Música
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Por Mari Teixeira — Rio de Janeiro

Quando o show termina, a luz apaga e Matuê sai do palco, a atitude dele muda. O rapper que não para de quebrar recordes — alguns que já eram dele próprio, diga-se de passagem — volta a ser o Matheus. É porque “Matuê é uma espécie de alter ego”, ele explica. E assim como o Batman precisa do Bruce Wayne, Matuê precisa de Matheus, especialmente quando o assunto é um lançamento importante. Tem dado certo até aqui. O último, “Conexões de máfia”, em parceria com o americano Rich The Kid, foi a maior première da história do YouTube no Brasil. A mesma música chegou ao primeiro lugar no Top 50 Brasil, no Top 50 Portugal e à 35ª posição no Top 50 Mundo no Spotify. No momento, o trapper está trabalhando no segundo álbum, ainda sem data para sair, intitulado “333 salve todos”.

— Matuê é uma versão minha mais extrapolada, mais cabeça quente, eu diria. Sou um cara bem tranquilo, gosto de resolver dilemas no diálogo e penso muito antes de fazer qualquer coisa. O Matheus está sempre à frente das questões empresariais, e aí tem essa abinha que chama Matuê, que é quem entra no estúdio para meter o louco, entendeu? Para extravasar e botar para fora emoções que eu deixo guardadas no dia a dia — explica o artista, de 29 anos.

Com 8,708 milhões de ouvintes mensais no Spotify, Matuê vem em uma crescente desde que “Anos luz” estourou, em 2017. Em 2020, lançou o primeiro álbum, “Máquina do tempo”, apresentando o hit homônimo. Um ano depois, furou a bolha do gênero com “Quer voar” e garantiu lugar nos maiores festivais do país, incluindo o Rock in Rio em 2022. Este ano, se apresenta no The Town, em São Paulo e, no último domingo, fez uma apresentação para cerca de cem mil pessoas na praia de Copacabana, no Tim Music Festival.

Entregar shows gigantes nesses festivais fez com que Matuê quisesse mais. Quisesse o dele. Esse ano, aconteceu em abril a primeira edição do Plantão Festival. Organizado pela sua empresa, a 30praum, o evento reuniu artistas do rap em Fortaleza, sua cidade natal. Para o ano que vem ele promete dois dias de shows.

Homem de negócios

Por trás dos números e conquistas, além dele, está Clara Mendes. Os dois fundaram, em 2014, o selo 30praum e, hoje, empresariam, além da carreira de Matuê, os rappers Teto e Wiu. Antes da máfia, nos últimos dois anos, foi o lado empresário que dominou, de certo modo, a carreira do cearense. Ele priorizou alavancar seus outros dois artistas, lançando singles em parceria com eles e os colocando em seus shows mais importantes. Olhando para frente, é esse homem de negócios que, futuramente, vai assumir as rédeas: Matuê se vê mais dentro do estúdio do que fazendo shows.

A parceria mais recente dos três artistas, “Flow espacial’’, chegou ao terceiro lugar no Top 50 Brasil e está há 112 dias entre as 200 músicas mais tocadas diariamente no Spotify. Matuê conta que a relação entre eles é mais que profissional: são amigos e se protegem. Recentemente, o rapper Orochi criticou Teto na música “Minha vida é um filme”, dizendo que ele estava copiando a forma de cantar do americano Quavo. Prontamente, Matheus vestiu sua capa de Matuê e saiu em defesa de Teto, gerando barulho nas redes.

—O Tetinho é como meu irmão caçula. E aí eu fui lá resolver o B.O. Quer bater de frente? Vamos lá, mas que seja de uma forma saudável, nunca faltei ao respeito com ninguém até aqui. Até porque me garanto na música — diz Matuê.

Teto é solar ao falar do parceiro, que define como “referência”:

— Ele sempre me aconselha, acredita no meu trabalho.

E o terceiro elemento da trinca? Bem, Wiu chama Matuê de “Tuê”:

— Somos um conjunto e nos inspiramos um no outro.

Antes de “tretar” com outros rappers, Matuê precisou enfrentar a própria família e lidar com questões culturais para chegar até aqui. Seus pais não aceitavam que ele quisesse viver de música e, por um tempo, ele também não acreditou que fosse possível. Saiu da escola, foi vendedor de loja de roupas, até que conseguiu trabalho como professor de inglês para chineses— ele viveu dos 8 aos 11 nos Estados Unidos. Durante três anos, Matuê pegava o dinheiro que sobrava das aulas e investia na música.

— A música sempre teve uma importância grande na minha família. A gente se reunia para fazer roda de samba, meu avô era um percussionista muito brabo. A minha avó tocava acordeão, teclado, era professora de artes, escrevia livros, poemas... Mas meus pais sempre foram contra eu seguir esse caminho. Depois de um tempo eu já nem falava mais nada — conta ele, acrescentando que o momento conturbado ficou para trás. — Eles foram entender a proporção do que eu estava fazendo quando eles me viram na Globo. Aí viram que a minha vida era música. Hoje temos um relacionamento massa.

A segunda barreira foi geográfica. Matuê nasceu e cresceu em Fortaleza, cidade onde o rap não é protagonista. Aos poucos, abriu shows de artistas do Sudeste e criou contatos que o fizeram um cantor nacional, mas ele não abre mão da cidade natal. Mora lá até hoje e não pretende se mudar.

‘Não tenho mais medo de pedir desculpa’

Daqui a cinco meses, Matuê completa 30 anos. Pronto para entrar em uma nova fase da vida adulta, ele conta que sempre disse que gostaria de chegar nessa idade se sentindo no auge. Lembra que o novo álbum se chamará “333 salve todos”? Para ele há uma simbologia entre auge e o número 3.

— Eu me sinto melhor do que nunca, mais bonito interna e externamente — avalia ele, explicando como o algarismo tem relação com suas escolhas. — Minha espiritualidade é uma das coisas mais importantes e mais fortes para mim, apesar de nas letras eu nunca ter deixado isso explícito. Não acho que existam coincidências. Eu nasci em 11/10, que se você somar dá 3, morei em um prédio 333, criei a 30praum... Considero esses meus números guias, mas, na verdade, nunca entendi muito bem qual é a história por trás disso.

Matuê equilibra espiritualidade e cuidados físicos. Gosta de velejar, faz kitesurf e sessões de fisioterapia.

Poder da paternidade

Em 2021, ele se tornou pai, o que considera transformador. Segundo ele, a paternidade aflorou ainda mais sua “busca por um propósito”:

— Sei que é um clichê falar isso, mas virar pai foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Tem aquela criaturinha ali em formação que está ouvindo tudo que você fala, observando e tentando ser igual. Hoje busco um motivo profundo para fazer as coisas. Depois do nascimento do meu filho, fazendo uma autoanálise, não tenho medo de mudar de ideia e de pedir desculpas.

Antes de querer ser músico, Matheus nutria o sonho de ser skatista profissional. Ele conta que parceiros da banda que tinha quando era adolescente brigavam com ele quando aparecia com um skate novo, enquanto as cordas dos instrumentos seguiam enferrujadas. A prioridade, claramente, era o esporte. Segundo ele, os planos não foram para frente por falta de apoio de marcas, pela cena não ser valorizada, na época, no Ceará, e devido a lesões que ele sofreu.

Nos shows, Matuê faz questão de colocar o skate de alguma forma no palco. No último Rock in Rio, transformou o Palco Sunset em uma pista e convidou skatistas para ocupá-la.

Em seu primeiro álbum, a música homônima “Máquina do tempo” usa sample da música “Como tudo deve ser”, da banda Charlie Brown Jr. Chorão, vocalista do grupo e que também amava o skate, era ídolo e inspiração para Matuê.

— Uma vez eu o encontrei na pista de skate e ele me deu dois ingressos para um show. O Chorão pregava tudo aquilo que não prestava na visão da minha família e era tudo o que eu gostava de fazer. Incentivava a andar de skate, a fazer música, mas ele sempre passava a mensagem da dedicação, de levar a parada a sério, fazer com o coração e mostrar que não tem diferença nenhuma entre isso e qualquer outro trabalho. Através dele, consegui ter uma confirmação importante naquela fase.

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