Música
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Por Mari Teixeira — Rio de Janeiro

Após o Skank anunciar sua separação, o tecladista Henrique Portugal começou a pensar no tipo de música que faria após o fim da banda em que passou a maior parte da vida. Resolveu se voltar para um público “mais adulto”, não necessariamente dependente de modismos, mas ávido por novas experiências. O resultado desse amadurecimento sonoro é “Impossível”, EP com letras em que se destaca a busca por propósito e uma certa desconfiança da contemporaneidade. Distante no tempo e na ânsia do refrão de “eu quero te provar!” do hit “Garota nacional”, Henrique agora fala de maturidade, frustrações e amores vividos e perdidos.

O compositor mineiro não está sozinho na produção de entretenimento para este nicho. Eventos, filmes e séries surgem como parte de um classificação etária que é hoje uma tendência: 40+.

— Seja pelo estilo de arranjo, seja o jeito de cantar, acho que existe uma estética sonora para cada geração — diz Henrique, 58 anos, que, mesmo já tendo passado há um tempo dos 40, toca em um ponto que continua valendo anos a fio. — Quando se atinge uma certa idade, passamos a ser mais seletivos. A memória afetiva nos leva a buscar novidades parecidas com aquilo que já conhecemos.

“Seletividade” é um conceito que aparece também quando Alexandre Pansera, fundador da produtora de eventos Radix, explica o Piknic Électronik, festival de música eletrônica que ocupou em abril o Parque Ibirapuera. O evento paulistano queria ser convidativo ao público 40+ e, para isso, lembrou de seus agregados “sub-12”. O festival tinha praça de alimentação e espaço infantil com recreação monitorada, além de protetores auriculares e banheiro exclusivo para crianças.

— O público mais maduro é cada vez mais exigente em relação a lugar que frequenta — explica Alexandre. — Em geral, após terem filhos, as pessoas ficam sem ter lugar para ir, deixam seus gostos de lado, por falta de tempo ou de alguém para cuidar das crianças. Ao observar a cena eletrônica, notamos esta lacuna a ser preenchida.

Luis Justo, CEO da Rock World, empresa que organiza os festivais Rock in Rio e o The Town (cuja primeira edição rola em setembro, em São Paulo), considera conforto fundamental para agradar aos 40+.

— Este é um público que preza por uma experiência confortável, segura e tranquila. Nós temos justamente um olhar especial voltado para a experiência do público, queremos que eles vivam dias mágicos — diz Justo, destacando que a presença de artistas consagrados como Ney Matogrosso e Barão Vermelho no The Town é parte da estratégia para atrair uma plateia mais madura.

Filmes ou séries mirando os 40+ convergem no tema do amadurecimento. “And just like that” (reboot de “Sex and the city...”) e a espanhola “Machos alfa” vão nesta linha: lidam com problemas no casamento, crianças crescendo, a vida sexual em nova frequência (em todos os sentidos). Já filmes recentes, como as comédias românticas “Na sua casa ou na minha”, com Ashton Kutcher e Reese Witherspoon, ou “Ingresso para o paraíso”, com Julia Roberts e Richard Gere, tratam de divórcio e amizade de uma forma que alguém acima dos 40 anos entende bem melhor do que quem ainda não chegou lá.

Esperança e experiência

Na opinião da antropóloga Mirian Goldenberg, autora de 30 livros sobre envelhecimento, quem chega aos 40 está em um momento de transição:

— Quem chega à faixa dos 40 anos hoje é alguém que ainda alimenta muitos valores, desejos e sonhos da juventude. Ao mesmo tempo, sabe que está envelhecendo e tem que curtir tudo o que pode nessa fase da vida. Então, querem usufruir plenamente daquilo que podemos chamar de maturidade.

‘Ditadura da juventude’

Faz sentido que este movimento aconteça na cultura brasileira consideradas as mudanças demográficas. Este mês, dados de uma pesquisa divulgada pelo IBGE mostraram que os brasileiros abaixo de 30 anos, que eram metade da população em 2012, já caíram para 43,3% em uma década. Ou seja: o país está cada vez mais 40+.

O mercado publicitário, no entanto, ainda não parece acompanhar as estatísticas. Basta olhar em volta: rostos jovens são os protagonistas nas campanhas, a não ser em alguns casos específicos, segundo avalia a consultora de estilo e influencer Ana Soares.

—Por mais que tenham acontecido alguns avanços na discussão do etarismo, ainda é pouco. Estou com 44 anos e me procuram para falar de calcinha de incontinência urinária, creme anti-idade… Parece que você não serve para mais nada — diz Ana, que no entanto vê com bons olhos eventos que pensem no público “mais adulto”. — Não resolve o preconceito, mas acho interessante. Eu já estou na faixa etária cansada, prefiro ficar sentada, saber que vai ser um espaço diferente daquela correria do jovem.

Luciana Oliveira, de 50 anos, conta que desde que entrou nos 40 sente dificuldade em encontrar programas para a sua faixa etária. Gerente na indústria têxtil, ela não deixa de sair, mas descreve como é estar em um “ambiente mais jovem”:

— A pele muda, as rugas aparecem, os cabelos brancos brotam e o preconceito não perdoa. O sentimento é mais pelo que pensam de nós do que pelo que realmente somos, porque ainda me sinto jovem e com vontade de viver.

Sem pressão

O segredo, diz a antropóloga Mirian Goldenberg, pode ser deixar o que o outro pensa de lado e aproveitar o programa da melhor maneira. A empresária e promoter Liège Monteiro, ao lado do sócio Luiz Fernando, acredita que o ideal é misturar o público.

— Convido todo tipo de gente, de todas as idades — diz Liège. — No último Prêmio da Música Brasileira, havia convidados com perfil mais jovem, como Bruna Griphao, Rodrigo Simas e Bruna Linzmeyer, mas também havia convidados com mais de 40 anos, como Fátima Bernardes, Poliana Abritta e Maju Coutinho.

No fim das contas, a decisão de enfrentar a meia-idade é de cada um, seja buscando por iguais, seja se misturando na multidão. Mirian acredita que o importante é se libertar da “ditadura da juventude”.

— Já estamos mudando concretamente essa realidade e mostrando que a maturidade também pode ter beleza, sensualidade, produtividade e principalmente liberdade e felicidade — analisa.

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