Reserva de qualidade no rock, aquele cara a quem sempre se recorre para produzir um álbum porreta (Arctic Monkeys e Iggy Pop que o digam), o americano Josh Homme vive basicamente do que lhe proporcionam os Queens of The Stone Age: a banda que fundou em 1996 e da qual se espera sempre algo que dê uma sacudida ou pelo menos arejada no estilo.
Lançado na última sexta, “In Times New Roman...”, o oitavo álbum dos Queens, cumpre o de sempre, embora não da maneira que se esperaria: um tanto da tensão erótica do som da banda continua lá, mas ele soa bem mais como um exorcismo do que como tentativa de sedução.
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A razão é bem sabida. Desde o último álbum do grupo, “Villains” (de 2017), os tempos não foram fáceis para Homme, que enfrentou um divórcio, uma batalha judicial pela guarda dos três filhos, a perda de amigos como Taylor Hawkins e Mark Lanegan e, por fim, um câncer. “In Times New Roman...” reflete esses acontecimentos com uma fúria sonora (e desabafos nas letras) que não estavam nos últimos discos.
Grupo que passou décadas alternando metamorfoses, primando pelo estilo, mas sem jamais negligenciar a substância, o QoTSA não baixou a bola no novo disco: manteve o apuro, a estranheza (que sempre o diferenciou da massa) e a qualidade da execução (precisa, mas suja, a cargo de músicos que acompanham Homme há pelo menos uma década), num trabalho que joga habilidosamente com inúmeras referências clássicas do rock .
Com uma guitarra rica em texturas sonoras e efeitos e uma voz que transita entre o falsete e os graves, Josh Homme conduz a banda por um disco sombrio, embora dançante, deixando um pouco de lado as ambições de Led Zeppelin de “Villains” por viagens glam de David Bowie.
Com a pulsação necessária, “Obsecenery” abre este álbum até curto (pouco mais de 47 minutos), sendo seguida por “Paper machete”, que promove uma volta ao grunge e ataca na letra: “Agora eu sei que você usaria qualquer coisa, qualquer um/ para parecer limpo/ na doença, nenhum voto significa nada.”
Nem tudo no disco funciona tão bem: “Straight jacket fitting” se estende um pouco demais no encerramento. Mas basta uma “Emotion sickness”, com seu ótimo refrão e contagiante balanço, para garantir aos Queens a liderança no jogo.
Cotação: Bom