Música
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Por Silvio Essinger — Rio de Janeiro

Dos mesmos criadores do Free Jazz Festival e do Tim Festival, o C6 Fest estreia este mês, em São Paulo (entre os dias 19 e 21, no Parque Ibirapuera) e no Rio (numa versão reduzida, entre 18 e 20, no Vivo Rio), com uma daquelas escalações do rock, da música eletrônica e do jazz internacional que fazem os aficionados suspirarem. A seleção inclui nomes premiados como Samara Joy (dia 19 no Rio e dia 21 em São Paulo) e Jon Batiste (também dia 19 no Rio e dia 20 em SP). Uma das grandes atrações (dia 20 no Rio e 21 em SP) é o americano The War on Drugs, um dos grupos mais celebrados do indie rock dos anos 2000, em sua primeira visita ao Brasil. Ele faz uma curiosa dobradinha com o Dry Cleaning, nova sensação inglesa do rock (também estreando no país), que faz (só em SP, no dia 19) o show do seu aclamado segundo álbum, “Stumpwork”, lançado no ano passado.

Líder e criador do War on Drugs, o cantor, guitarrista e tecladista Adam Granduciel chega prometendo ao público “o melhor show que eles poderão ter pelo dinheiro que pagaram”.

— Eu comecei essa banda simplesmente porque eu amava a música e queria aprender a compor e gravar melhor. Eu não tinha aspirações de tocar em estádios ou arenas. Só queria estar na música, fazer parte dela — jura ele, em entrevista ao GLOBO. — E, quando tocamos ao vivo, as músicas ficam dez vezes maiores, é muito mais dinâmico, amamos tocar juntos. Espero que seja algo espontâneo e cru, com muita coisa acontecendo no palco, isso é o que realmente eleva os álbuns. Acho que, se você gosta dos nossos discos, vai ficar tipo “Uau, eles realmente estão tocando as músicas!”. Não tem playback, é por isso que temos sete pessoas com instrumentos no palco, as músicas saem diferentes a cada noite, é uma jornada muito divertida.

Consagrado com os álbuns “Lost in the dream” (2014) e “A deeper understanding” (2017), o grupo voltou em 2021 com “I don’t live here anymore” (2021), um disco gravado e lançado durante os dias da Covid-19, mas que Adam não considera lá “um álbum da pandemia”.

— Muito dele foi composto e gravado antes da pandemia, mas também trabalhamos um pouco, remotamente, durante ela. Tivemos um ano extra para tornar o disco um pouco mais interessante. Eu meio que voltei e despi um pouco as faixas, encontrei algumas músicas nas quais não tinha reparado antes... E as coisas ficaram mais claras para mim — conta. — Foi um ano em que ficamos inseguros sobre tudo. Será que vamos sair em turnê de novo? Será que esse álbum vai ser lançado? Jogamos com todas essas ansiedades e encontramos um novo caminho para o disco.

Mesmo em seu mais recente álbum, Adam Granduciel não faz questão de esconder o débito que tem com artistas como Bob Dylan, Tom Petty e Bruce Springsteen (seu filho pequeno, inclusive, se chama Bruce). Mais do que influências, ele os vê como “filtros”.

— Esses são os artistas que me inspiram, aqueles que eu ouvi a minha vida inteira, eles são a referência para que eu tente compor as melhores músicas que puder e fazê-las soar o mais interessante possível — diz o músico, um voraz colecionador de equipamento sonoro, com o qual entulha seu estúdio. — Quando estou trabalhando em um disco, gosto de criar sons, de buscar pelo som que eu nunca tinha ouvido antes em uma gravação. Levo isso muito a sério, essa é a parte mais divertida de se fazer um disco.

Quanto ao nome que escolheu para a banda, A Guerra às Drogas (em tradução livre), ele recomenda que as pessoas não sejam tão literais.

— Nunca teve uma razão específica, nem nunca foi algo político (a expressão apareceu pela primeira vez em 1971, num pronunciamento do presidente americano Richard Nixon). Quando esse nome surgiu, ele nos parecia apenas um termo da cultura pop, algo que crescemos ouvindo sem nunca realmente pensar sobre as suas implicações sociais — diz Adam. — Espero que agora ele apenas lembre as pessoas de que somos uma banda que trabalha duro, e que faz boa música. Só isso.

Nome prosaico tem também o Dry Cleaning (Lavagem a Seco, em tradução livre), banda formada em Londres em 2017, e que surpreendeu o público por seu uso das vertentes mais tortas do pós-punk (de bandas como PIL, Wire ou Fall) e vocais mais falados do que cantados. Em entrevista ao GLOBO, a cantora Florence Shaw e o baixista Lewis Maynard se dizem ainda incrédulos com o sucesso da sua empreitada musical.

— Foi meio acidental, não era algo que tivéssemos planejado com muito cuidado, fazíamos músicas para agradar a nós mesmos. Foi apenas pela diversão, não éramos muito ambiciosos quando começamos. Não esperávamos virar uma banda grande — diz Florence.

Dry Cleaning. Cantora da banda formada em Londres em 2017, Florence Shaw se diz ainda incrédula com o sucesso — Foto: Divulgação/Max Miechowski
Dry Cleaning. Cantora da banda formada em Londres em 2017, Florence Shaw se diz ainda incrédula com o sucesso — Foto: Divulgação/Max Miechowski

Contratados pelo lendário selo 4AD, de grupos como Cocteau Twins e Pixies (“Foi um sonho que se tornou realidade”, derrama-se a cantora), o Dry Cleaning entrou em estúdio para gravar seu segundo álbum novamente com a produção de John Parish (responsável pela direção musical de discos da musa indie PJ Harvey) e o luxo de poder passar mais tempo no estúdio do que na estreia, com “New long leg” (2021).

— Acredito que é impossível cobrir em apenas um disco todos os tipos de sons e climas, todos os assuntos que queríamos explorar. De certa forma, eu penso neles como álbuns complementares — conta Florence. — Não creio que “Stumpwork” foi uma ruptura com “New long leg”, a diferença é que aquele primeiro álbum foi feito rapidamente e com pouco dinheiro. Neste segundo disco, pudemos cozinhar por mais tempo e extrair mais suco. Acho que há momentos quase românticos neste novo trabalho, é um disco com mais espaço e ambiências, um disco mais relaxado. Ele tem até faixas mais pop, como “Gary Ashby” e “Don’t press me”. Acho que fomos mais longe em todas as direções.

Hoje em dia, o Dry Clening tem sido posto ao lado de novas bandas inglesas, como Black Country, New Road (que também está no C6 Fest, dia 20 no Rio e 21 em São Paulo), Black Midi e Shame, que renovaram o rock inglês pela via da excentricidade e da multiplicidade de referências.

— Eu conheci dois caras do Black Midi porque estavam acampando perto de nós em Glastonbury. E foi só isso — brinca Lewis Maynard.

Já Florence Shaw admite que o Dry Cleaning tem menos contato com essas bandas do que se pode imaginar

— É engraçado, mas agora eu me sinto mais ligada a eles do que quando tudo começou — conta. — Todos nós estávamos desconectados da música de sucesso e não conhecíamos uns aos outros, mas, à medida que lançamos nossos discos e tivemos nossos nomes mencionados aqui e ali, eu me senti meio estranhamente ligada a eles. Porque parece que somos quase como uma turma, parte de uma mesma geração, embora tenhamos idades bem diferentes.

Baden, Vinicius e cia.

O Brasil não é novidade para Lewis, que tocou por quatro anos com a cantora de bossa-indie-eletrônica Cibelle (e há oito anos esteve no país com ela).

— Tive muita sorte, lembro até que o Arto Lindsay se juntou a nós em dois dos shows — recorda-se.

Já Florence tem boas memórias de quando trabalhou com brasileiros em bares no centro de Londres.

— Eles sempre eram os meus melhores colegas! — conta ela, fã do LP “A tábua de esmeralda”, de Jorge Ben (“especialmente da faixa ‘Eu vou torcer’”) e da “Consolação”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes, cantada por Elizeth Cardoso.

Palco de encontros entre diferentes gerações

Quem passou sua juventude em boates e cinemas dos anos 1990 dificilmente escapou da dupla galesa Underworld: “Born slippy”, a mais engenhosa combinação bate-estacas com teclados atmosféricos, famosa na trilha do filme “Trainspotting” (1996), marcou época e ajudou Karl Hyde (vocais e guitarra) e Rick Smith (teclados) a solidificarem uma das mais duradouras parcerias da história da música eletrônica (40 anos atrás, em plena era do synthpop, eles já roçavam as paradas de sucesso com “Doot-doot”, hit do projeto Freur). Depois de uma passagem breve pelo Brasil em 2006, com o Underworld, eles voltam no C6 Fest para apresentações dia 18 no Rio e 20 em São Paulo.

— Vocês, brasileiros, entendem de dança e de comida, que é uma combinação matadora — graceja Karl, em entrevista por Zoom ao GLOBO, junto com Rick.

 O duo inglês de música eletrônica Underworld, atração do C6 Fest — Foto: Divulgação/Philippe Levy
O duo inglês de música eletrônica Underworld, atração do C6 Fest — Foto: Divulgação/Philippe Levy

No começo do mês passado, o Underworld reapareceu na cena com o single “And the colour red”.

— Esta é uma faixa particularmente suja e despojada. Vamos tocar algumas músicas novas aí no Brasil, junto com “And the colour red”. Estamos trabalhando em muitas, muitas coisas — diz Rick Smith, sem certeza se a nova faixa fará parte de algum novo álbum do Underworld. — Nosso último álbum, “Drift”, nem era exatamente um álbum, era uma série de discos que aconteceu porque passamos praticamente um ano lançando música toda semana. Portanto, não temos certeza de qual forma nossos lançamentos terão. Talvez leve ainda um ou dois anos até sair um novo álbum, seguimos experimentando.

“Born slippy”, é claro, faz parte do repertório dos shows da dupla. Mas ela não está muito aí para o passado.

— Eu passo mais tempo ouvindo o que há de novo, o que os jovens estão fazendo, do que ouvindo o que foi feito antes. E é por isso que ainda estamos fazendo música agora, e não apenas nos repetindo — diz Rick. — De vez em quando eu volto à música do passado, especialmente à de outros artistas, e é incrível, mas os jovens hoje em dia estão fazendo uma música que é verdadeiramente extraordinária e que parece muito mais relevante para mim agora, para meus filhos e meus amigos. Eu amo as coisas boas do passado, mas quero viver o agora.

Para Karl, os jovens “estão seguindo em frente e reavaliando o passado, mas assimilando-o de acordo como as pessoas se sentem agora”.

— O lado negativo da nostalgia é que ela pode estar enraizada em algum tipo de ideia do passado, mas os artistas contemporâneos estão reavaliando o passado misturando-o com um futuro. Há uma espécie de combinação de respeito e desrespeito realmente saudável. É arte, é real — diz Karl Hyde, que é fã de artistas novos como o inglês Mall Grab, a sul-coreana Peggy Gou e o sueco Yung Lean, além de pai de Tyler Hyde, baixista do Black Country, New Road. — Eles (o BCNR) são exemplos extraordinários do que é possível fazer se você se unir a outras pessoas, e é lindo ver seus filhos sendo felizes, com algo que eles adoram fazer. Perguntei à minha filha se ela não se importava que sua primeira viagem ao Brasil fosse estragada pelo fato de seu pai também estar lá... E ela disse: “É claro que não, pai, estaremos na plateia para ver vocês!”

Uma alegria para o Underworld no C6 Fest será apresentar-se nas mesmas noites que os alemães do Kraftwerk, o grupo que praticamente inventou o pop eletrônico nos anos 1970.

— É meio louco, mas não deixa de ser familiar, já que tocamos com eles muito tempo atrás. A música deles que eu ouvi num walkman nos anos 1980 mudou significativamente minha vida. E ainda acho os álbuns deles incríveis, é como música celestial — derrama-se Rick Smith. — É muito bom estar com o Kraftwerk e, ao mesmo tempo, com o Black Country, New Road, nessa celebração. É simplesmente maravilhoso.

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