Música
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Por Maria Fortuna — Rio de Janeiro

“Ó, Gloria!”. Assim Maria Bethânia saudou Gloria Groove nos bastidores do Theatro Municipal do Rio de Janeiro , onde as duas cantoras ensaiaram, na tarde de terça-feira (30), o dueto que apresentarão nessa quarta, na 30ª edição do Prêmio da Música Brasileira, que homenageia Alcione, a Marrom.

Bethânia e Gloria Groove preparam homenagem a Alcione

Bethânia e Gloria Groove preparam homenagem a Alcione

Bethânia já estava em seu camarim, “louca para conhecer” a cantora, rapper e drag queen, que chegou em versão Daniel Garcia — sem montação, de boné, óculos escuros e conjunto esportivo. Trazia a cerimônia que o primeiro encontro com uma lenda pede: bateu duas vezes à porta e entrou pedindo licença (veja o vídeo do momento do encontro abaixo).

— Como vai, meu amor? Vou me levantar para falar com você — retribuiu Bethânia, deixando a cadeira onde estava sentada. — Nossa, sou sua fã demais. Vi você arrebentando na Virada paulista.

— Pelo amor de Deus, não fala isso que eu morro… Acho que nunca mais vai passar esse nervoso. Estou aqui agora fingindo costume.

Gloria quase caiu para trás com a reverência da baiana. Colocou a mão na frente da boca aberta, naquele gesto que exprime surpresa e, envergonhada, respondeu:

Mal sabia ela que, minutos antes, Bethânia lhe havia rasgado ainda mais elogios em conversa com esta repórter.

— Falei à beça de você, não falei? — contou Bethânia, virando-se em busca de um olhar de confirmação. — Gosto muito das suas brincadeiras, fica vivo, quente, e adoro que você faz tudo com calma.

Quando José Mauricio Machline, diretor e criador do prêmio, sugeriu a Bethânia o nome de Gloria para um dueto, ele conta que a baiana nem pestanejou: “Quero! Lógico, adoro”.

Bethânia conta que conheceu o trabalho de Gloria no programa “Música boa ao vivo”, do Multishow. Desde então, tornou-se admiradora de sua performance.

— Eu a vi como recepcionista desse programa, que eu adoro, mas é raro ter, né? Esse é num horário bom, porque gosto de dormir cedo... Mas, olha, voltando, é impressionante como a Gloria canta bem. Fiquei fascinada com o poder vocal dela, deslumbrante e raro — definiu a baiana.— Ela recebia os convidados com aquela presença cênica, utilizando elementos teatrais para se apresentar. E o repertório... Não apenas seus grandes sucessos e os da geração dela, mas passeava pela música popular brasileira, cantando Alcione e outros.

Troca de figurinhas

Bethânia citou a canção “Vermelho” e disse gostar especialmente do clipe de “A queda”, com inspirações circenses. Gloria, por sua vez, falou sobre a referência que a cantora é em sua vida. Relatou que o que carrega “mais parecido com uma herança” é o repertório da baiana (além de outros artistas da MPB), que conheceu por meio de sua mãe, cantora e backing vocal.

— Minha mãe sempre se apresentou na noite, com vários artistas, e tive o privilégio de reter na memória as músicas cantadas por Bethânia e Alcione — lembrou Gloria, de 28 anos. — Eu devia ter uns 6, 7 anos quando ouvi a voz de Bethânia pela primeira vez. Desde então, ela vive num lugar sagrado dentro de mim. Sem o trabalho de uma artista como ela não existiria diva na música pop brasileira contemporânea. Melhor: não existe diva brasileira sem Maria Bethânia. E Alcione? Amo!

Gloria Groove, em versão Daniel Garcia, e Maria Bethânia nos bastidores do Theatro Municipal do Rio — Foto: Leo Martins
Gloria Groove, em versão Daniel Garcia, e Maria Bethânia nos bastidores do Theatro Municipal do Rio — Foto: Leo Martins

À rasgação de seda se sucedeu uma conversa das duas combinando detalhes do dueto que ensaiariam dali a minutos. Elas dividirão o microfone na noite dessa quarta em “O meu amor”, música de Chico Buarque cantada por Marieta Severo e Elba Ramalho na peça “Ópera do malandro”.

E também registrada por Bethânia e Alcione no disco “Álibi”, da baiana, em 1978. Gloria ouviu a gravação.

— Se vou cantar com você, significa que eu farei a parte da Alcione, né? É isso mesmo? Então tá tranquilo, tá bem simples... — brincou ela, soltando uma risada de nervoso

— E a Alcione lá, no trono, olhando a cara da gente... Ai, meu Deus — completou Bethânia, continuando a brincadeira. — Sua entrada é em cima da minha, no final. É simplíssimo, vai dar certíssimo, vamos arrasar!

Quem estava no ensaio viu que a proposta de juntar as duas funcionou. As vozes combinam muito no arranjo atual, assinado pelo diretor musical e maestro da noite, Pretinho da Serrinha, que substituiu o antigo bolero por uma versão mais percussiva, com levada de batuque de tambor. A cantora Zélia Duncan, que assina o roteiro do prêmio, adianta que essa será a tendência musical da noite: Pretinho “africanizou” as músicas da homenageada.

Bethânia aprovou a repaginada, afinal não é para ser “repetição”, mas uma homenagem para sua “Alcioninha”. É assim que ela chama a amiga de longa data.

— Sou amiga dela, e de toda a família. Somos nordestinas, adoramos essa coisa de reunir. Ela já esteve muitas vezes na minha casa. Fomos juntas para o Maranhão com o João do Vale. Eu cozinho para ela, e ela cozinha para mim — conta Bethânia, citando o arroz de cuxá, especialidade da Marrom, com quem também se identifica no canto. — Ela tem essa dramaticidade, como eu, é a minha escola. Alcione é grande. Tem que ser reverenciada. Toca os corações, sabe atingir o brasileiro no espírito, na paixão, na sua maneira única de demonstrar amor, dor, traição. Tudo que envolve a coisa amorosa Alcione sabe interpretar com propriedade, além de ser uma voz nada comum.

A noite promete ser “guenta coração” para Alcione, que está com 75 anos e 50 de carreira. Ela sabe disso:

— Maria Bethânia é mais que amiga, é minha irmã. Saber que ela estará no prêmio em minha homenagem é uma felicidade sem fim. Ainda mais ao lado de Gloria Groove que, com certeza, é uma das melhores artistas da nova geração. Ainda não tive o prazer de conhecê-la, mas já deixo declarado: sou fã!

Mais recente Próxima Prêmio da Música Brasileira: saiba como assistir à homenagem a Alcione
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