Música
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Por Mari Teixeira — Rio de Janeiro

O ano era 2017. As rádios, as festas e as paradas dos streamings espalhavam pelo mundo o reggaeton “Despacito”, do porto-riquenho Luis Fonsi. A música teve o vídeo mais visto de todos os tempos no YouTube, fez história e abriu caminhos para uma legião de artistas latino-americanos deixarem suas marcas. Seis anos após o boom do reggaeton e de um domínio de colombianos e porto-riquenhos, com nomes como J Balvin, Maluma, Sebastián Yatra e Daddy Yankee, o tempero latino fica ainda mais forte, adicionando países e mais gêneros musicais da receita.

Abrir o Spotify no Top 50 Global é se deparar com 30% de músicas latinas — e, esta semana, dominando os cinco primeiros lugares. Quatro são do México, e dar o play leva o ouvinte para uma versão contemporânea da música conhecida como banda — gênero tradicional mexicano no qual os instrumentos de sopro são as estrelas. A junção desse som com batidas de música urbana, como o trap, dão origem a uma nova vertente, o corrido tumbado, representado, principalmente, por Peso Pluma, Eslabon Armado e Grupo Frontera. Na Billboard Global 200, são também os mexicanos que ocupam os primeiros lugares — no total, 21% das músicas são de origem hispânica.

Segundo a gerente de relacionamento com artistas e gravadoras do Spotify no Brasil, Carolina Alzuguir, as execuções de música latina cresceram cerca de 170% nos últimos cinco anos na plataforma. Ela conta que a playlist Viva Latino alcançou o maior consumo de todos os tempos no último ano e agora é uma das mais ouvidas globalmente, ficando atrás apenas de Today’s Top Hits.

— A música latina não é mais um gênero emergente, se tornou o gênero dominante. A música latina urbana, por exemplo, se tornou favorita entre os ouvintes, especialmente da Geração Z — diz Alzuguir. Mais de 50% dos ouvintes de música latina no mundo têm menos de 30 anos.

Depois do narcocorrido

Para Natalia Bieletto-Bueno, pesquisadora do Centro de Artes e Humanidades da Universidad Mayor, do Chile, a expansão é resultado de um reposicionamento dos ritmos latinos na indústria musical que acontece desde os anos 1990.

— O espanhol é uma das línguas mais faladas no mundo, então não me parece surpreendente que a música hispânica adquira essa relevância — diz Natalia. — No caso do México, o narcocorrido (gênero que deriva da música tradicional mexicana e retrata arealidade do narcotráfico — muito como o funk e o rap brasileiros) e seu auge nos anos 1970 posicionou esse estilo de música como uma espécie de contracultura. Mas, hoje, essa nova geração de artistas já está muito inserida na realidade musical e eles não dependem mais do apoio da indústria.

Mas o que se vê nos primeiros lugares é outra derivação do corrido mexicano. O corrido tumbado, que domina as paradas, ainda traz o tema da violência, mas tem letras com pitadas de romance, bebe das baladas pop, trabalha com refrães repetitivos e melodias pegajosas, o que pode também ajudar na universalidade do gênero, diz Natalia.

Ainda que a pimenta mais forte seja a mexicana, as sonoridades passam pelo ponto mais ao Norte da América Latina, no México, e chegam no mais baixo, Argentina. Uma das trends mais recentes do TikTok envolve a música “Cupido”, de Tini, de Buenos Aires, com mais de 20 milhões de ouvintes mensais no Spotify. A música já teve 170 milhões de reproduções na plataforma e, na rede social chinesa, já foi trilha de mais de um milhão de vídeos.

Os porto-riquenhos e colombianos não ficam de fora, claro. Bad Bunny, nascido em Porto Rico, é o artista mais ouvido do mundo no Spotify há três anos e seu último álbum, “Un verano sin ti”, atingiu o primeiro lugar na plataforma e na Billboard 200. Ele canta trap, arrisca-se na bachata (gênero originado na República Dominicana) e não nega o reggaeton. Assim como ele, a colombiana Karol G chegou ao primeiro lugar da Billboard 200 com seu álbum “Mañana será bonito”, tornando-se a primeira mulher a atingir tal feito com um trabalho em língua espanhola.

Enquanto isso, ‘en Brasil’...

Seja pelo idioma, seja por uma formação cultural diferente, a música brasileira e as de países hispânicos ainda têm laços a estreitar. Especialmente quando se trata dos ouvintes. Mas, de acordo com a pós-doutora em Comunicação e em Música Simone Luci Pereira, o cenário é promissor:

— Estou estudando o bairro do Bixiga, e lá vai ter um festival de cúmbia (gênero de origem afrolatina com presença forte em toda a América Hispânica). Esses grupos de cúmbia são alternativos e estão longe de Spotify, mas isso cria um público que vai falar: “tem música latina em São Paulo, vamos lá ouvir essa cúmbia”. O fato de artistas como Eslabon Armado, Peso Pluma e Bad Bunny estarem nas paradas, de algum jeito, alimenta cenas invisíveis como essa de São Paulo — diz a pesquisadora, fazendo uma ressalva. — É importante para o Brasil se conectar mais e criar esse sentido de latinidade em nós.

Os artistas brasileiros não estão alheios à realidade da força latina nas paradas. Pelo contrário. Anitta, em março de 2022, chegou ao primeiro lugar do Top 50 Global do Spotify com “Envolver”, mistura de reggaeton com funk, cantada inteiramente em espanhol. A carioca fez também parcerias com os colombianos J Balvin e Maluma.

Ludmilla no Rock in Rio — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Ludmilla no Rock in Rio — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

Em maio, Ludmilla se uniu à argentina Emilia na faixa “No se ve”, um funk com batidas de dance music. Resultado: 52 milhões de plays no Spotify.

Parcerias não faltam, e a mistura de ritmos é tendência na indústria musical, como reforça Simone Luci Pereira:

— Você vai fazendo fusões e tudo se torna um pop generalizado que tem algumas diferenças pontuais. É uma mistura produzida para gerar uma novidade, mas que acaba soando familiar.

A identificação é tida como fundamental para fidelizar novos públicos. A carioca Lis Azeredo, de 28 anos, conheceu o reggaeton na adolescência e há anos frequenta festas com foco em músicas latinas.

— Escuto todos os dias, amo o reggaeton, e a partir dele conheci novos sons, como a cúmbia — diz Lis. — Acho incrível essa expansão por vários motivos, e um deles é que não dá para enjoar da música latina, sempre tem novidade.

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