Música
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Por Mari Teixeira — Rio de Janeiro

Em 1974, o maestro Júlio Medaglia, o compositor Rogério Duprat e o professor do Instituto de Matemática e Estatística da USP Ernesto de Vita alimentaram um computador com harmonias, melodias e ritmos clássicos. Usando probabilidade e análise combinatória, a máquina era capaz de gerar novas composições, de forma similar ao que hoje é chamado de inteligência artificial generativa.

— Quando a gente compõe, trabalha matematicamente. Esse componente racional na construção de uma melodia é o mesmo tanto em Vivaldi quanto em Chitãozinho & Xororó, e por isso pode ser imitado por um computador — opina Medaglia.

Cinco décadas depois, a imitação ficou tão boa a ponto de grandes corporações fecharem contratos “com” diferentes formas de IA.

Na segunda-feira (21), o YouTube divulgou um artigo com “princípios para parcerias com a indústria da música em tecnologias de Inteligência Artificial”. Um dos tais princípios visa a explorar a IA generativa na produção musical e, para isso, a plataforma lançou a Incubadora de IA do YouTube Music em parceria com a Universal Music.

De acordo com a plataforma de vídeos, os artistas parceiros irão “contribuir para o desenvolvimento de tecnologias de IA generativa, fornecendo feedback e insights”.

Em 2019, a Warner Music se adiantou e contratou o aplicativo alemão de música ambiente Endel. A tecnologia cria músicas a partir da análise de fatores como localização, temperatura e horário. Procurada, a Warner não explicou se o contrato segue em vigor, qual a natureza dele ou quais as vantagens que essa parceria traria.

Deepfake

Mas pode-se ir além da melodia. Hoje é possível imitar perfeitamente vozes e trejeitos vocais de artistas conhecidos. Este modalidade de deepfake vem atraindo olhares de preocupação, já que pode ser uma forma de falsificar a participação de cantores em obras. O caso recente mais famoso envolveu o rapper Drake e o cantor pop The Weeknd. Um produtor anônimo usou IA para compor a faixa inédita “Heart on my sleeve”, que recria a voz, sem autorização, desses dois artistas. A faixa, disponível no streaming, foi logo revelada como fraude e não chegou a enganar ninguém. Mas turbinou uma onda de ressuscitar vozes de artistas mortos, como Elvis, Frank Sinatra e Chorão, do Charlie Brown Jr., que renasceu para cantar o hit “O Sol”, de Vitor Kley.

Mais importante: o deepfake levantou um debate sobre direitos autorais. Afinal, quem é o dono de uma voz humana recriada por um computador?

— Ainda não há uma legislação específica para IA, mas a Lei de Direitos Autorais proíbe o uso da voz de uma pessoa sem autorização ou para criar uma obra derivada. O caso fica mais grave falando de deepfake porque há uma violação do Código Civil — explica a advogada de direitos autorais Flávia Tendler.

Para quem ouve e cria

Vale lembrar que algumas intervenções dessas tecnologias já fazem parte do cotidiano de quem consome e produz música. Há a sugestão de faixas pelo streaming baseada nos hábitos do usuário, e também um setor do Spotify, comandado pelo cientista e compositor François Pachet, que desenvolve ferramentas para auxiliar profissionais no processo de composição e produção fonográfica.

O produtor musical João Marcello Bôscoli conta que usa alguns desses expedientes em seu trabalho. Entre as funções, estão a restauração de material, eliminação de ruídos sonoros ou recursos técnicos como equalização da música enquanto está sendo gravada. Sobre as IAs generativas, João as vê como “mais uma ferramenta, mais uma possibilidade de timbre”. E acrescenta:

— Gosto da música feita por seres humanos, enquanto eles estiverem controlando a inteligência artificial, tudo bem.

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