Bruno Mars, o coroado — com Grammys e superlativos números no streaming — rei do soul retrô/moderno não se apresentava no Brasil há cinco anos, o que só aumentou a sede do público por ele. Num Skyline com gente pelo ladrão, tarde da noite no domingo, o havaiano veio rever seus súditos e já começou fazendo festa com "24K Magic" — o balanço funk de outras épocas parecia estender o show de Seu Jorge no The One, com Bruno (em visual Michael Jackson anos 70) cantando e riscando o salão com seus dançarinos. "Finesse", com seu sabor r&b oitentista deu prosseguimento ao baile. "Tô aqui, São Paulo!", anunciou o cantor, em português.
Nas duas primeiras músicas, uma falha na transmissão exibiu a apresentação sem o áudio no microfone, mas o público presente no Autódromo de Interlagos não sentiu o problema.
Sem chuva, o clima bom de "Treasure" não demorou a contagiar a pista/gramado/salão, que cantou junto e sacudiu os braços na maior felicidade. Tipo raro de artista que traz algo novo para o passado sem macular a tradição, Bruno Mars dá dignidade a um reggae mais contemporâneo como "Billionaire" e ainda tira onda fazendo solos de guitarra - é um entertainer que mete a mão na massa musical, canta, toca, compõe e ainda lidera banda. Bem como um certo irmão Jackson que ele imitava na infância.
As harmonias vocais e a guitarra absolutamente Prince de Bruno em "Calling all my lovelies" — na qual ele voltou ao português com o refrão "eu quero você, gatinha" (anunciando-se como o "Bruninho de São Paulo) — deram arrepios. "That's what I like" espantou qualquer possibilidade de trovoadas e "Versace on the floor" pôs à voz de Bruno em primeiro plano (e evocou a esquecida exuberância r&b dos 80) - tudo com uma banda dessas de fazer cair o queixo.
Teve de tudo a noite de Bruno Mars: o resgate de "It will rain", as good vibes de "Marry you", o rock rasgado de "Runaway baby" e uma sessão solo ao piano, lembrando "Fuck you" (de CeeLo Green, do qual foi um dos compositores), "Grenade", "Talking to the moon", "Nothing on you" ("os quatro acordes que mudaram a minha vida") e "Leave the door opened" (do seu mais recente projeto de gravação, o Silk Sonic). A música pop em seu esplendor.
"When I was your man" instalou na noite a mais fina sofrência (que bateu fundo na plateia) - o que só podia terminar num "Evidências" tocado pelo tecladista da banda, George Foster, em momento solo. Mas logo o show voltou ao agito com "Locked out of heaven", "Just the way you are" e o encerramento inevitável, como bis, do poderoso balanco "Uptown funk".
Sem fazer força, investir em telões bombásticos (apenas o essencial é elegante para fazer a música brilhar) ou trazer novidades em relação ao que apresentou ao Brasil em 2017, Bruno Mars fez o grande show até agora no The Town — aquele que todos queriam ver e que poderão ver novamente domingo que vem no The Town.