Música
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Por Silvio Essinger — Rio de Janeiro

Em 20 anos de shows no Brasil, Juan Brujo, cantor e fundador do grupo de death metal Brujeria, confessa ter visto coisas que até hoje lhe parecem irreais.

— A gente estava tocando num ginásio de basquete de um colégio, numa favela do Rio, aí um cara subiu no palco, pegou o chapéu de caubói de Jeff Walker (o baixista) e fugiu. A gente parou o show e então uma outra pessoa, armada, subiu no palco e falou: “Devolva o chapéu ou eu mato você!” Não sei se era o membro de uma gangue, ou um policial, o negócio é que ele ficou um bom tempo sacudindo a arma e dizendo que ia matar a pessoa que pegou o chapéu. Muito louco esse show — recorda-se o cantor, que se apresenta nesta sexta-feira (25) com o Brujeria no Circo Voador, no Rio, no Kool Metal Fest, ao lado das bandas Ratos de Porão, Gangrena Gasosa e Velho. — E o engraçado é que um ano depois alguém encontrou o cara usando o chapéu, arrancou-o dele e enviou-o de volta para Jeff. O cara ainda estava vivo.

É o tipo de história que caberia bem em “Matando güeros” (1993), o álbum de estreia da banda, formada em 1989 em Los Angeles, para contar, em canções do mais brutal heavy metal possível, as histórias dos traficantes de drogas do México e sua rotina de assassinatos e mutilações (com algumas pitadas de satanismo). A capa do disco (a foto da real cabeça degolada de um traficante, tirada de um jornal) causou controvérsia e chamou a atenção para esse grupo que Juan Brujo (nome verdadeiro: John Lepe) montara com alguns conhecidos músicos da cena local de rock pesado, como Billy Gould, baixista do Faith No More (que, assim como seus colegas famosos, apresentava-se com um lenço cobrindo o rosto e a proteção de um pseudônimo).

— Quando começamos a gravar discos, não pensamos que a coisa iria mais longe do que, talvez, o México. Mas aí explodimos, apesar de que só fomos fazer shows por volta de 2002. Originalmente, o plano era de que ninguém soubesse quem éramos, seriam músicas feitas por integrantes de cartéis de drogas do México. E funcionou. Naquela época, não havia internet, então ninguém tinha a menor ideia do que estava acontecendo — conta Juan, que desta vez vem ao Brasil com o Brujeria para o show de comemoração dos 30 anos de “Matando güeros”. — Este disco foi proibido em 25 países logo no dia do lançamento. A gravadora me ligou às seis da manhã para me perguntar o que tinha nas letras, porque a filial da Europa tinha mandado todos os nossos discos de volta.

Estocadas em Trump

Em 1995, o Brujeria expandiu a sua temática no segundo álbum, “Raza odiada”, em cuja faixa-título é encenado o fuzilamento, por traficantes mexicanos, de Pete Wilson, governador da Califórnia que defendia a proibição, para imigrantes ilegais, de atendimento médico não emergencial, educação pública e outros serviços do estado. Em 2016, foi a vez do single “Viva Presidente Trump!” e, três anos depois, a de “Amaricon Czar”, estocadas em Donald Trump — que não teve o mesmo espírito esportivo que Pete Wilson.

— Eis que um dia a polícia do Serviço Secreto veio até minha casa, com coletes à prova de balas e armas procurando por mim, com os discos nas mãos para perguntar o que era aquilo. E depois foram à casa da minha mãe. Eu só disse: “Levem-me, ponham-me na prisão e me deixem rico!” — gaba-se Juan.

Prestes a lançar mais um álbum (“Esto es Brujeria”, que sai no próximo dia 15), o vocalista avisa que vem com “a melhor formação que o Brujeria já teve”. Nos últimos anos, têm participado do grupo o inglês Shane Embury (baixista do lendário grupo de grindcore Napalm Death) e a atriz americana Jessica Pimentel (a Maria Ruiz de “Orange is the new black”) — que canta e encarna o personagem La Bruja Encabronada, tema de uma das faixas do novo disco.

— Todos os músicos são famosos com seus outros trabalhos, por isso é que foi tão difícil começar a fazer turnês com o Brujeria. E é por isso que eu sou o único integrante fixo: porque não sou famoso! — explica Juan Brujo.

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