Música
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Por — Rio de Janeiro

Entre as muitas pessoas horrorizadas com o ataque terrorista do grupo islâmico Hamas, no último sábado, ao festival de música eletrônica Universo Paralello, no sul de Israel (que deixou mais de 260 mortos, entre os quais dois brasileiros), uma delas tinha razão específica para ficar perplexa: o cineasta israelense Roee Finzi, de 42 anos.

Há dois anos, ele lançou a série documental “Free people”, que mostra a luta de mais de 30 anos de jovens do país — contra a polícia, o governo e setores conservadores da sociedade — pelo direito de fazer festas animadas pelo trance, subgênero da música eletrônica que atualizou experiências sensoriais (com música e substâncias químicas) dos hippies.

Em meio à Shiva — o luto de sete dias, tradicional do judaísmo — na casa de um amigo, cujo filho havia morrido no ataque ao Universo Paralello, Roee falou ao GLOBO, por Zoom, sobre os seus sentimentos acerca da matança, que pôs a música eletrônica de Israel (país famoso por suas raves e por astros mundiais do trance, como as duplas Skazi e Infected Mushroom) de forma trágica no noticiário internacional.

— O pai do rapaz que morreu é um DJ muito conhecidos aqui em Israel, e ele era seu filho mais velho: um DJ em início de carreira, que tinha apenas 20 anos e infelizmente estava naquela festa — lamenta o cineasta. — A sociedade israelense, como um todo, está de luto, e em estado de choque. É um trauma coletivo, mesmo para as pessoas que não tenham sido ameaçadas ou tido pessoas próximas mortas. Você pode sentir isso no ar.

Ao contrário do que costuma acontecer em Israel, segundo Roee, o Universo Paralello (criado no Brasil pelo pai do DJ Alok, o também DJ Juarez Petrillo, que ia tocar do dia do ataque) era um grande festival, autorizado pela polícia e protegido pelos militares. O comum, diz, é que as festas de trance em Israel sejam “pequenas, ilegais”. A trágica novidade, neste caso, foi a intervenção do Hamas.

— (O Hamas) sabia que haveria uma grande reunião de pessoas naquele lugar, então, obviamente, para eles era um excelente alvo. Mas não consigo imaginar que eles tenham pensado em quem eram aquelas pessoas ou o que estavam fazendo lá. Eram pessoas boas, gentis e amorosas, que distribuíam flores e oravam por um futuro melhor. Se você pensar sob essa perspectiva, é realmente inacreditável — divaga ele, para quem “não é uma ideia sensata fazer uma festa tão perto da fronteira (com Gaza)”.

Contra o establishment

Como mostra Roee Finzi em “Free people”, “se você faz parte do movimento trance, geralmente você é anti-sistema e anti-establishment”:

— Isso é algo enraizado nesta cultura. Ser uma pessoa trance significa que você não gosta do governo, que você é uma pessoa da anarquia, que não vota no establishment. O trance vem da psicodelia, são apenas pessoas sorridentes, sem brigas, ninguém tem nenhuma aparência ameaçadora, é tudo muito harmônico.

O que não impede que a cena também se envolva em lutas políticas: em 1998, mais de 30 mil pessoas se reuniram na Praça Rabin, em Tel Aviv, num protesto conhecido como Give Trance a Chance, no qual reivindicaram o fim das ações policiais em suas festas sob o pretexto de guerra às drogas.

— O estado de Israel, em geral, não queria aceitar que essa cultura fosse mantida dentro de suas fronteiras. As pessoas do trance sempre foram difamadas e xingadas, um alvo da polícia. Isso é o que minha série conta.

O cineasta diz que, cada vez mais, o país vive uma tensão entre os que querem uma sociedade moderna, alinhada com o Ocidente, e os que querem fazer de Israel “um estado bíblico, muito conservador”.

— O que está acontecendo agora é um embate entre conceitos acerca do que é liberdade. Para mim, poder dançar ao ar livre com meus amigos sem machucar ninguém é a expressão máxima da liberdade. Mas muitas pessoas veem isso como algo que não deveria ser permitido.

Para o diretor (que prepara um novo filme, “Truth”, com questionamentos filosóficos acerca da noção de verdade, tão abalada em tempos de fake news), o trance é “uma música muito emocional, que leva para o mundo um pouco da nossa alma como país”.

— Mesmo que não tenhamos um grande equipamento de som ou mesmo eletricidade, você verá um grupo se reunindo e um cara tocando o tambor porque precisamos da dança, do movimento, da reunião, da celebração, do ritmo. Isso sempre estará lá — diz Roee. — Quanto ao estado de Israel, não sei se ele estará sempre por aqui. Se for inteligente e souber tirar-nos desta situação horrível, talvez tenha um futuro. Mas está tudo tão caótico que eu não consigo imaginar como vai acabar. Só sei que as festas, nós as teremos para sempre.

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