las acordar as palavras, com o abraço da música. Faço questão de utilizar o lúdico, mas sem diminutivos — diz. — O sucesso das minhas músicas não está na Bia Bedran. Está no arranjos e nas letras. As músicas precisam de uma sonoridade diversificada... Fiz o caminho oposto de Xuxa e Angélica, e estou nele até hoje, perdurando (risos). Mas olha só quanto tempo foi preciso para colher os frutos. Sou uma sobrevivente.

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