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Luísa Sonza, Billie Eilish e Anitta: bossas novíssimas — Foto: Arte sobre fotos de Agatha Gameiro e Maria Isabel Oliveira
Luísa Sonza, Billie Eilish e Anitta: bossas novíssimas — Foto: Arte sobre fotos de Agatha Gameiro e Maria Isabel Oliveira

Dia de luz, festa de sol, e “Chico” a desfilar por fones, alto-falantes e telas. O inescapável sucesso da gaúcha Luísa Sonza traz consigo a discussão: é, afinal, uma bossa nova? Indo além: como vai a bossa nova hoje?

— É uma levada de bossa nova no violão — diz Luísa sobre seu sucesso, numa chamada de vídeo. — Eu acho esse rótulo importante, sim. A gente tem que comemorar que uma bossa nova seja a música mais ouvida do país (foi a primeira vez que uma faixa do gênero chegou ao topo do Spotify nacional). Acho muito elitista as pessoas criticarem só porque é uma música minha. Quando Billie Eilish fez “Billie bossa nova”, ninguém falou nada.

Bem lembrado: seria a sussurrante cantora pop de Los Angeles (que lançou a música em seu disco “Happier than ever”, de 2021, como homenagem aos fãs brasileiros) uma herdeira do gênero? Em entrevista ao GLOBO publicada em 23 de março, Billie Eilish contou: “Sempre foi um som que me atraía, mas eu não sabia o nome até que em uma das minhas primeiras sessões (de estúdio) um produtor me mostrou e perguntou se eu sabia o que era. Eu disse “aaah, isso é bossa nova! Eu amo esse som, me dá mais”. E essa música foi uma ode à bossa nova, mas quase não nomeei daquele jeito porque não queria reivindicar, como se fosse para mim, sou só uma fã”.

Então quer dizer que o banquinho e violão estão vivos e passam bem?

— A bossa nova se renova, sempre foi assim — diz Marcos Valle, papa do gênero, em meio às comemorações de seus 80 anos. — A minha música mesmo já é de uma segunda geração, eu comecei em 1962, 63, quando o gênero tinha sido inaugurado em 1958 (com o disco “Canção do amor demais”, de Elizeth Cardoso, que reunia composições de Antônio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes e o violão de João Gilberto). Assim como nas minhas músicas, que misturam à bossa elementos de outros gêneros, como o samba, o rock e o soul, artistas como o meu saudoso amigo João Donato, a Joyce e outros são responsáveis pela renovação da bossa nova.

Cheio de moral no exterior — antes da festa dos 80 na última quinta-feira no Circo Voador, ele fez uma turnê por Japão e Europa, em julho e agosto —, Marcos também atribui a perenidade da bossa nova à sua internacionalização.

— Quando a bossa nova entrou nos Estados Unidos, ela interessou muito aos músicos de jazz, além dos intérpretes, porque tinha aquela batida diferente, que eles demoraram anos para dominar, as melodias simples e bonitas e uma imensa riqueza harmônica — conta ele. — Como caiu no gosto dos músicos, ela passou a influenciar muitas gerações deles, e está aí até hoje, de forma pura ou não.

Outro catedrático no assunto, Celso Fonseca, autor de pérolas da bossa moderna como “Slow motion bossa nova”, diz que o gênero está bem vivo.

— Acho que existe música boa e música ruim, e penso que hoje no mundo as pessoas seguem fazendo bossa nova, hip hop, rock, pop, e que a arte tem que ser inclassificável — avalia ele. — A principal característica da bossa nova é a delicadeza, e isso se ouve na música da Luísa Sonza. Num mundo tão sexualizado, você encontra uma música de amor, delicada. Bossa nova é isso.

Ele elogia “Chico” e não dá importância à discussão sobre seu rótulo, ou, como diz a letra de “Desafinado”, não insiste em classificá-la.

— É uma bobagem — diz. — Um amigo me mandou a música, eu ouvi e achei bacana, uma canção de amor, corajosa.

Celso Fonseca reitera que a bossa nova é uma influência na música mundial há 60 anos. Presente nessas seis décadas, Marcos Valle também elogia a canção “Chico”, mas acha que não cabe a chancela do gênero, mais adequada à canção gravada por Anitta, além de muitas outras.

— Ouvi a música, que é legal, mas acho que, prestando atenção no violão, ali não tem uma batida de bossa nova — diz o autor de “Samba de verão”. — Acho que ela caminha mais para a toada, aquele (faz o som da levada do violão) bom bom, ti bom bom, principalmente na segunda batida. Acho que naquela música da Anitta (“Girl from Rio”, que usa sample de “Garota de Ipanema”), sim, a gente ouve a bossa nova, e em muitas outras composições do pop, do funk, do hip-hop, que usam a tecnologia para ouvir os clássicos e samplear trechos.

Leo Jaime, roqueiro — como os Pixies, que fizeram uma homenagem com o nome do disco “Bossanova”, de 1990, e Kirk Hammett, guitarrista do Metallica que puxou o “Samba de uma nota só” no meio da barulheira de um show da banda no Rock in Rio —, que dança e sapateia por gêneros musicais diversos, vê mais influência e menos bossa na canção da cantora gaúcha.

— “Chico” é tão bossa nova quanto “You are the sunshine of my life”, de Stevie Wonder, ou a versão da Adele para “Love song”, do Cure — define. — A bossa é uma influência evidente, mas não acho que precise ser enquadrada, ou que tenha problema se for chamada de bossa nova. O arranjo ficou muito bom, por sinal. A forma como ela canta me soa mais como um fado. Uma bela música, e uma boa polêmica, o que lhe dá mais visibilidade.

Sem dancinha é mais difícil

O roqueiro não vê a bossa nova tão viva quanto Marcos Valle e Celso Fonseca.

— Acho que qualquer gênero musical que não tenha uma dança ligada a si está fadado a ficar cada vez menos popular — diz ele. — Claro que sem jamais tirar valor histórico, a sofisticação harmônica e melódica da bossa nova.

Por não ser acompanhada por uma dança, diferentemente de colegas como o jazz, o rock, o tango e o forró, ele acha que a bossa nova acaba sendo menos difundida.

— Regravar os clássicos é normal, acontece com todos os estilos musicais — diz ele. — E a influência da bossa está em muitos artistas, inclusive jovens como a Adele e a Luísa Sonza. Tem gente fazendo, claro, mas acho que é um nicho cada vez menor.

Quem sabe até o apagar da velha chama.

*Especial para O GLOBO

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