Música
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Por Bernardo Araujo; Especial Para O GLOBO — Rio de Janeiro

A cidade não para, a cidade só cresce. Na virada dos anos 1980 para os 1990, a cena cultural no Recife cresceu em direção a si mesma, à sua periferia e ao interior de Pernambuco. A juventude, nos jurássicos tempos pré-internet, começou a se reunir em festas (na zona dos cabarés, onde hoje é o turístico Marco Zero), que acabaram gerando uma cena musical.

— Era uma juventude ávida por conhecimento, uma vontade de criar e de interagir — define Pupillo, ex-baterista da Nação Zumbi, hoje titular da banda de Marisa Monte e um dos principais produtores da cena nacional. — Pernambuco estava num ostracismo danado, e a forma que encontramos de sacudir aquilo foi buscando na própria cultura popular, que tem uma riqueza imensurável. Começamos a fazer de dentro para fora, e o país inteiro acordou.

Som mais brasileiro

Outro artífice do mangue beat (ou bit, chegaremos a isso em breve), o DJ Dolores, nascido Hélder Aragão, diz que nomes como Chico Science e Nação Zumbi e Mundo Livre S/A ajudaram a formatar uma música pop realmente brasileira.

— As bandas dos anos 1980, que todos nós ouvíamos, pareciam mais traduções da música estrangeira, no tipo de som e até nas letras — lembra ele. — Quando Chico começou a misturar guitarra e maracatu, as pessoas se sentiram pertencentes àquilo. Além disso, a Nação Zumbi era uma banda com pretos e mestiços, e o povo se enxergava ali, diferente da maioria das bandas de rock.

Na época, tocavam samba-reggae. Pra você ver como estava a autoestima do pernambucano, tocando música da Bahia”, lembra o ex-Nação Pupillo — Foto: Edilson Dantas
Na época, tocavam samba-reggae. Pra você ver como estava a autoestima do pernambucano, tocando música da Bahia”, lembra o ex-Nação Pupillo — Foto: Edilson Dantas

Francisco de Assis França, o Chico Science, militava na música, sendo fã de gêneros musicais como o soul e o hip-hop, enquanto trabalhava numa empresa estatal de processamento de dados. Um dia, o percussionista Gilmar Bola Oito convidou Chico para um ensaio do seu grupo afro, o Lamento Negro.

— Na época, tocavam samba-reggae, que estava estourado — lembra Pupillo. — Pra você ver como estava a autoestima do pernambucano, tocando música da Bahia.

Chico pirou no som dos tambores e chamou Gilmar para integrar sua nova banda, a Nação Zumbi, que teria as guitarras (do virtuoso Lúcio Maia) casadas à percussão como essência sonora. Depois de fazer um barulho, concreta e metaforicamente, na capital pernambucana, a cena do mangue começou a se expandir para o resto do Brasil.

— Fui ver Chico Science e a Nação Zumbi no Aeroanta, em São Paulo — lembra Jorge Davidson, à época executivo da gravadora Sony Music. — Quando vi aquilo, resolvi contratar na hora. Eles iam voltar pro Recife de ônibus, eu proibi: “vão ficar aqui até assinar o contrato, e depois voltam de avião”.

O resto, como se sabe, é história. Naquela noite no Aeroanta, além da Nação, apresentou-se o Mundo Livre S/A, que nessa quarta (7), às 22h, comemora os 30 anos do mangue beat no Circo Voador, em show com a participação de Doralyce e Tagore e abertura da banda baiana Maglore.

— Não tocamos no Rio desde 2016! — admira-se Fred Zero Quatro, cantor e líder do Mundo Livre.

Além das próprias músicas (e foram dois discos nos últimos anos, “A dança dos não famosos”, de 2018, e “Walking dead folia (Sorria você teve alta!)”, de 2022), o Mundo Livre deve tocar sucessos da Nação Zumbi como “A praieira”, “Samba makossa” e “Rios, pontes e overdrives”.

— Nós fizemos um projeto com eles em 2013, em que uma banda gravava músicas da outra — lembra Zero Quatro. — Foi uma das coisas mais legais que nós fizemos, é uma alegria tocar esse repertório e ainda festejar os 30 anos do mangue.

Chico Science e Nação Zumbi em apresentação no Hollywood Rock 1996, na Apoteose, no Rio — Foto: Julio César Guimarães
Chico Science e Nação Zumbi em apresentação no Hollywood Rock 1996, na Apoteose, no Rio — Foto: Julio César Guimarães

Bit ou beat?

— Originalmente era só mangue — diz o cantor, rindo da pergunta. — Na época, Chico lançou “Manguetown”, um hino. Aí, como tinha toda aquela história de a gente usar samples, equipamentos eletrônicos, que nem eram muito fartos na época, eu comecei a usar bit, mais como uma provocação. Mas os dois tão valendo, o importante é divulgar o movimento.

O DJ Dolores — hoje um profissional requisitado, produtor e autor de trilhas sonoras, como a da série “Lama dos dias”, passada na cena do mangue, que vai para sua segunda temporada no Canal Brasil — se lembra bem de como começou sua história com os samples.

— Eu gravava sons em fitas cassete e tentava tocá-las no mesmo andamento das bandas! — lembra ele, às gargalhadas. — Foi a coisa mais próxima de um sample que eu tive lá no começo.

Samples polêmicos

A prática de se colar, eletronicamente, trechos de outras músicas e ruídos nas canções, uma marca registrada da turma do mangue, já rendeu ao Mundo Livre uma modalidade de censura.

— Lançamos a música “Baile infectado”, um single do disco “Walking dead folia”, que logo teve uma enorme repercussão, começou a entrar em várias playlists — conta Fred Zero Quatro. — Além de a música falar da pandemia e do negacionismo, o nome é uma brincadeira com o filme “Baile perfumado” (1996, de Lírio Ferreira), de cuja trilha todos nós participamos.

O sucesso veio como é comum hoje em dia: stories do Instagram usavam a música como trilha sonora. Até que...

— Um dia, vieram nos falar que a música não estava mais disponível para uso no Instagram — conta Zero Quatro. — Fomos indagar, e eles disseram que tinham uma nova política, que não permitia faixas com o uso de samples. Se for assim, boa parte da música mundial das últimas décadas estaria proibida, né, não?

Mas não há de ser nada: hoje no Circo tem “Baile infectado”, no baile perfumado de 30 anos do mangue.

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