Música
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Por — Rio de Janeiro

Entre 1967 e 2010, o Canecão fez jus à epígrafe do jornalista Ronaldo Bôscoli, que trazia estampada logo na sua entrada: “Aqui se escreve a história da música brasileira”. Por aquela casa de espetáculos, inicialmente concebida como uma cervejaria e fincada em naco nobre da Zona Sul do Rio, entre Botafogo e Urca, de fato passou boa parte da MPB, em shows que marcaram época, como “A 200km por hora” (Roberto Carlos, 1970), “Saudades do Brasil” (Elis Regina, 1980) e “Rádio Pirata” (RPM, 1986). Mas a memória dos envolvidos atesta que o Canecão foi bem mais que isso.

Empresário que trabalhou com o RPM, Steve Altit definiu o local como “a espinha dorsal do showbiz brasileiro”. Já Lobão, que fez lá em 1987 o seu vitorioso show “Vida bandida”, disse: “Depois do Canecão, a gente vendia o show para o Brasil inteiro num outro patamar”. São dois entre os mais de 50 depoimentos recolhidos até agora pelo diretor Bruno Levinson para “Canecão: tantas emoções”, documentário com produção de Clélia Bessa, com lançamento previsto para o início de 2024.

Dança entre escombros

Fechado desde 2010 após uma série de imbróglios judiciais com a UFRJ, dona do terreno, o Canecão hoje está em ruínas, que serão demolidas para dar lugar, em 2025, à nova versão da casa, administrada pelo consórcio Bônus-Klefer. Neste cenário, Levinson reuniu alguns dos muitos personagens que ajudaram a fazer a história do local.

Depois de uma faxina e de um carinhoso trabalho de cenografia, ali se reencontraram ao longo de uma semana, artistas, empresários, jornalistas e ex-funcionários para o que o diretor considera “a última produção cultural de fato” no Canecão original. Bruno lembra de uma das cenas que filmou na semana, em que Carlinhos de Jesus, revelado na casa em um show de Elba Ramalho, dança sozinho entre escombros.

— Quis um filme bonito, não apenas um documentário com pessoas falando — afirma Levinson.

Canecão: o diretor do documentário, Bruno Levinson, e Marcelo D2 — Foto: Divulgação
Canecão: o diretor do documentário, Bruno Levinson, e Marcelo D2 — Foto: Divulgação

Roteirista dos especiais de Natal de Roberto Carlos por oito anos seguidos, Bruno Levinson não embarcou no projeto por acaso. Foi no Canecão que ele viu o primeiro show da sua vida (de Roberto, por sinal) e lá que, em 2005, fez o último espetáculo do festival que criou e promoveu anos a fio, o Humaitá Pra Peixe. Mas nada o preparou para a torrente de memórias que a semana de gravações proporcionou:

— No meio do seu depoimento, a Alcione começou a cantar Maysa, a cantora que fez o primeiro grande show do Canecão (em 1969). Ela estava nesse show, já que cantava com a banda da casa.

Levinson também se emocionou com o reencontro entre Elymar Santos e Léa Penteado, antiga assessora de imprensa da casa. Cantor do subúrbio carioca, Elymar teve o lance de mestre de alugar o Canecão por uma noite, em 1985, e assim deslanchar sua carreira — mas não queria que ninguém soubesse disso.

— Ele queria que acreditassem que tinha sido convidado a cantar lá. Foi a Léa quem percebeu que dizer que ele tinha alugado o Canecão era um atrativo — conta o diretor.

Entre a série de depoimentos, há alguns dramáticos, como o do jornalista Bernardo Araujo, que teve uma parada cardiorrespiratória em 1992, quando skinheads soltaram uma bomba de gás lacrimogênio no show dos Ramones.

‘Um lugar com borodogó’

A convite da produção, o GLOBO assistiu a um dia de gravação de “Canecão: tantas emoções”. O grande evento, na ocasião, foi a roda de papo que reuniu alguns dos muitos astros do rock brasileiro dos anos 1980 que se apresentaram na casa: Frejat, Guto Goffi e Maurício Barros (Barão Vermelho), Evandro Mesquita e Billy Forghieri (Blitz), Leoni (Kid Abelha), Bruno Gouveia (Biquini Cavadão), Leo Jaime e Lobão.

— Aposto que ninguém de vocês vai lembrar, mas aqui já teve pista de patinação! — gabou-se Leo. — Estar aqui no Canecão era, de alguma forma, ter chegado lá. Daqui, você ia direto para se apresentar no Maracanãzinho.

Evandro Mesquita, que fez com a Blitz em 1983 no Canecão o antológico show do LP “Radiotividade” também trouxe boas memórias para a roda.

— Antes, era só Chico e Caetano, aí nós entramos! — conta ele, que chegou a pôr um carro de verdade no palco, no performático show do “Radioatividade”. — E, além do mais, o Canecão era o lugar onde o Dorival Caymmi vinha ver a gente!

Já Frejat admitiu: “demorou muito tempo para a nossa geração chegar ao Canecão, e quem abriu as portas foi a Blitz”. E recordou:

— O Canecão foi uma casa na Zona Sul com um tamanho que nenhuma outra tinha. E o cartaz era um outdoor que todo mundo no ônibus via. Nesse sentido, era uma apresentação. Além disso, tinha o palco, que foi construído na horizontal, e era baixo, o que deixou o público mais perto do artista e o artista mais perto do público.

Ex-empresária de Milton Nascimento (reunida pelo filme com Steve Altit, entre outros, numa roda de empresários de artistas que se apresentaram no local), Marilene Gondim resumiu o sentimento geral dos profissionais do showbiz :

— Era um lugar com borogodó, mais do que só uma casa de show. Mas nunca foi fácil trabalhar ali, porque era tudo muito informal — diz ela, acrescentando que em São Paulo havia até casas melhores. — Mas o Canecão transcendia o profissional, ele tinha aquela mística de que, apesar de pior, era melhor.

Bruno agora se divide entre a promoção de seu recém-lançado livro “Baseado em papos reais: Maconha”, a edição dos depoimentos e a busca por imagens de arquivo que mostrem que, antes das ruínas, houve um apogeu.

— Dentro daquele abandono, tem memórias muito fortes — diz o diretor.

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