Música
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Por Maria Guimarães, O Globo — Rio de Janeiro

Dominando as listas de músicas mais ouvidas do Brasil nas principais plataformas de streaming, "Tá Ok", de Dennis e Kevin O Chris, é um sucesso não só pela batida dançante, mas pela proposta nostálgica de resgatar o "Tamborzão", que embalou as primeiras gerações do funk. O hit concretiza um movimento que já estava ocorrendo e marca o início de uma nova era deste ritmo que dita as tendências da música e representa a cultura periférica brasileira.

Recheada de samples e baterias eletrônicas, a nova produção de Dennis revive o bom e velho funk melody, mesclado com o famoso trompete do funk 'proibidão' - ambos estilos tão estourados na época dos bailes funks dos anos 2000. O clipe, que já conta com mais de 1 milhão de visualizações, resgata a estética das favelas cariocas, com muito passinho e a típica irreverência carioca.

— O batidão de "Tá OK" surgiu lá em 1997, numa programação do DJ Luciano que estava na minha biblioteca de beats. A ideia foi resgatar o funk carioca raiz, porque o funk está no Brasil todo, mundo afora e cada lugar ele é tocado de uma maneira; por isso, é preciso lembrar das origens. "Tá OK" traz toda a representatividade das favelas cariocas e é quase como se um samba antigo estourasse agora — afirma Dennis.

Essa não é a única música a bombar nesse estilo nostálgico. O próprio Kevin O Chris, responsável pelos vocais de "Tá OK", lançou, no fim do ano passado, o EP "Verão do Chris", com batidas que remetem às raízes do funk.

Kevin, que também um dos grandes nomes do funk "150BPM", batida acelerada que bombou em 2017, entende que essa onda nostálgica é muito importante para valorizar artistas e produtores que contribuíram para a história do ritmo que mais embala os bailes de favela no Rio de Janeiro.

— Esse movimento é de extrema importância, porque mantém viva a essência do funk carioca e permite que novas gerações conheçam suas origens. Fico feliz em ver o público curtindo essa volta, porque é uma forma de juntar filhos, pais e avós para ouvir a mesma música — afirma Kevin.

Assim como a moda, a música também passa por ciclos e é a isso que Dennis associa essa tendência nostálgica.

— O funk tem várias vertentes, né? Eu acredito que tudo volta e falo isso, porque estou há vinte e seis anos fazendo música, já vi voltar tudo que você possa imaginar; o funk melody, funk dançante, o funk ostentação... Se fez sucesso uma vez, vai fazer daqui a dez anos de novo, então você pode resgatar uma melodia antiga, até mesmo uma letra antiga e adaptar. O que a gente conheceu aqui nos 1980, quando o DJ Malboro lançou as "melôs", aquela coisa toda dos funks gringos, já era resgate de beats dos anos 1970. Essa prática reciclagem já é muito forte na nossa cultura — destaca Dennis.

Fenômeno não é só carioca

Outros artistas já investiram na nostalgia do funk e o resultado também foi um sucesso. Em 2021, o rapper mineiro Fabrício Soares, o FBC, resgatou, em seu álbum "Baile", a batida "Miami Bass", muito tocada nos bailes de Belo Horizonte desde a década de 1990. O hit "Se Tá Solteira" viralizou nas redes sociais justamente pela familiaridade que muitas pessoas sentiram com a música.

FBC  — Foto: Divulgação
FBC — Foto: Divulgação

Contudo, FBC destaca que o que era tido como passado para o Rio de Janeiro, nunca deixou de tocar nos bailes de BH.

— Quem vê (Baile) de fora, fala que é o funk dos anos 2000, mas quem é de Belo Horizonte sabe que é uma parada que soa muito mais como algo nosso. As pessoas só consumiam o funk feito no Rio de Janeiro e São Paulo e isso só está mudando agora, já que Minas Gerais está se revelando uma grande potência de produtores musicais — afirma Soares.

O rapper, que considera que funk e rap andam juntos desde as suas origens, acredita que, assim como o samba, o funk é uma síntese da música brasileira, por isso a importância de resgatar e valorizar as raízes.

— As batidas do funk tem origem na África, nos povos originários brasileiros, é uma verdadeira fusão das origens do Brasil em um ritmo. Na escala global, é o novo samba e ainda vai existir por muito tempo, porque o que faltava antes era tecnologia. É um estilo de música que precisa de investimento tecnológico para existir e agora está recebendo bem mais — finaliza FBC.

O que pensa a nova geração

O funkeiro Victor Mitoso, conhecido pelo nome artístico Puterrier, é dono do hit viral "Marolento" e acredita que o "tamborzão" e as "macumbinhas", batidas de funk que incorporam um ou mais atabaques, são futuro do funk. Para ele, o passado está na moda e a inovação também pode vir das raízes.

— A nova era do funk já chegou resgatando as raízes. Passamos por um momento de padronização de ritmo, muito por conta das dancinhas de Tik-Tok, importantes para popularizar, mas que não podem definir como o funk tem que ser. As pessoas só se preocupam em viralizar e o funk não é só isso, é cultura. A 'parada' tem que evoluir para enriquecer a cultura, tornar o mercado mais vasto e é isso que estou vendo acontecer agora --- afirma ele.

Puterrier é um dos pioneiros do ritmo que apelidou "Atabagrime", uma mistura da batida de funk feita com atabaques e do ritmo de música eletrônica britânico Grime. O som, de ritmo acelerado e batidas fortes tem movimentado as pistas de dança e aponta para um futuro que integra as raízes com o futuro tecnológico da música eletrônica.

Puterrier no clipe de "Marolento" — Foto: Divulgação
Puterrier no clipe de "Marolento" — Foto: Divulgação

Para ele, essa tendência do "tamborzão" demonstra que os funkeiros estão valorizando mais a sonoridade brasileira.

— Teve uma época que as músicas que viralizavam tinham uma pegada mais "americanizada" e eu sinto que a volta desses ritmos antigos, torna a música mais nossa, trazendo um patriotismo e acabando com o vira-latismo. Tenho feito música com o ritmo inspirado em sambas-enredo e vejo MCs lançando funks no tempo da batida das marchinhas de carnaval. É um movimento importante não só pela sonoridade, mas pela autoestima, até porque o funk também é política e traz muito orgulho alavancar nossas raízes e destacar nossa cultura — afirma Mitoso.

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