Música
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Por Talita Duvanel — Rio de Janeiro

As divas estão por toda parte. Estão, por exemplo, na voz de uma delas, Beyoncé, que trouxe de volta seu hit “Diva”, de 2009, aos shows da nova turnê, Renaissance. Estão nos posts dos fãs brasileiros de Taylor Swift, que comemoram a vinda dela em novembro. Estão também na cabeça dos curadores do Victoria and Albert Museum, um dos mais importantes de Londres, que abre, dia 24, a exposição “DIVA”, dedicada a esse tipo de estrela. Serão fotos, roupas, vídeos e objetos de nomes que vão da soprano Maria Callas à roqueira Tina Turner e à popstar Rihanna, passando pela atriz Marilyn Monroe e pela drag queen Ru Paul — sem esquecer dos músicos Elton John e Prince.

Derivado do latim e relacionado à divindade, usado pela primeira vez para se referir às cantoras de ópera do século XIX, o termo vive este boom, principalmente, pela retomada das grandes turnês e eventos em 2023, com o fim confirmado da pandemia. Mas, ironicamente, também passa por um momento de “crise”: o que é ser uma diva hoje? Que atributos uma artista (e um artista também) deve ter para entrar nesse panteão?

— Celebridades temos muitas, mas divas não — diz Simone Pereira de Sá, professora de Estudos de Mídia da Universidade Federal Fluminense e com tese de doutorado sobre a primeira diva pop brasileira, Carmen Miranda. — A diva é uma mulher empoderada, consciente do corpo, bem-sucedida financeiramente no que faz e que é modelo para outras. Isso continua como referência (independentemente do tempo).

Ter talento de base não é predicado primordial. O segredo do sucesso está muito mais na performance, que vai além de ser altamente afinada ou dançar como uma bailarina.

— A diva de hoje precisa ter desempenho não só no palco, mas nas redes sociais, nas aparições na mídia — diz Mariana Lins, pesquisadora da Universidade Federal de Pernambuco e uma das organizadoras do livro “Divas Pop: O corpo-som das cantoras na cultura midiática”, que pode ser baixado gratuitamente no site do selo PPGCOM/UFMG.

Isso coloca brasileiras como Anitta (já internacionalmente reconhecida), Iza e Gloria Groove nesse patamar. E, apesar de ser uma ideia geralmente atribuída ao feminino, existem muitos homens no show business que entram na categoria, como Sidney Magal e Ney Matogrosso.

Show de Anitta abriu a final da UEFA Champions League — Foto: Marco BERTORELLO / AFP
Show de Anitta abriu a final da UEFA Champions League — Foto: Marco BERTORELLO / AFP

— Uma diva está ligada à corporeidade, e todos esses nomes, de certa forma, também — diz Mariana.

‘A minha é melhor’

Não existe divindade sem fiéis, nem diva sem fãs. Por isso, desde os tempos da ópera, as artistas entendidas como divas só chegam a tal posto — e se mantêm nele — por causa de uma validação. Nos primórdios do uso do termo, a legitimização vinha da imprensa; depois, com a popularização do rádio, do cinema e da TV, passou a vir da audiência. Agora, com as redes sociais, a base de fãs é um bem ainda mais necessário e, principalmente, atuante.

— Como o ativismo dos fãs em prol dos seus ídolos nas redes é fortíssimo, ele reforça o lugar da diva — diz Simone. — Essas artistas ainda são colocadas numa espécie de Olimpo, mas essa distância precisou diminuir um pouco. Os fandoms têm contribuído para, de alguma maneira, humanizar as divas, torná-las um pouco mais mortais, ainda que, se elas se humanizarem completamente, deixem de ser divas.

A cultura de fãs atual reforça um comportamento que sempre existiu no universo “divônico”: a rivalidade. Neste fim de semana era fácil ver um exemplo: bastava entrar no Twitter, a arena principal dessas disputas. Com o fim dos ingressos do show de Taylor Swift no Rio, no 18 de novembro, seus fãs e os de Beyoncé entraram numa discussão sem fim sobre quem é uma “verdadeira diva”. Resposta sem paixões: ambas.

—Essas rixas são formas de reafirmar quem é quem. Por muito tempo, a indústria funcionou nessa lógica — diz Igor Lemos Moreira, historiador e pesquisador de música pop da Universidade do Estado de Santa Catarina, que finaliza uma tese de doutorado sobre a diva cubana Gloria Estefan.

Um exemplo de rivalidade como alma do negócio era a competição entre as cantoras Marlene e Emilinha Borba nos anos 1930.

—A era do rádio foi inteira assim — diz Igor. —Na década de 1980 e 1990, a imprensa também insuflou muito essa estratégia. Antes, havia um grupo de pessoas que pensava nisso como lucrativo. Agora, a internet popularizou esse processo, e hoje as gravadoras nem precisam se preocupar, porque os fãs criam as rivalidades sozinhos.

Jogando luz nas estrelas

Apesar de o status de diva ter sido criado no contexto da ópera e as maiores da atualidade estarem na música pop, a exposição do Victoria and Albert, em Londres, dá destaque também a figuras do cinema com ares de divindade. Atrizes como Vivien Leigh, Mae West, Marilyn Monroe e Bette Davis são algumas das artistas fora da música retratadas, mas a mostra não apresenta nenhuma estrela atual do cinema ou da TV.

Marilyn Monroe no filme "Quanto mais quente melhor" — Foto: Divulgação
Marilyn Monroe no filme "Quanto mais quente melhor" — Foto: Divulgação

De fato, há uma carência atual de divas nessas áreas, e a pesquisadora Mariana Lins, da Universidade Federal de Pernambuco, acredita que não é um problema desses meios e sim uma certa vantagem da área musical. Por ter passado por diversas crises, o negócio da música se viu obrigado a criar estratégias de imagem que cabem perfeitamente nesse momento de celebrização de pessoas.

— A indústria da música passou por crises horrorosas, então há toda uma estratégia que faz parte de um processo de reestruturação de um negócio que não vive mais da venda de disco, mas precisa vender show, merchandising. E como se faz isso? Vendendo imagem.

É certo que a imagem dessas mulheres sempre foi um ativo forte na construção de suas personas—vide Maria Callas e as dietas —mas a diva de hoje sofre ainda com mais violência a cobrança pela aparência perfeita. Nem Madonna, uma diva incontestável, saiu ilesa do Grammy, em fevereiro passado, quando seu rosto passou por um escrutínio público feroz. Qualquer extravagância, antes reverenciada, passa a ser vista como ridícula.

—As divas mais velhas, em função dessas dinâmicas de imagem, sofrem mais hoje em dia com o envelhecimento— diz Mariana. —É muito difícil manter-se numa cultura de tanta ode à juventude.

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